Vida de Garota

Capítulo I: A Vida de Lisa

Desde que sua mãe faleceu, Lisa vem enfrentando muitos problemas, um deles é a sua tia Eunice, irmã de seu pai.

Conta-se que Eunice se apaixonou por um homem casado, engravidou, mas quando o tal homem soube, pediu que ela abortasse a criança. Eunice não faz o que ele pedira. Logo depois foi abandonada, entrou numa profunda depressão e mesmo assim perdeu o bebe. Diante desta situação, Eunice passou a alimentar um ciúme terrível contra Lisa, que na época contava apenas com dois anos de idade.

II

Lázaro, um renomado empresário, dono de uma vasta fortuna acumulada durante anos de dedicação à empresa que leva seu nome, LM Calçados.

Após o falecimento da esposa, vítima de um câncer, Lázaro abandonou o cargo de presidente da empresa e passou pra sua irmã, Eunice.

Lisa é uma garota que tem tudo para ser feliz. Porem com a morte da mãe e o sofrimento do pai, não via motivos para continuar vivendo ali, onde a megera da sua tia a maltratava. Mas existia Valter, o mordomo, que também era um anjo pra ela. Já cansada das brigas, Lisa teve uma idéia: fugir de casa. E foi o que fez.

Já era de noite quando Lisa arrumou suas coisas e foi embora de casa, mas deixou uma carta para Valter, em sua cama.

Valter:

“Peço que não se preocupe comigo, estou bem. Aqui não consigo mais viver. Meu pai nestas condições, trancado num quarto, sem ver a luz do dia. A megera da minha tia não gosta de mim. Eu sei que você é meu anjo-protetor. Estou indo morar com meu avô na capital. Beijos. Lisa”

Valter leu a carta com lágrimas nos olhos.

No dia seguinte, pela manhã, Eunice quis saber da garota:

– Lisa já foi pro colégio?

– Não senhora. – Valter temia as reações de Eunice e resolveu ser direto. – Lisa foi embora de casa, senhora.

– Embora? Como assim? – Eunice estava incrédulo. Valter entregou-lhe a carta que Lisa lhe deixara.

– Garota nojenta. Pensa que vou me preocupar? Está enganada, foi melhor assim. Que não volte nunca mais e não quero ver você choramingando pelos cantos por causa daquela garota.

Capítulo II: A Casa do Avô

Quando Lisa chegou à casa do avô, sentiu medo. Logo de cara viram objetos, medalhas, troféus... Mas ao notar uma porta retrato com sua mãe e seu avô abraçados e sorridentes, percebeu que estava no lugar certo. Entrou casa à dentro. Ficou triste ao ver que seu avô vivia em péssimas condições de vida e higiene. Era uma miséria total. Ao ver todo o cômodo percebeu que havia gente no quintal.

– Quem ta aí? – Falou uma voz vinda de fora.

E apareceu um senhor na faixa dos 70 anos, barbudo, de boné, calça comprida e blusa regata. Ele tinha uma expressão de um homem já muito sofrido. Ao ver Lisa, o velho perguntou:

– O que faz aqui?

Lisa, com muito medo, respondeu:

– Eu sou sua neta, vovô.

– Neta? Eu não tenho nenhuma neta deste tamanho, vá embora. – O velho não queria conversa, mas Lisa insistiu:

– Não está me reconhecendo? SOU SUA NETA, filha da Joana.

– Não tenho filha com esse nome.

O velho Samuel chegou-se mais perto de Lisa, e aos poucos foi lembrando-se de como era parecida com sua filha, mas o abandonou para se casar com Lázaro, que era um bom rapaz, mas não queria que Joana fosse embora de casa.

Samuel já queria chorar, abraçou Lisa.

– Você é minha neta? Filha de Joana?

Lisa, já comovida, sorri pro avô.

– Sou eu sim, vovô.

