LEO - VOCÊ NÃO É UM FANTASMA - CAPÍTULO 13
CAPÍTULO XIII – VOCÊ NÃO É UM FANTASMA
- Não! Não, Gilda respondeu, abraçando-se ao filho, chorando. – Não diz isso. Você não foi um erro! Você é meu filho querido! Meu Bruno! Você é a lembrança viva do Leo perto de mim. Eu o amei tanto!
- E por que não me contou antes?
- Pra quê? Eu não queria que você soubesse nunca... nunca! Ainda mais assim, pela boca de um estranho.
Bruno apertou a mãe nos braços e procurou segurar-se para não chorar também. Afastaram-se, alguns segundos depois e ele disse:
- Escuta, não vamos esticar mais esse assunto, tá? O que a gente tem que fazer agora é descobrir quem é o cara que fala com a Cris no casarão.
- Isso é comigo, falou Cristina, também com o rosto molhado. – Ele nunca está quando alguém entra comigo naquele quarto.
- Eu não vou deixar você entrar mais lá, falou Gilda.
- Não há perigo, mãe. Seja lá quem for que esteja lá, não quer me fazer nenhum mal. Acho que já comecei a entender isso. Eu falo com ele.
- Não, Cris!
- E o que a gente vai fazer, mamãe? – perguntou Bruno. – Fechar a casa e deixar cair o resto? Ela é sua e o velho não deixou pra você à toa. Ele sabia que você tinha um filho que era neto dele?
Gilda balançou a cabeça confirmando.
- Pois então! Foi por minha causa que você herdou aquela velharia e ela vale dinheiro, grana, mãe! Não se joga “money” pela janela, dona Gilda.
Gilda sorriu, balançando a cabeça e acariciando o rosto do filho. Bruno beijou sua mão.
- Deixa a Cris resolver isso. Seja lá o que for que esse cara queira, se queria me ver contra você, dançou! Eu posso ter vinte pais, mas só tenho uma mãe, você, e fim de papo!
A professora o abraçou, feliz.
- Eu te amo tanto, meu amor...
- E eu não sei! – ele diz, bem humorado com sempre.
Cristina enxugou o rosto e se aproximou dos dois. Bruno incluiu a irmã naquele abraço e ela perguntou:
- Me deixa voltar lá, mãe?
- Se você acha que é seguro...
- Confie em mim. Qualquer coisa, eu sei correr.
Bruno e Gilda riram.
Na manhã seguinte, Bruno não foi à faculdade só para levar Cristina até o casarão. No portão, ela disse:
- Fique aqui. Quero entrar sozinha. Se eu pressentir perigo, eu grito, tá?
- Combinado. Procura não demorar muito.
- Ok.
Ela entrou no jardim e transpôs a porta. Abriu as janelas, como sempre fazia e subiu as escadas. Já estava acostumada e não se espantou mais quando viu Leo dentro do quarto, esperando por ela. Só notou que ele estava diferente. Junto ao piano, todo de branco, ele sorriu ainda mais bonito quando a viu entrar.
Cristina respirou fundo e avisou:
- Não tente nada estranho, viu? Meu irmão não pode entrar aqui, mas ele veio comigo e está aí embaixo.
Ele riu. Cristina percebeu que havia algo nele que não era igual às outras vezes. O quarto estava na penumbra, mas em volta dele o branco resplandecia, sutilmente.
- Obrigado, ele disse, ainda sorrindo.
- Obrigado do quê? Eu não fiz nada.
- Fez. Diminuiu em cinquenta por cento meu problema.
- Como assim? Que problema?
- Contou pro Bruno a verdade.
Cristina arrepiou-se inteira, mas procurou manter-se calma.
- O quê?
- Eu precisava que ele aceitasse a minha existência e perdoasse sua mãe e a mim.
- Não sei do que você está falando.
- Sabe... Bruno é meu filho... e você agora sabe disso.
Cristina sentiu as pernas fraquejarem. Teve vontade de correr dali.
- Não fuja, Cris, não tenha medo, ele disse, como se adivinhasse seus pensamentos. – Você já esteve comigo três vezes e nada grave aconteceu. Você não está aqui à toa e está me ajudando muito. Falta pouco pra tudo acabar.
- Você é... Leo Torres... ela murmurou.
Ele sorriu e respirou fundo.
- É bom ouvir isso da sua boca. Me faz um bem incrível, tenha certeza.
- Você é... um fantasma...
- Não gosto muito dessa palavra, mas se você quer encarar dessa forma...
