MULHER RENDEIRA - CAPÍTULO I
Todos os dias, a mulher rendeira acordava a família com a batida dos bilros. Estamos falando de uma das mulheres mais famosas da Ilha do Diamante: Lourdes Maria, que dispensa apresentação! Pois como ela mesma diz: "Quem não me conhece, que me compre!" Vivia da renda e de muitos bicos que fazia na comunidade.
Respeitada por todos, principalmente por sua arte com os bilros, sentava em uma almofada enchida por algodão e coberta por tecido com cor amarela, sua preferida. E pense como ficava aborrecida com as peraltices de Maria da Glória, sua neta, quando retirava a sua almofada, que era a base para a sua criação, e que devia ficar apoiada num material de madeira para o manuseio! Era cada grito, que se ouvia do Diabar, o bar mais frequentado da Ilha!
As rendas que Lourdes Maria produzia, ganhava o mundo! Fosse pela beleza, baixo custo ou por sua criatividade ao produzir, baseada em tipos como Alençon, Renascença, Chantilly, Richelieu, Francesa, Guipir… Não importava, ela sempre dava um show de criatividade, o que a consagrava como a melhor da comunidade.
A idade de Lourdes Maria pouca gente sabia. Nunca fazia festas comemorativas pela passagem de ano. Nem um bolinho! Ela costuma contar muitas histórias e, uma delas é que foram os faraós quem primeiro usaram um pano de linho para, com fios coloridos, explorarem as formas geométricas. Ela também dizia que a renda servia para destacar a elegância das mulheres, embora tenha começados destacando a dos homens, quando restringia-se aos mantos do clero e da realeza.
Lourdes Maria gostava de discursar, mas nem sempre tinha público, exceto Xana, a tartaruga, pra quem contava que nos séculos XVII e XVIII a renda servia para enfeitar os cabelos, a babados, aventais e adornos de vestidos. Mas as patentes só saíram na Inglaterra a partir de 1758.
No Brasil, a família real portuguesa trouxe a renda de bilros e ela se tornou a ocupação de freiras em conventos que teciam alfaias para os altares das igrejas. Depois que chegou ao Nordeste, a técnica foi passada de mãe para filha, sendo uma tradição até hoje. E os filhos da viúva Lourdes Maria só usavam roupas de renda, apesar de não gostarem. Sem contar a presença da renda pela casa toda! É renda demais! Exclamou Glorinha.
Tudo ia bem! Quando apareceu na Ilha um casal, demonstrando interesse nas produções criativas de Lourdes Maria.