Foi aí que Samuel caiu em si, e perguntou:

– O que você veio fazer aqui, nesse fim de mundo?

Então Lisa temeu aí, imaginou como iria tentar falar pro avô a verdade. Mentiria? Não. O melhor seria se abrir, e disse, esperando uma reprovação.

– Eu fugi de casa, vovô.

E não deu outra, Samuel olhou pra Lisa com espanto.

– Fugiu de casa? Que história é essa? – Samuel não gostou nada de ouvir aquilo. E Disse: – Você vai voltar pra sua casa. Eu não quero confusão pro meu lado, de repente seu bate aqui, e a culpa vai ser minha.

– Eu não quero voltar pra casa, vovô. – Lisa já fazia menção de choro.

– O que foi que você fez de tão grave assim, mocinha?

Lisa sentou-se num banco e começou a relatar pro velho Samuel o motivo que a fez cometer esta atitude. A começar pela morte da mãe, depois o abandono do pai das empresas e as humilhações que passava nas mãos da megera da sua tia, Eunice.

Como um bom ouvinte, Samuel ficou atento a tudo que Lisa falava, gesticulou enfim, todos os pormenores da mocinha. Sensibilizado, abraçou novamente a neta e disse:

– A partir de hoje, você será minha protegida.

Ambos estavam emocionados.

Capítulo III: O Rei dos Cassinos.

No outro dia pela manhã, já bem acostumada com a casa, Lisa foi levada por seu avô para conhecer um lugar que ele se orgulhava de chamar de seu: era um cassino clandestino, no subúrbio da cidade. O recinto era grande e espaçoso, mesas de bilhar e uma infinidade de outros tipos de jogos de azar. Pessoas de alta sociedade faziam suas apostas ali. Outras iam para tomar deliciosos coquetéis que o restaurante oferecia. Samuel foi aplaudido de pé quando adentrou o local. Veterano e experiente era tratado com respeito, digno de um rei. O REI DOS CASSINOS.

Samuel ganhara oito vezes o campeonato municipal de várias categorias de jogos. Nunca foi preso, logo porque ele pagava propina aos policiais que de vez por outra apareciam por lá, pra garantir seu ordenado. Depois de mostrar a Lisa o lugar que a fez uma lenda, sentaram numa mesa e pediram um refrigerante.

– É motivo de orgulho, não é vovô?

– Claro que sim. Mas há sempre algo para nos atormentar.

Samuel disse isso porque viu um velho conhecido seu entrando no cassino. Era o tal Dudu. Um cruel e muito violento que se fazia de tudo para derrotar Samuel. Sendo que já havia perdido várias vezes o campeonato.

– Algum problema, vovô? – Lisa olhou em direção ao tal homem, e pressentiu que o perigo rodeava o lugar.

Samuel resolveu contar a Lisa tudo sobre sua vida. Mas por outro lado achava arriscado demais que a garota lhe entregasse a polícia. Mas pensando bem, Lisa não era tão capaz de cometer esta loucura. Nisto, Samuel foi logo falando:

– Lisa... Eu preciso te confessar uma coisa, ou melhor, uma série de assuntos.

Alheia a tudo aquilo? Lisa começou a estranhar o modo que seu avô lhe dizia as coisas. Mas como havia saído de casa, estava disposta a enfrentar tudo, até as mais absurdas provações, se existia mais que sua tia Eunice lhe dava.

– Lisa – Samuel continuou – Eu não fiz tudo isso sozinho, algumas pessoas me ajudaram a erguer esse império. Uma dessas pessoas é esse tal de Dudu. Ele se interessou em me ajudar, seria meu sócio. Eu, como não tava pra rejeitar nada, aceitei. Mas o tempo passou e eu percebi que as contas do cassino estavam sendo extraviadas com outras coisas. E descobri que Dudu passava a mão no dinheiro que entrava aqui. E foi então que mais tarde fiquei sabendo que ele e uma gente barra-pesada, tinham oficina clandestina que vendia e falsificava calçados.

