LEO II - TRÉGUA - CAPÍTULO 11
CAPÍTULO XI – TRÉGUA
Você nunca me decepcionou tanto, filha! - falou Alcântara, ao saber pela filha sobre seu passei com Leo ao teatro da cidade.
- Eu estou te dizendo a verdade, pai. Não conta?
- Conta... Conta muito. Mas parece que você não vai desistir dessa maluquice de estar sempre saindo com ele, não é?
Gilda não respondeu. Alcântara procurou manter a calma e segurou a filha pelos ombros.
- Filha, esse rapaz não tem emprego, parou de estudar na oitava série, vara as noites fora de casa sem que ninguém saiba o paradeiro dele, bebe! Que futuro você espera ter com um homem assim?
- Eu posso mudá-lo, pai...
- Mudar Leo Torres? Gilda, não seja ingênua! Ele pode ter vinte anos, pode ter cara de moleque, mas já tem mais experiência de vida que o Samuel e eu juntos, filha! Esse rapaz só quer usar você por que sabe que você é uma das poucas moças dessa cidade que ele ainda não conquistou.
- Como você pode dizer isso, pai? Como pode saber o que ele pensa?
- Porque eu o conheço, filha! Ele já fez mal a várias moças por aqui.
- Quem, por exemplo?
Alcântara afastou-se dela e coçou a testa. Apoiou-se no encosto de uma cadeira e perguntou:
- Lembra-se de Flora Gomide, filha do Túlio Gomide, da Chácara Florença?
- A moça que morreu há dois anos?
- Ela mesma. Ela se matou por causa dele, filha. Estava grávida.
Os olhos de Gilda arredondaram-se e brilharam assustados.
- Não...
- Ele fez com ela o mesmo que está fazendo com você. Fingiu-se amigo, envolveu e depois que conseguiu o que queria, afastou-se, deixando a moça em situação difícil.
- Você tem provas disso?
- O próprio pai dela conta.
- Um pai pode contar muitas coisas a respeito de uma filha grávida. Podia ter sido qualquer rapaz, mas como a fama do Leo corre mundo...
- Não tente se enganar, Gilda! Que prazer você sente em defender esse moço? Nem em mim você confia mais?
- Confio! Mas você pode estar enganado, não pode?
Alcântara não respondeu. Gilda deu as costas e foi para seu quarto.
Mas mesmo que não quisesse ficar do lado do pai e contra Leo, a estória de Flora Gomide conseguiu deixá-la insegura.
Naquela semana, evitou sair sozinha da escola, acatando os conselhos do pai. Tinha medo de encontrar Leo, pois certamente ia perguntar para ele sobre o fato e tinha medo que ele admitisse que era verdade. Ela não suportaria. Preferiu ficar longe por algum tempo, até que se sentisse mais segura.
Leo esperou por ela todos os dias e sempre a via com uma ou duas colegas. Gilda sequer o procurava com os olhos e às vezes fingia que não o via. O rapaz não entendia o que estava acontecendo. Resolveu tirar a limpo e entrou na escola, durante o intervalo. Encontrou a moça sentada num dos bancos no pátio e foi até ela. Gilda sentiu o sangue gelar ao vê-lo.
- O que foi que ouve? Você está fugindo de mim? – ele quis saber.
- É melhor... Por favor, Leo, vá embora!
Ele sentou-se teimoso a seu lado.
- Encheram sua cabeça de bobagens novamente? O que foi que inventaram dessa vez? Que eu matei alguém?
- Quase isso... ela disse, olhando nos olhos dele.
- Quê?
- Quem foi Flora Gomide, Leo?
A pergunta foi brusca e direta. Ele encostou-se na parede e passou a mão pelo rosto.
- Belo trunfo seu pai usou...
- Quem foi ela? O que você fez pra ela?
- Nada que cinco ou seis já não tivessem feito antes!
Gilda corou, chocada. Leo riu discretamente.
- Isso não é engraçado! – ela disse nervosa. – Você está mentindo!
- A garota morreu depois de ter engolido um vidro inteiro de comprimidos há dois anos. Espalharam que ela estava grávida e que o bebê era meu, mas eu te juro que quando eu cheguei na estória ela já estava grávida. Ela queria fazer uma jogada comigo, mas eu não caí. Queria me forçar a casar com ela e eu não quis, caí fora... e ela se matou.
- Como você sabe que o bebê não era seu?
- Ela mesma me disse. O cara, o pai da criança, era casado e pai de filhos. Era disso que ela queria que eu a livrasse. Quando ela morreu, todo mundo achou muito cômodo colocar a culpa em mim, mas eu estou limpo nisso, Gilda. Eu te juro!
- Não jure! - ela pediu, chorando.
- Eu não tenho como provar, mas você tem que acreditar em mim.
Gilda abraçou-se a ele.
- Não me engane, Leo, por favor!
- Olha pra mim, ele disse, segurando o rosto dela entre as mãos. – Não precisa mais sair da escola mais tarde ou fugir de mim. Não vou mais te esperar lá fora. Vou te dar uma semana pra pensar, esfriar a cabeça e resolver o que você quer fazer. Na sexta-feira que vem a gente se encontra e você me diz o que resolveu, tá?
- Uma semana?
- Vai valer a pena. Vou morrer de saudade... mas ressuscito em volto.
LEO II – CAPÍTULO 11
“TRÉGUA”
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
PELA PIEDADE, PELO AMOR E PELAS BÊNÇÃOS!
CONTINUE NOS PROTEGENDO
COM SEU ESCUDO DE MISERICÓRDIA!
BOM DIA E OBRIGADA!