LEONEL IV - DESENTENDIMENTO - CAPÍTULO 1
CAPÍTULO I – DESENTENDIMENTO
Carlos Lima Sampaio cruzou os dedos das mãos sobre a mesa e falou com cautela:
- Leonel, na carta, o Gilberto acusa... seu irmão de ter dado dinheiro aos dois homens para atacarem você.
Floyd fechou os olhos. Aquilo era o que ele menos queria que acontecesse, mas não se pode mudar o destino. Leonel ficou atônito.
- O quê?
Sampaio entregou a ele o bilhete e o rapaz o leu. Ao final, Leonel olhou para Floyd e perguntou:
- Você sabia disso?
Floyd não respondeu, mas seu silêncio dizia tudo.
- Eu não posso acreditar nisso! Deve haver algum engano, doutor Sampaio. Meu irmão é um pouco rebelde, um adolescente meio chato, briga muito comigo, mas... ele não teria coragem de fazer isso.
- É isso que vamos investigar. Ele é menor, não é?
- É! Mais um motivo pra impossibilidade de ele ter feito isso! Ele não trabalha, só estuda. Está fazendo o terceiro ano do colegial! Vive da mesada que o meu pai dá pra ele. Onde ele arrumaria dinheiro pra pagar esse tipo de marginal?
- Não sei, como eu lhe disse, vamos investigar. Me vem à lembrança o que você disse ao doutor Xavier, seu médico, logo que acordou no hospital, que quem tinha planejado matá-lo tinha sido seu pai. Você se lembra disso?
Leonel pensou por um momento e passou a mão pelo rosto.
- Meu pai não faria uma coisa dessas, delegado. Ele é o homem mais íntegro que eu conheço.
- Pois bem... Eu já conversei com seu pai e ele vai ter que comparecer aqui com seu irmão amanhã cedo pra dar alguns depoimentos. E o senhor, senhor... Teodoro Fontes, não saia da cidade sem avisar. O senhor vai ser indiciado também. Não tente nada engraçado ou suspeito. Mandaremos a intimação ao seo Bruno Marques ainda hoje à tarde, embora ele já esteja a par do fato. Vocês estão liberados.
Os dois rapazes saíram da delegacia em silêncio.
Floyd, porque tinha uma ideia do que Leonel estava sentindo; Leonel, porque não sabia como expressar sua indignação em palavras.
Ao chegarem perto da moto, Leonel apanhou o capacete e perguntou:
- Quer que eu te leve na casa do Caio?
Floyd ficou olhando para ele e respondeu:
- Não... Eu pego um táxi... ou vou a pé, não é tão longe. Você vai ficar bem?
- Não sei... Já não sei em quem confiar... nem sei se confio mais em você.
- Em mim? Mas o que foi que eu fiz?
- Você não me contou sobre o Leandro. O Gil deve ter dito alguma coisa pra você e você não me disse nada! Não sei mais em que chão eu estou pisando.
- Eu sou seu amigo. Aceitando você ou não. Você tem que acreditar nisso e... você mesmo disse que sabia que ele tinha aprontado pra cima de você. Eu não disse nada a você porque você já sabia...
- Eu?! – Leonel interrompeu. - Como eu posso ter dito uma coisa tão absurda, Floyd?
- No hospital, logo que acordou...
Leonel deu alguns passos para longe dele e respirou fundo, tentando controlar-se. Depois voltou-se e falou:
- Você está querendo me deixar louco. Acho melhor a gente ficar um tempo sem se ver. Quem não está bem da cabeça é você. Eu nunca pensaria uma coisa dessas do meu irmão!
- O Leandro te odeia, Leonel, e você sabe disso.
- Rixa normal de irmão, Floyd! Atentado faz a coisa ir pra outro patamar! Você tem noção da gravidade disso?
- Tenho! E foi por isso que você me chamou no hospital. Você me pediu ajuda...
- E você não fez nada! Só mentiu pra mim! Acho melhor eu ir embora.
Ele subiu na moto, colocou o capacete e afastou-se.
Floyd ficou olhando-o se afastar, sem saber se tinha agido bem ou não. Lamentaria muito perder a amizade de Leonel. Ele era realmente seu melhor amigo e ainda ia precisar de sua ajuda.
Não foi para o ponto de táxi. Resolveu ir a pé para a casa de Caio. Estava arrasado e chorou por todo o caminho. Já tinha perdido Gil e perder a amizade de Leonel seria inconcebível.
Caio tinha dezenove anos e tocava baixo na banda desde seu início. Era um bom rapaz e tinha recebido Floyd em seu apartamento com alegria, depois de sua briga com Gil, pois gostava muito dele.
Quando chegou ao apartamento de Caio, o rapaz estava esperando por ele, ansioso. Floyd havia saído de casa de manhã, antes de ele acordar e não tinha dito aonde ia.
- Ei, cara, você saiu sem nem deixar um bilhete! Estava super preocupado! Ligaram pra cá da delegacia...
- Eu já estive lá, Floyd disse, desanimado, jogando a chave do apartamento na mesa de centro e desabando numa poltrona.
- Soube do Gil?
- Soube... ele disse, apoiando o rosto nas mãos. – Overdose de cocaína... por minha causa... Eu não sei como eu vou conviver com isso...
Caio sentou-se no sofá, profundamente preocupado com ele.
- Você estava chorando? Não imaginei que o Gil fosse tão importante pra você...
- O Gil era, mas o Leonel é mais... Ele saiu da delegacia bolado comigo.
- Que barra, cara... Sinto muito.
- Eu estava na casa dele quando ligaram pra lá. Fomos juntos à delegacia.
- Como ele reagiu quando soube do Leandro?
- Ficou meio tonto... mas também ficou magoado comigo por não ter dito a ele antes.
- Você disse que já sabia?
- Não podia mentir pra ele, podia?
- Você vai acabar sendo indiciado como cúmplice nessa confusão...
- Já fui... ele disse, esfregando os olhos.
- Meu Deus! Que rolo! Ser acusado de cumplicidade num troço desses é muita dor de cabeça...
Floyd deu uma risadinha triste e se levantou.
- Vou tomar um banho.
- Está com fome?
- Não... Queria sair do país, mas no momento eu não posso nem sair de Serra Negra! Caramba! Queria morrer e nascer de novo na África!
Floyd passou pela cortina que separava a sala do corredor que levava ao banheiro. Caio sorriu e balançou a cabeça.
- Vou arrumar alguma coisa pra gente comer.
- Tem cicuta? Vou imitar o Gil! – Floyd gritou.
- Coca serve? – Caio perguntou, brincando.
- Serve, três carreiras, com uma dose dupla de conhaque! O Gil foi bem esperto. De burro ele não tinha nada!
LEONEL (REENCARNAÇÃO) IV – CAPÍTULO 1
“DESENTENDIMENTO”
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
POR SUA PIEDADE, ENSINA-ME A SER PIEDOSO...
POR SEU AMOR, ENSINA-ME A AMAR SEM RESERVAS...
E PELAS BÊNÇÃOS!
NÃO PERMITA QUE EU ME APARTE DE VÓS
BOM DIA E OBRIGADA!