LEO II - BONECA JAPONESA - CAPÍTULO 5
CAPÍTULO V – BONECA JAPONESA
- Sabia que eu me apaixonei pela primeira vez aos onze anos? – Leo perguntou sorrindo.
- Onze!? – Gilda perguntou, admirada.
- É. Ela era filha de um amigo do meu pai, de Belo Horizonte... Era linda... uma nissei linda. Uma boneca japonesa. Tinha a mesma idade que eu, uns dois meses, mais nova. Tinha se mudado pra cá com a família e passou a estudar na mesma sala que eu na escola e eu não desgrudava dela. Paixão no duro! Ela era um doce...
Ambos riram.
- Como era o nome dela?
- Cristina. A gente chegou até a namorar, vê se pode... E o namoro durou! Durou dois anos! A gente até falava em casamento! – ele disse, rindo, corando de leve. – Ela era muito especial pra mim.
- E onde ela está agora?
O rosto dele entristeceu.
- Meu pai... descobriu o namoro. Pra variar, ele não podia me ver feliz. Contou pro pai dela e o japonês a tirou da escola. Levou ela pra capital e a colocou num colégio interno. Eu nunca mais a vi. Só depois de seis meses foi que eu recebi a notícia de que ela tinha... morrido... Má alimentação... anemia profunda. Morreu de tristeza, por minha causa...
O rosto dele agora estava frio e cheio de revolta. Gilda sentiu vontade de chorar. Leo cruzou as mãos na nuca e baixou a cabeça, ficando assim algum tempo. Quando a levantou, continuou:
- É, Gilda, o velho Samuel conseguiu acabar com a melhor parte da minha vida e vem tentando impedir que aconteça outra vez a todo custo.
Olhou para ela e perguntou, sorrindo:
- Triste, não?
Ela não respondeu, tocou sua cabeça e acariciou seu cabelo, emocionada.
- Eu sinto muito...
Leo pegou sua mão.
- Daí pra frente, eu perdi totalmente o respeito por ele, já que ele não fazia muita questão de que eu gostasse dele. Só minha mãe conseguia me proteger do velho. Ela era meu escudo... meu anjo da guarda... até que morreu também, há quatro anos, você deve se lembrar.
Gilda balançou a cabeça confirmando.
- Deixou pra mim a força dela... saudade... e um piano... Um piano que está no meu quarto, do lado de uma fotografia enorme que ela mandou fazer de mim quando eu tinha quinze anos. Eu já tinha essa cara quando tinha quinze anos, sabia? Com um pouco menos de barba, claro.
Gilda sorriu.
- Estou te amolando, não é?
- Não! Continue...
Ele fitou-a por alguns instantes e findou por dizer:
- Você tem olhos lindos, sabia?
Ela ia abaixar o rosto, mas ele segurou seu queixo e a fez olhar em seus olhos novamente.
- Gilda... ele disse, pronunciando seu nome devagar, deslizando os dedos sobre seus lábios. – Você vai ter dois filhos...
Gilda franziu a testa e sorriu.
- O quê?
- Dois filhos... meus...
Antes que ela se desse conta do espanto e pudesse retrucar, ele encostou os lábios nos dela e a beijou delicadamente. Gilda não conseguiu se afastar dele, como se seu corpo não estivesse mais sob seu controle. Quando seus rostos se afastaram, ainda olhando nos olhos dele, ela murmurou:
- Você é louco...
Leo sorriu.
- É o que dizem...
- E quer se divertir comigo, não é?
Ele ficou sério. Afastou-se dela e levantou-se bruscamente. Gilda assustou-se e fez o mesmo.
- Vamos voltar, ele falou, indo para o carro.
- Leo! – ela gritou.
Ele parou e voltou-se nervoso.
- Eu sinto muito...
- Você não tem que sentir nada. Conseguiram afastar a Cristina de mim e nem adianta que querer começar alguma coisa com você porque vão acabar fazendo o mesmo! Esquece!
Leo abriu a porta do carro e pediu:
- Entra. Eu te levo até perto da sua casa.
Ela não teve escolha. Entrou no carro.
Leo dirigiu em silêncio até uma rua paralela à dela e parou o carro.
- Tchau, ele falou, sério, sem olhar para ela.
- Leo, eu não acredito em tudo que dizem. Acredito no meu pai, porque ele é o homem mais honesto que eu conheço. Pode ser que ele esteja contra você porque não o conhece direito e... porque é muito amigo do seu pai. Gosto muito do seu pai também, porque desde criança eu percebo que ele tem um carinho muito especial por mim, me trata como uma filha...
- A única qualidade que meu pai tem é gostar de você, Gilda. É a única coisa que você conhece dele.
- E se tem outra parte, eu não quero conhecer, simplesmente porque eu não quero começar a não gostar de ninguém! Não gosto que venham falar mal de ninguém pra mim; portanto, não fale mal do seu pai perto de mim!
Ele ficou olhando para ela sério e mordeu o lábio inferior.
- Tudo bem, tchau.
- Não quero não gostar de você também...
- Sai do carro!
Gilda saiu e ele deu a partida, arrancando em velocidade.
LEO II – CAPÍTULO 5
“BONECA JAPONESA”
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
PELA PIEDADE, PELO AMOR E PELAS BÊNÇÃOS!
CONTINUE NOS PROTEGENDO
COM SEU ESCUDO DE MISERICÓRDIA!
BOM DIA E OBRIGADA!