19 - EPISÓDIO 7- A ZONA AMARELA
1
Imensos helicópteros levantaram voo da arca por volta das quatro da madrugada. Tudo o que se via era a escuridão.
Vamos por pelo menos duas horas, e somente quando o sol despontava no horizonte foi que eu percebi que havia uma cidade devastada em baixo de nós.
Eu estava com mais quatro homens do exército além do piloto e do co piloto. Um deles se chamava Bruno, um negro aparentando ter uns 27 anos, que ia ao meu lado, me disse em voz alta para se fazer ouvir:
- É Belém do Pará. Não há mais nada lá embaixo. A cidade virou morada de zumbis.
Eu não disse nada. Apenas olhava a devastacao da cidade lá embaixo. De vez em quando via alguma movimentação. Zumbis ou animais em busca de alimento. Ambos não se atacavam. Aprenderam a viver em harmonia. Só atacavam os seres humanos sobreviventes.
Ser um sobrevivente em um mundo caótico não era uma coisa assim tão fácil.
Os helicópteros desviaram para o oeste e voaram por quase uma hora deixando a cidade devastada para trás.
Estávamos em silêncio quando alarmes começaram a soar.
Fiquei em estado de alerta.
- O que está acontecendo? - Perguntei olhando para Bruno.
- Eu não sei.
Bruno também parecia apreensivo.
Olhei para a frente e vi o que parecia ser uma imensa nuvem. Mas não devia ser uma nuvem, porque nuvens não são amarelas.
Havia uma gigantesca cortina de fumaça amarela à nossa frente.
Os pilotos estavam se comunicando com os helicópteros que estavam à frente e quando eles entraram na nuvem amarela, a comunicação foi interrompida.
À essas alturas eu já estava apreensiva, sabendo que alguma coisa estava acontecendo, alguma coisa grave e inexplicável.
O piloto tentava se comunicar, e mexia em botões enquanto o alarme soava e uma luz vermelha soava no painel:
-Bravo3, bravo3, aqui é bravo1. Responda.
Então nós entramos na nuvem amarela.
Não me lembro de muita coisa. Aconteceu rápido.
O helicóptero seguiu por algum tempo e tudo o que havia era aquela fumaça amarela. Ali o silêncio era absoluto. Até mesmo o ruído do motor do helicóptero parecia estranhamente amorfo.
Então, de repente, eu olhei pelo para-brisas do helicóptero e acho que vi uma boca. Uma boca enorme e escura como um gigantesco abismo. Havia dentes, milhões de dentes enormes. Olhei no fundo da boca e vi três pontos de luz que pareciam estar no final daquele abismo.
Todos ouvimos um som estranho. Eu não consigo descrever ao certo que sim era aquele. Parecia a mistura do rugido de um leão com o trepidante som da vizinha na de um navio.
Me lembro de ver um dos helicópteros desaparecendo na escuridão daquela gigantesca boca.
O helicóptero em que eu estava bateu em alguma coisa e então começou a girar.
Estávamos caindo.
Entramos em desespero. Eu me acertei ao cinto de segurança.
Não demorou muito tempo. Logo ouvi um estrondo, senti um impacto descomunal e mergulhei na escuridão.
*****
2
Alguém me chamava de muito longe.
Eu abri meus olhos e era meu pai.
Ele me chamava. Estava na clareira. Toda minha família estava, no centro da tenebrosa clareira.
Meu pai me chamava e estendia os braços.
Eu tentava me aproximar deles mas não conseguia por causa da flterrivel e ferida procissão de zumbis.
Fechei meus olhos...
- MICAELA!!!
Abri meu olhos novamente e era ele, o pálido ser de quase dois metros de altura. Enorme e esquelético.
- O profano está chegando Micaela.
Ele apontou para o céu, para a coisa que estava oculta na nuvem amarela, depois assoprou um pó amarelo na minha cara e virou uma fumaça negra que desvaneceu-se pelo ar.
Fechei os olhos novamente...
- MICAELA! VOCE ESTÁ BEM?! VOCÊ ME OUVE, MICAELA?!!
Abri os olhos pela terceira vez e vi Bruno, o soldado. De alguma maneira ele havia sobrevivido.
- VOCE ESTÁ BEM?!!
- O que?... Eu...
- TEMOS QUE SAIR DAQUI! VICE CONSEGUE SE LEVANTAR?!
Ele se afastou um pouco e começou a atirar com sua metralhadora.
- TEMOS QUE SAIR DAWUI MICAELA! ESTANOS NA ZONA AMARELA! TEMOS QUE IR PARA O NORTE!
Eu me levantei. Olhei para cima e o céu era amarelo, convulso.
Estava vindo. Eu podia sentir.
Olhei para as minhas mãos e eram garras.
" Você pode controlar! Você pode! "
" Ele está vindo Micaela. O profano. O homem do pecado!"
Dentro de mim olhei para o corredor, pelo olho mágico da porta.
O corredor estava vazio.
Eu abri a porta.
O som metálico das dobradiças rangendo povoaram na minha mente.
Olhei para Bruno e ele estava matando zumbis. Ele olhou para mim e disse alguma coisa mas eu não ouvi.
Meus olhos eram duas bolas vidradas terrivelmente amarelas.
Vi Bruno descarregando a metralhadora e centenas de zumbis se aproximando dele.
Bruno sacou uma pistola e foi atacado.
Eu me aproximei e comecei a matar zumbis com minhas próprias mãos.
Era estranho. Me sentia como se não fosse eu, eu era apenas uma expectadora enquanto meu corpo água por conta própria.
No corredor a criatura bizarra começou a se aproximar. Vinha se rastejando como uma lesma, pelas paredes.
Eu matava todos os zumbis que se aproximavam.
Vi Bruno cair no chão em estado de total pânico. Vi quando ele apontou a pistola para mim e disparou. O tiro foi comi a picada de uma agulha ferindo minha pele.
Ele se rastejou para longe e saiu correndo, um homem ensanguentado em estado de total horror.
Eu continuei matando zumbis.
*****
3
Enquanto eu matava zumbis, o governo, que agora era formado por uma coalizão de diversos países, se preparava para enfrentar a imensa nuvem amarela que ameaçava engolir o mundo.
Caças alcaram voo e se aproximaram da nuvem. Quando a ordem foi dada eles começaram a disparar.
Os mísseis disparados penetraram na nuvem e desapareceram. Por um momento nada aconteceu.
Então ouviu-se aquele som terrível e milhares de tentáculos enormes surgiram da nuvem.
Os aviões que estavam na frente foram tragados.
Os demais fizeram um segundo bombardeio. Os mísseis não fizeram efeito, mas de repente não havia mais nuvem. Agora, o que havia era o terror. Um terror indescritível. Algo hediondo e descomunal.
Não existia mais o céu, ele havia sido tomado por um ser, uma forma de vida que parecia envolver todo o globo terrestre.
A coisa parecia ser formada por bilhões e bilhões e bilhões de tentáculos.
*****
4
Eu voltei a mim em uma vala. Estava coberta de sangue e chorava em estado de desespero.
Começou a chover e a chuva era sangue.
Quando a chuva começou a cair, outro ser surgiu na terra.
Seus pés pisaram o solo e ele começou a morrer.
Continua.