LEO II - MUDANÇA - CAPÍTULO 15
CAPÍTULO XV – MUDANÇA
Meia hora depois, a campainha tocou e Leo fez que não ouviu. Depois de cinco ou seis toques, o silêncio. Algum tempo se passou e a porta do quarto se abriu. Haroldo apareceu.
- Ô, cara, você deixa a porta aberta e ainda se dá ao luxo de não atender a campainha? Não acredita em assalto, não? Posso entrar?
- Já está dentro...
O rapaz entrou e fechou a porta.
- O que aconteceu? Você sumiu.
- Sentiu saudade? – Leo perguntou sorrindo, na mesma posição.
Haroldo percebeu em Leo uma mudança visível. Os olhos dele tinha perdido muito da arrogância e da juventude anteriores; estavam ainda mais tristes e ao mesmo tempo mais agressivos.
- Cara, você está doente? Vim outras vezes aqui e seu pai me dizia que você estava dormindo, que não queria receber ninguém. Ele mentiu?
- Não.
Haroldo sentou-se à beira da cama.
- Desistiu da Gilda?
- Eu te disse que vou me encontrar com ela amanhã na escola. Você não deu meu recado?
- Dei e entreguei a foto também, mas acontece que ela ficou muito preocupada com você depois daquele dia e anda triste, chorando pelos cantos. A Gilda se apaixonou por você de verdade, Leo, e você fica uma semana longe sem dar nenhuma satisfação? Você está brincando com ela, é isso?
Em outros tempos, a resposta de Leo seria agressiva e impulsiva, mas ele não reagiu nem zangou-se.
- Você que se considera meu amigo, ainda não me conhece direito...
- Sou seu amigo, sim, e estou aqui pra te fazer essa pergunta justamente por isso. Outro, no meu lugar, teria certeza de que você deixou a Gilda de lado por causa daquela surra.
- Eu não te entendo, Haroldo. Primeiro você faz tudo pra me afastar da Gilda, agora vem me dizer que eu não devo deixá-la...
- Eu não fiz nada pra afastar vocês. Só achava que...
- Que eu era um delinquente que não posso dar nenhum futuro a ela, não é?
- A Gilda não é uma moça como as outras, Leo.
- Você já me repetiu isso umas quinhentas vezes e eu não sou tão burro a ponto de não ter percebido isso sozinho. Eu sei! – ele disse erguendo-se. – Eu sei disso! Eu sei! Eu apanhei naquela delegacia feito um cachorro porque não quis reagir à voz de prisão daqueles idiotas! Não quis causar um escândalo na escola porque a envolveria! Você sabe que eu já fui preso várias vezes e em nenhuma delas fui por bem pra cadeia. Era preciso sempre mais de um ou dois pra me levar, mas eu saía de lá inteiro! Dessa vez eu não reagi e olha só no que deu! E foi por causa dela! Foi porque eu amo a Gilda de verdade, Haroldo! Amo!
- Então vá buscá-la! Lute por ela!
- Eu vou! Eu passei cinco dias nesse quarto porque... se eu saísse na rua, a primeira coisa que eu teria vontade de fazer e ir até aquela escola, vê-la! Eu estou só dando um tempo pra ela mesma se decidir. Quero que ela tenha certeza de que me ama também.
Leo levantou-se da cama e foi até a janela.
- Ela é frágil e... ingênua, você sabe disso. Não quero que ela se iluda com a imagem que fez de mim. Ela pode estar se impressionando aparentemente. Queria que ela tivesse tempo pra pesar tudo e garantir pra si mesma que me ama pelo que eu sou... com todos os prós e contras.
- Pois ela não te esqueceu.
- Como é que você sabe?
Haroldo pensou por um momento, hesitante, mas acabou falando:
- O pai dela anda preocupado com a tristeza dela e desconfia também que seja por sua causa, por isso, vai mandar a Gilda passar as férias, na casa de uma tia dela em Valinhos.
- Valinhos...
- A Gilda chora muito durante a noite e anda abatida, não se alimenta direito. E como ela já terminou as provas finais e passou de ano, vai pra casa da tia.
- Quando?
- Amanhã cedo.
- Não pode... Não pode! Ela não pode ir!
- E como você vai impedir isso, Leo?
Leo colocou as mãos na cabeça tentando pensar.
- Eu tenho que fazer alguma coisa... Se ela for pra Valinhos... a gente não vai se ver tão cedo...
- Não seria melhor você esperar até o final das férias? As coisas se acalmariam...
- Eu não posso ficar dois meses sem ver a Gilda, Haroldo! Uma semana quase me matou!
- Olha, deixa ela ir. Eu vou ver se consigo o endereço da tia dela lá e depois você vai encontrá-la. Melhor lá do que aqui. Aí vocês vão ter mais calma para conversar.
Leo olhou para ele admirado.
- Por que você está fazendo isso?
- Que pergunta mais idiota, Leo!
- Está na cara que você gosta dela.
- Quem te colocou isso na cabeça? – Haroldo perguntou, rindo.
- Eu te conheço. Você está fazendo uma força enorme pra não deixar passar isso, mas a mim você não engana. Você está brigando com você mesmo pra decidir se alimenta sua paixão por ela ou continua meu amigo, não é?
- Que absurdo, Leo! Para com isso!
Leo aproximou-se do amigo e olhou em seus olhos. Haroldo procurou fazer o mesmo, mas não conseguiu sustentar seu olhar. Desviou os olhos.
- Você não precisava pedir duas vezes ao Alcântara a mão da filha dele. Ele concederia em seguida...
- Só que ela está apaixonada por você! – disse Haroldo com energia, encarando-o. – Eu já disse o que tinha que dizer. Vou embora.
Foi para a porta e Leo o chamou:
- Haroldo!
- Não vou te aborrecer mais. Se eu fosse você, sairia um pouco desse quarto. Vai acabar ficando maluco.
- A Gilda sabe que você veio falar comigo?
- Não. Ela nem sabe que eu sei. Foi o doutor Alcântara quem me falou.
- Não diga a ela.
- Você não vai vê-la?
- Vou, mas eu não quero que ela saiba. Ela pode... se trair, dar na vista. Se o pai dela descobre, dá tudo errado. Consiga o endereço pra mim, tá?
Haroldo concordou, saindo do quarto.
LEO II – CAPÍTULO 15
“MUDANÇA”
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
PELA PIEDADE, PELO AMOR E PELAS BÊNÇÃOS!
CONTINUE NOS PROTEGENDO
COM SEU ESCUDO DE MISERICÓRDIA!
BOM DIA E OBRIGADA!