LEONEL VII - SÁBIA DOUTRINA, SANTA FILOSOFIA! - CAPÍTULO 10
CAPÍTULO X – SÁBIA DOUTRINA, SANTA FILOSOFIA!
Cristina levou Leonel para seu quarto para que ele contasse a ela tudo que estava acontecendo com ele desde que saiu de casa.
Logo que entrou no quarto, ele aproximou-se do piano e deslizou a mão sobre ele.
- Me conta... O Floyd conseguiu refazer a banda de vocês?
- Conseguiu. O novo baterista é muito legal.
- É jovem, como vocês?
- É... Mais ou menos. Ele deve ter uns... trinta anos, mas tem cabeça de garotão. Ele é um amigo dele de Diadema. Gente fina.
Leonel sentou-se ao piano e levantou a tampa, dedilhando algumas notas sem intenção de nada. Olhou para o retrato do avô.
- Eu toquei “Gilda” lá... sem partitura, tia...
Ela sorriu e aproximou-se do piano, apoiando-se nele de frente para o sobrinho.
- Nem sei como consegui. Quando vi, estava tocando...
- Gostaram?
- Muito. Leo Torres vai fazer sucesso póstumo... pelas minhas mãos, depois de tantos anos.
- Você não sabe como eu fico feliz com isso, meu anjo.
Ele começou a tocar a canção e ela ouviu, com os olhos já se enchendo de água. Sentiu saudade de muita coisa: da mãe, do pai, de seus dezesseis anos, quando tinha conhecido Leo Torres naquele quarto e de repente deu-se conta de que ele estava ali diante dela. Enxugou o rosto e resolveu falar de outro assunto.
- Você disse que o Floyd tem uma irmã...
Ele parou de tocar e viu os olhos dela molhados.
- Você está chorando...
Ela enxugou o rosto e sorriu sem saber o que dizer.
- Desculpa, tia... Também senti saudade dela enquanto tocava...
- Não foi nada. Saudade boa. Gostosa de sentir. Mas me fala da filha do Ted.
- Ela é linda. Linda como você era... quando eu era Leo Torres.
- Como assim?
- Ela é filha do Teodoro Fontes com uma mulher de origem oriental. A mãe dela era japonesa. Ele também traiu a mãe do Floyd com a mãe dela.
Cristina balançou a cabeça levemente e suspirou, lamentando.
- Não imaginei que ele fosse tão superficial. Só eu não via isso. Pra mim ele era o rapaz mais lindo e perfeito da escola.
- É, ele... ainda é um cara bem estiloso, sim... O homem é um galã balzaquiano agora. Mas você não sabe do que se livrou. É o cara mais... sem noção que eu já conheci!
- E ela? Herdou alguma coisa do pai?
Leonel riu e balançou a cabeça negando.
- Não, só o dinheiro. Como o Floyd, a Vitória é o avesso dele. Nissei, cabelos longos e pretos, uma boneca de dezenove anos com cabeça de trinta.
- Vitória... Lindo nome.
- A gente está namorando, ele disse, medindo a reação da tia.
Ela olhou para ele rapidamente, surpresa, mas acabou por sorrir.
- Namorando?
- Tudo bem pra você?
- Por que não estaria? Você tem que seguir sua vida. Tem que se desligar da maluca da Helena. Fez bem. Está andando pra frente.
- Isso é sério ou é só... da boca pra fora?
- Tem como ser diferente?
- Não...
Ele baixou de novo os olhos para o piano e começou a tocar “Cristina” do Roupa Nova. Ela sorriu e disse:
- Obrigada pela homenagem. Adoro essa música! Pena que não foi feita pra mim. A Cristina, mulher do Serginho, chegou primeiro no coração dele...
- Ninguém é perfeito... Pelo menos te fiz sorrir. Que bom!
- Você vai dormir aqui?
- Vou... Quero ver como a Helena se comporta depois da nossa conversa. Se ficou na mesma ou se... consegui colocar alguma coisa na cabeça dela.
- Que argumento você usou pra fazê-la mudar de ideia, na vontade de tirar o filho?
- Ninguém tem um argumento certo pra isso, Cris, a não ser dizer que é errado, é crime! Eu estou na terra do médium Chico Xavier e lá ele é muito reverenciado. Há vários artigos e revistas sobre ele e sua doutrina, seus ensinamentos, sua filosofia... Eu li numa delas uma frase que diz mais ou menos assim: “Se permitimos que uma mãe mate seu filho ainda no ventre, como podemos evitar que as pessoas se matem umas às outras?”.
- Lindo... A mais pura verdade.
- Eu trouxe essa revista na mochila. Vou dar pra ela.
- Não, não faz isso não, Leo. Deixa comigo ou com o Leandro. Ela é capaz de rasgar.
- É, pode ser...
- Ela é um perigo até pra ela mesmo, imagine pra essa criança...
- Eu disse pra ela que, se ela fez esse bebê enquanto transava com o pai dele pra me fazer ciúme, pensando em mim... ele é meu também, e eu me sinto muito responsável por essa criança, tia. Ela não pode fazer isso.
Cristina aproximou-se dele e o abraçou.
- Vamos esperar que ela pense sobre isso e mude de ideia...
Ele se abraçou com a tia e ficou pensativo. Depois de algum tempo disse:
- É meu tio-avô que está vindo aí, tia...
Cristina se afastou e olhou para ele.
- O quê?
- O irmão do Leo Torres... que morreu com quinze anos... num acidente na linha do trem...
- Quem... te disse isso?
- O Floyd...
- E você... acredita nisso?
- Parei de desconfiar nas coisas que ele me diz há muito tempo, tia...
Ela se abraçou a ele de novo e suspirou:
- Jesus... Filho do Samuel... nascendo dele de novo...
LEONEL (REENCARNAÇÃO) VII – CAPÍTULO 11
“SÁBIA DOUTRINA, SANTA FILOSOFIA!”
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE MIM UM INSTRUMENTO DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE EU ME APARTE DE VÓS
OBRIGADA!