LEO IV - NASCIMENTO - CAP. 3

CAPÍTULO III – NASCIMENTO

Certa tarde, um mês depois, Leo ia descendo as escadas para sair e viu o pai ao telefone muito agitado, numa conversa que ele não conseguiu descobrir com quem era.

- Eu já estava indo pra lá... Não, não se preocupe, estou indo. Tenha calma.

Samuel desligou o telefone, apanhou o casaco e ia saindo quando Leo perguntou:

- O que aconteceu?

Samuel só olhou para ele por alguns segundos, mas não respondeu, saindo sem dar satisfação. Leo estranhou, mas deu de ombros e saiu logo atrás. Chegou a ver o pai tirar o carro da garagem e sair em uma velocidade que não lhe era costumeira. Sorriu espantado.

- Maravilha! O homem ainda consegue fazer milagres no volante, apesar da esclerose.

Saiu também e voltou quase ao anoitecer. Samuel ainda não tinha voltado. Apanhou uma bebida no bar, depois subiu, desfazendo o nó da gravata. No quarto, jogou o paletó e a gravata sobre a cama. Olhou para seu quadro na parede e lembrou-se de Gilda. Teve a nítida sensação que a qualquer momento seu filho nasceria e ele não estaria perto para vê-lo. Olhou para o telefone e pensou em ligar para ela. Sentou-se na cama, olhando para o aparelho, mas a ideia logo lhe pareceu absurda demais. E se Haroldo atendesse?

Tomou um gole de uísque e procurou não pensar mais naquilo. O telefone tocou. Leo olhou para ele e sorriu. Seria ela? Atendeu:

- Alô!

- Leo? É o Tiago.

- Oi, respondeu ele, desapontado.

- Soube da Gilda?

- Saber o quê?

- Ela está no hospital desde hoje cedo. Não está bem, não.

Leo empalideceu.

- O quê?

- Pensei que você já soubesse. Seu pai está lá.

- Como você soube disso? Quem te contou?

- Esqueceu que a minha garota trabalha lá? Ela ligou pra mim pra eu falar pra você. Disse que a Gilda corre o risco de perder a criança...

Leo não esperou mais nada. Desligou o telefone e correu para o carro e para o hospital da cidade.

Samuel, Haroldo e dona Julia estavam na sala de espera quando ele chegou. Os três ergueram-se ao vê-lo.

- O que é que você está fazendo aqui? – perguntou Samuel.

Leo fez que não ouviu. Olhou para Haroldo e perguntou:

- Como é que ela está?

- Não sabemos ainda. Estamos esperando o médico. Ele está com ela e o doutor Alcântara. Parece que houve complicações e... bem, é... coisa normal num parto de primeira gravidez...

- Normal? Toda complicação é anormal! Que é que está acontecendo com a Gilda, Haroldo?!

- Leo, por favor, controle-se, pediu dona Júlia. – Pela Gilda, controle-se!

Ele olhou para ela e obedeceu. Sentou-se no sofá e cobriu o rosto com as mãos, nervoso.

Alcântara apareceu meia hora depois e assustou-se ao vê-lo ali.

- O que é você veio fazer aqui?

- O senhor não quer que eu diga, quer?

- Vá embora daqui!

- Doutor, ele não está fazendo nada, disse Haroldo. – Está tão preocupado quanto nós. Como é que ela está?

- O Campos vai ter que fazer uma... cesariana. Primeiro filho sempre dá trabalho, mas esse quase matou minha filha, ele disse, olhando para Leo. – Ela não quis fazer o pré-natal como eu aconselhei. Isso já foi muito errado. Mas ela já não corre tanto perigo, agora. Vai ficar tudo bem.

Todos respiraram aliviados. Leo afastou-se e saiu, indo para o carro. Haroldo o seguiu. Encontrou-o encostado no carro, fumando nervoso e chorando.

- Você ouviu, vai ficar tudo bem...

O rapaz voltou-se para ele, olhando-o com ódio.

- Você me roubou tudo! Tudo! Até meu direito de estar lá dentro sofrendo com ela, do lado dela!

Haroldo calou-se.

- Meu filho está nascendo sozinho sem mim lá dentro e eu não vou ser o primeiro a vê-lo! Você me tomou a única coisa que valia a pena pra mim em muitos anos, depois da morte da Cristina e da minha mãe! Eu não vou te perdoar nunca, Haroldo! Nunca, ouviu bem?

- Leo...

- Só não armei uma guerra com você ainda porque ela estava grávida e precisava de calma pra gerar e cuidar do meu filho. Mas quando ele sair da barriga dela, eu vou acabar com você, Haroldo. Vou te roubar cada minuto de paz que você conseguir ter nessa vidinha medíocre que você leva. Vou fazer da sua vida um inferno! A Gilda não pode mais ser minha, mas meu filho não vai chamar você de pai! Não vai! Está me ouvindo? Não vai! Eu mato você primeiro.

Haroldo continuou calado. Dizer o quê?

- Agora some da minha frente e vá cuidar dela! É a sua obrigação, idiota! Ela está precisando de você!

LEO IV – CAPÍTULO 3

“NASCIMENTO”

OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!

PELA PIEDADE, PELO AMOR E PELAS BÊNÇÃOS!

CONTINUE NOS PROTEGENDO

COM SEU ESCUDO DE MISERICÓRDIA!

BOM DIA E OBRIGADA!

Velucy
Enviado por Velucy em 05/07/2020
Reeditado em 07/07/2020
Código do texto: T6996475
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