LEO - HERANÇA - CAPÍTULO 14
CAPÍTULO XIV – HERANÇA
- Fico profundamente lisonjeado, ele brincou. – Mas você não precisa provar nada a ele. Eu já estou dentro dele, desde que ele aceitou que é parte de mim... ou do que eu fui.
- Você... vai embora, não é?
- Vou, mas ainda preciso da sua ajuda.
- Como?
- Eu já te disse: não deixe a sua mãe vender essa casa. Ela é parte da herança da minha mãe pra mim que meu pai tomou. Já não é de nenhum valor pra mim, mas por direito ela é do Bruno e ele deve ficar com ela. Está tudo comprovado em papéis com o advogado da minha mãe, um homem chamado Tadeu Antunes. Você vai encontrar o endereço dele nos papéis do meu pai no quarto dele. Esse homem vai provar pra vocês que a casa era minha e que eu deixei como herança em testamento para ao Bruno, pouco antes de... deixar essa casa... fisicamente pelo menos.
- Você sabia que ia morrer?
- Não, não como foi, mas tentei fazer isso duas vezes. A primeira, quando sua mãe se casou. Seu pai e eu tínhamos sido muito amigos e me revoltava o fato de perder a Gilda pra ele, ainda mais grávida de um filho meu. Depois... provoquei um incêndio na oficina em que ele trabalhava. Ateei fogo em tudo e fiquei lá dentro, mas justamente ele me salvou de ser queimado vivo.
- Você quis matar meu pai?
- Não, não havia ninguém lá. Só eu. Nunca fiz mal ao seu pai, não de coração, muito pelo contrário, já disse, ele foi meu melhor amigo. Posso ter sido muita coisa na vida, mas não um assassino. E eu não mataria o homem que meu filho chamava de pai... Ele já tinha seis anos e sua mãe esperava você. Foi antes de tentar me matar que eu deixei esse documento com Tadeu Antunes. Peça pra sua mãe procurar por ele. Não deixe que ela venda, nem alugue a casa. Promete?
- Prometo.
- Obrigado.
Cristina não conseguia parar de chorar. Olhou para o quadro na parede e perguntou:
- Não vou te ver mais?
- Vai, sempre que olhar para esse quadro, ele disse, sorrindo.
- Quero dizer... assim... Não vou mais conversar com você?
- Como Leo Torres... acho que não.
Ela passou a mão pelo rosto, enxugando as lágrimas.
- Você tem que ir agora? Eu queria te pedir uma coisa?
- Peça.
- Me conta... a história de vocês. Você e minha mãe, desde o começo.
Leo franziu a testa e sorriu, achando o pedido muito incomum.
- Toda?
- Toda.
- Tudo bem, mas você não vai querer que seu irmão espere o dia inteiro por você aí embaixo, vai?
Cristina sorriu.
- Vou pedir pra ele vir me buscar depois.
Ela foi para a porta, mas ainda voltou-se e falou:
- Não vá embora, hein?
Ele apenas sorriu.
Ela desceu as escadas correndo e foi falar com Bruno que desceu da moto ao vê-la aproximar-se.
- E aí? Pela sua demora, o talzinho estava lá. Quase subi pra ter certeza, mas como você não gritou...
- Não fala assim, Bruno. Ele não é mais desse mundo. Ele está lá em cima sim... e é seu pai.
Bruno ficou sério e arrepiou-se com o jeito de falar da irmã.
- Não brinca com isso, Cris.
- Não estou brincando, meu irmão. É ele mesmo.
- Então eu quero vê-lo também, caramba.
Bruno ia entrar na casa e subir, mas Cristina o segurou.
- Não! Não pode!
- Como não posso? Se você ficou todo esse tempo conversando com o... espírito do meu pai, por que eu não posso?
- Bruno, por favor, não insista! Eu também gostaria que você o visse. Essa é a experiência mais fantástica de toda minha vida e não entendi ainda porque ele me escolheu para vivê-la, mas você não pode vê-lo ainda. Eu tenho que fazer isso sozinha.
- Sabe o que eu acho, Cris? Que você ficou maluca mesmo.
- Bruno!
- Me dê uma prova então de que esse homem que você diz que é meu pai está lá em cima!
- Se você não acredita em mim, não há outra prova.
- Vamos embora, então.
- Não, vai você. Eu vou ficar mais um pouco.
- Ficar pra quê, Cristina?!
- Eu ainda preciso conversar com ele. Pode ir. Eu vou ficar bem.
Bruno olhou para o casarão e balançou a cabeça.
- Ele teria sido um belo pai mesmo...
- Não fala assim! Ele sofreu por você e pela mamãe. Ele o amou tanto que ficou aqui nesse casarão todo esse tempo pra se certificar de que garantiria o seu futuro deixando essa casa pra você.
- Foi o Samuel que deixou pra mamãe.
- Não! Foi ele!
Bruno ficou em silêncio, sem saber se acreditava ou não na irmã. Cristina compreendia sua confusão.
- Vai pra casa, Bu. Depois a gente conversa mais.
- Você vai demorar? – ele perguntou, mais calmo.
- Não sei, mas não se preocupe. Eu vou ficar bem.
Bruno resolveu não discutir mais. Cristina parecia tão segura. Colocou o capacete, subiu na moto e depois de olhar mais uma vez para o casarão, foi embora.
Ela voltou para dentro da casa.
Leo estava em pé junto à janela, quando ela entrou no quarto.
- Ele não acredita em mim... ela disse.
- Eu falei que não acreditaria, ele disse. – Eu também não acreditaria se me contassem. Em casa, nós nunca fomos ligados a coisas desse tipo. O Bruno é muito pé no chão como eu era. Tem que ver pra crer. Ele teria que me ver também, como você está vendo, pra acreditar. Mas eu não posso... ainda não...
Leo falava com tristeza na voz, ainda olhando pela janela. Cristina respirou fundo e esperou. Leo se voltou para ela e perguntou:
- Pronta?
Ela balançou a cabeça confirmando. Ele lhe estendeu a mão.
- Eu... posso te tocar?
- Você já tocou...
- Eu não sabia... de tudo isso ainda...
Leo sorriu e estendeu a mão aberta.
Cristina aproximou-se dele e colocou a mão dentro da sua. Sentiu um arrepio pelo corpo todo e sorriu. A mesma sensação de estar tocando em cetim.
- Suas mãos... são tão...
- Deita na cama, ele pediu.
A moça estranhou.
- Pra quê?
Ele sorriu.
- Eu tenho um jeito melhor de te contar a minha história sem ser falando. Deita.
Como já tinha chegado tão longe, ela viu que só restava confiar nele e deitou-se. Leo sentou-se a seu lado, ainda segurando sua mão.
- Procura ficar o mais confortável possível e feche os olhos. Você vai dormir agora.
- Mas eu não estou com sono.
- Vai ficar, confie em mim.
- Quando eu acordar, você ainda vai estar aí?
Ele sorriu.
- Feche os olhos e não faça mais perguntas.
Cristina fechou os olhos e apertou a mão dele, como se não quisesse perder o seu contato, mas aos poucos foi sentindo o corpo pesar. Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Logo, já não tinha mais consciência de que estava sobre uma cama, nem dentro de um quarto ou mesmo numa casa. Estava...
LEO – CAPÍTULO 14
“HERANÇA”
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
PELA PIEDADE, PELO AMOR E PELAS BÊNÇÃOS!
CONTINUE NOS PROTEGENDO
COM SEU ESCUDO DE MISERICÓRDIA!
BOA TARDE E OBRIGADA!