LEONEL V - CABELOS DE BONECA - CAPÍTULO 11
CAPÍTULO XI – CABELOS DE BONECA
- Meu irmão é uma pessoa muito bonita, equilibrada, justa, disse Vitória. - O Floyd não entraria nessa por simples promiscuidade. Deve ter tido seus motivos pra se aproximar e se envolver com o cara como esse Gil.
Leonel ficou em silêncio. No fundo sabia que o motivo era ele mesmo.
- Não sei se ele gostava do Gil de verdade, mas precisava dele e queria ajudá-lo de alguma forma também. Eles juntaram as carências e deu certo. Mas acho que tão cedo, depois da morte do Gil, ele não entra noutra.
- Também acho... ele disse.
- Desde quando você toca piano?
Leonel sorriu com a rapidez com que ela mudou de assunto.
- Acho que... desde antes de nascer, ele respondeu, sorrindo. – Na minha casa tem um piano no quarto da irmã do meu pai que foi... do meu avô, pai do meu pai. Desde pequeno eu já martelava nele e enchia o saco de todo mundo em casa. Comecei a tocar de ouvido, com sete anos, ouvindo as fitas das composições escritas por ele que minha tia tem e peguei gosto. Faço faculdade de Música agora pra me aprimorar, mas eu gosto do piano como se... fosse a minha vida há séculos...
- Seu avô compunha?
- Coisas muito lindas.
- A gente tem um piano no estúdio do meu pai. Toca alguma coisa pra mim?
- Depois...
- Você toca teclado também?
- Toco, mas o Floyd nunca quis. Ele acha que tecnologia tira a sensibilidade e originalidade da música. E eu concordo.
- Também concordo... Elton John tem canções lindíssimas ao piano que dão um banho em Beethoven e Bach. Algumas nada comerciais, com mais de sete minutos...
- Eu sei. Conheço algumas... “Tonight” é maravilhosa!
- Mas o teclado economiza músicos.
- E tira o emprego deles.
Os dois riram.
- Você toca algum instrumento? – ele perguntou para ela.
- Guitarra.
- Guitarra? Poxa! O que você não sabe?
Ela dobrou as pernas, abraçando os joelhos e o apoiando o queixo neles e disse:
- O que está fazendo sozinho um homem com olhos tão bonitos.
Leonel ficou lisonjeado e ao mesmo tempo encabulado.
- Você não tem papas na língua, não é?
- Ninguém nessa casa tem. A gente tem brigas homéricas de vez em quando por causa disso. Estou pra te fazer esse elogio desde que soube que você não era caso do Floyd. Só não quis ser tão direta. Sua mãe tem olhos verdes?
- Não tinha. Ela já morreu... Meu pai tem olhos verdes. Herança da minha vó paterna.
- Então isso vai longe...
Ele sorriu. Estendeu o braço e tocou seus cabelos, sentindo-os entre os dedos. Eram grossos e fortes.
- Como cabelos de boneca... Estava doido pra tocar desde que te vi pela primeira vez.
- Herança da minha mãe. Também, além dos olhos, acho que é a única coisa japonesa que eu tenho, ela disse, também sorrindo.
Leonel riu. Seus dedos tocaram o rosto dela e deslizaram por ele suavemente.
- Você acredita em... amor à primeira vista?
- Não... ela respondeu, baixinho.
Os dedos deles tocaram os lábios dela.
- Nem eu...
E Leonel aproximou o rosto do dela e a beijou. Vitória retribuiu, mas quando ele se afastou dela, lembrou-se de Helena e se arrependeu. Ficou sério.
- O que foi? – ela perguntou.
- Nada... Desculpe. Eu devo estar confundindo as coisas. Me perdoe, por favor, Vitória. Acho que... eu vou ver onde o Floyd está...
Ele se levantou, mas a moça segurou sua mão.
- Espera... Tem alguma coisa a ver com meu irmão, você ter parado de me beijar?
- Não! Já disse que não tenho nada com ele. É outra coisa... Outra pessoa... que eu perdi há pouco tempo. Me desculpe.
Ele afastou-se e entrou. Procurou Floyd pela casa, mas não o encontrou nem no quarto dele. Desistiu e foi para o seu. Talvez o amigo tivesse saído, sem avisar.
LEONEL (REENCARNAÇÃO) V – CAPÍTULO 11
“CABELOS DE BONECA”
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE MIM UM INSTRUMENTO DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE EU ME APARTE DE VÓS
BOA TARDE E OBRIGADA!