Gian Diep (prólogo)
- Já anoiteceu e mesmo com esse toque de recolher inútil hoje eu vou sair. A sensação de prisão que esse clima de quarentena traz é ridícula e fatigante.
Foi o que pensou Gian Diep no vigésimo dia de quarentena por causa de uma pandemia mundial que aterrorizava até as grande potências do planeta. pouco se sabia sobre o vírus mas o pânico era geral e a ordem das autoridades é para que todos ficassem em casa, todos os postos de trabalho estavam fechados, só farmácias, açougues e supermercados podiam funcionar, e tinha um apelo geral para que as pessoas tivessem atenção redobrada com a higiene para evitar transmissão.
Assim que escureceu ele ficou apreensivo querendo sair de casa e respirar o ar puro das praças, sentar nos bancos frios de cimento dos canteiros nas avenidas. e fazer o que mais o interessava, que era observar. Observava tudo em sua volta, pessoas, seus comportamentos e costumes, suas expressões e reações a cada situação em que se metiam, observava seus modos suas manias buscava justificar suas causas e entender seus motivos, quase sempre acertava em cheio com suas deduções para cada um de seus analisados.
Com esse vírus se espalhando rápida e perigosamente, poucas pessoas transitavam pelas ruas durante o dia. mesmo naquelas que costumavam ser as mais movimentadas. quando caía a noite tudo era deserto e vazio. poucos carros passavam cortando o asfalto limpo e bem iluminado pelas luzes incandescentes dos postes de iluminação pública. Isso tudo tornava mais difícil a ação de Gian Diep. com as ruas cheias e movimentadas era sempre um prato cheio para estudar as pessoas e deduzir suas situações e destinos, mas todos estavam trancados, presos em suas próprias casas por ordem do governo, e por recomendação da OMS.
O Único jeito de encontrar alguém interessante para observar era sair e procurar pelo bairro. nos cinco primeiros dias ele perambulou pelo bairro, observando as casas os prédios e pontos comerciais que formavam cada rua e viela daquele pequeno bairro. já havia desenhado mapas e situado cada casa e prédio que havia por lá. começou pelo seu próprio condomínio, o que o fez ficar bem no centro do mapa. um condomínio com 4 torres de 10 andares, seu apartamento ficava no oitavo andar da torre número dois, a da direita, que ficava de frente para a escola.
Da sua janela ele conseguia observar os alunos ao chegar de manhã, Não os via sair pois fazia questão de almoçar exatamente ao meio dia, ele o fazia assistindo o bom jornalismo policial que que era gravado na emissora que ficava no final da rua da farmácia. contudo conseguia ver a chegada e saída dos alunos do turno vespertino e noturno.
Estavam pendurados na cadeira da sala; seus binóculos uma boina verde musgo surrada, mas que lhe dava uma aparência de mais velho e um guarda chuva. Em cima da mesinha estava seu livro velho de geografia que usava pra disfarçar sempre estava espreitando alguém, sua garrafa de água e um cortador de unhas cromado que tinha varias utilidades desde abrir garrafas até girar parafusos de fenda.
atento e pontual ele se apressa para sair antes da troca de turno dos porteiros, pois não gosta de que o mesmo saiba por quanto tempo ele esteve fora de casa.