- Você está... morto. Como você... quer que eu encare? – ela perguntou, com o coração aos pulos no peito.
- Só pense que eu estou tão vivo quanto você.
Cristina colocou a mão no peito e perguntou:
- Eu posso... sentar?
Ele sorriu e apontou a cama. Cristina se sentou e olhou para a porta ainda mais distante e pensou o que a fazia ficar ali e não sair correndo por ela. Ele reiniciou a conversa:
- Quer perguntar alguma coisa?
- O que você quer? O que está fazendo aqui?
- Tentando reparar um erro do qual eu não tenho culpa, mas que vou ter que consertar.
- Erro?
- Meu pai morreu por minha causa, dezesseis anos depois de eu ter morrido pelas mãos dele.
Cristina colocou as mãos na boca, sentindo uma vontade enorme de gritar.
- Você foi... assassinado... pelo seu pai? Pelo velho Samuel?
- Dentro desse quarto. Nós brigamos feio, nos agredimos... ele me empurrou... Bati a cabeça no piano e caí desmaiado, mas ele não queria só que eu desmaiasse e... completou o serviço. Não chamou socorro e quando me descobriram aqui, horas depois, eu já estava morto. Ele alegou que eu estava bêbado, e estava mesmo, mas uma coisa não teve nada a ver com a outra. Só que eu já não podia provar nada. Dezesseis anos depois, aconteceu no mesmo com ele. Ele sempre vinha até aqui. Cheio de remorso, orgulhoso demais pra confessar seu crime, falava comigo... sem saber que eu ouvia tudo. Nunca consegui deixar esse quarto maldito. Tinha deixado muita coisa pra resolver em vida. Não me conformava em ter perdido a Gilda, não me conformava em ter deixado meu filho nas mãos de outro homem... e tinha uma grande prazer em ver meu pai sofrendo por mim. Foram precisos dezesseis anos pra eu poder me libertar de tudo isso que me prendia à terra. Comecei a sentir pena do meu pai e a pena me fez voltar a amá-lo, o que nunca tinha conseguido fazer antes. Passei a sofrer com ele e sabia que ele precisava do meu perdão, como eu precisava do dele. Recebi autorização e resolvi aparecer...
- Autorização? – ela pergunta.
- Não dá pra explicar agora, mas até aqui temos regras... Depois eu te explico...
Ela aceitou e esperou o final do relato dele. Leo continuou:
- Eu apareci pra ele como estou aqui com você. Queria conversar... mas meu pai tinha perdido a fé até na própria alma e se assustou... esbravejou, estava bêbado outra vez e não me ouvia. Acabou dando um passo para trás, tropeçou na banqueta do piano e bateu a cabeça com força no chão.
Cristina tinha os olhos cheios de água.
- O que você ia dizer a ele?
- Queria... agradecer por ter deixado a casa pra Gilda em testamento; dizer que já o tinha perdoado por ele ter... me separado dela... Por ter... me impedido várias vezes de ver meu filho, por ter empurrado a Gilda, junto com seu avô, para um casamento sem amor... O velho Samuel me fez muito mal, mas eu também não ajudava muito. E finalmente, queria pedir perdão.
Ele respirou fundo e dolorido, olhando para o chão, mas depois ergueu a cabeça e sorriu parecendo aliviado.
- Mas o que me deixa feliz é que o Bruno já sabe de tudo. É bom saber que ele ama tanto a sua mãe e que entendeu a situação dela, sem se voltar contra mim.
- Você... gostaria de ver o Bruno aqui... como está me vendo? Falar com ele...
- Eu não posso... Não ainda. Mas me basta sentir que ele está bem. Me basta saber que ele não se parece em nada com o rapaz que eu fui. Nós vamos nos ver muito em breve, ele falou sorrindo.
- Aqui?
- Talvez... Eu ainda vou ter a chance de dizer a ele o quanto eu o amo. Não vai demorar muito.
- Ele está aí embaixo.
- Eu sei... mas não adianta pedir pra ele subir. Ele não me veria e você faria o papel de maluca como da outra vez.
Cristina sorriu.
- E como eu vou provar que você esteve aqui comigo? Acho que ele não acredita em... espíritos...
- Fantasmas, você quer dizer...
- Você não é um fantasma.
LEO – CAPÍTULO 13
“VOCÊ NÃO É UM FANTASMA”
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
PELA PIEDADE, PELO AMOR E PELAS BÊNÇÃOS!
CONTINUE NOS PROTEGENDO
COM SEU ESCUDO DE MISERICÓRDIA!
BOM DIA E OBRIGADA!