– Fabricação de calçados? – Lisa ficou curiosa coma notícia.

– É, até pensei que fosse conversa, mas resolvi descobrir a verdade. A oficina fica lá em Maracanaú, é num galpão velho e abandonado. Dizem até que vem empresário de outras cidades fazer negócio com ele.

– E porque o senhor já não foi à polícia denunciá-lo?

– E você acha que eu já não tentei? Só que nós estamos no mesmo barco. Ele com contrabando e eu com cassino, o que já muito tempo é proibido.

– Mas o que ele ta fazendo é algo muito pior.

– Mas pra polícia tudo é a mesma coisa.

– E porque não fecha o cassino?

– E de que eu vou viver? Isso aqui me sustenta ha anos.

– Mas já que vive há tempo com isso, se fosse pra ir preso já teria sido não?

– Os tempos são outros, minha querida. Quem comanda nisto agora é a Federal e com eles não se brinca.

– Confesso que é uma situação um pouco delicada. O que eu posso fazer pra ajudar o senhor, vovô?

– Nada, minha querida. Nada. Eu não queria lhe colocar nesta situação.

– Mas eu posso arrumar um jeito de conseguir ajuda.

– Pelo amor de Deus, não se meta nisso. Eu te peço. O Dudu é um homem violento. É capaz até de matar sem compaixão. Fique fora disso. Deixe que eu resolva essa história.

Mas era tarde, Lisa já tinha em mente o plano de como ajudar o avô a sair dessa enrascada. A garota não perdia tempo.

Capítulo IV: Notícias

Valter:

“Aqui está tudo bem. Moro com meu avô que é um amor de pessoa. Conheci a cidade e o cassino que ele tem. Fiquei sabendo um montão de coisas sobre ele, depois com mais detalhes, lhes conto tudo. Um beijo meu anjo, Lisa.”

À tarde, quando Eunice chegou da empresa, quis saber notícias de Lisa.

– Lisa mandou outras cartas, senhora – Valter foi logo dizendo.

– E o que diz? – murmurou Eunice.

– Que está tudo bem. Conheceu a cidade e até o cassino do avô.

– Cassino clandestino, não? Dá onde um velho esclerosado possui grana para tal? Só vivendo mesmo de clandestinidade. Perguntou pelo pai?

– Não senhora.

– Ta vendo? O velho já fez a cabeça dela. Nunca se importou com a filha agora quer fazer o mesmo com a neta. Viveu sempre na criminalidade, quer levar a garota também pro mesmo caminho.

– Lisa é bem grandinha e sabe onde pisa senhora – Disse Valter defendendo Lisa.

– Sabe mesmo? Você é muito ingênuo Valter. Sua cabecinha é muito pequena pra admitir certas coisas e não me admira se um dia qualquer a polícia bate aqui, atrás dela.

– Não diga isso senhora, pobre menina.

Valter foi pra cozinha, preocupado com Lisa. Mas por outro lado tinha a certeza que a garota não se meteria em confusão. E chorou.

Capítulo V: O Rapaz da Livraria

Lisa foi a uma livraria. Livros eram uma de suas paixões, desde pequena sempre foi apegada a eles. Sua mãe, a maior incentivadora. O romance “Helena”, de Machado de Assis, era o seu preferido. No momento que Lisa ia pegar um livro, um rapaz tipo galã aproximou-se e disse cortesmente:

– “HELENA”, é um dos melhores romances da nossa literatura.

– É verdade – Lisa quis ser agradável – minha mãe toda vida gostou de Machado de Assis.

– Dê meus parabéns a ela – disse querendo ser gentil.

Lisa de repente ficou triste.

– Se eu pudesse, minha mãe morreu há 10 anos.

O rapaz ficou sem graça.

– Me desculpe – desculpou-se.

– Tudo bem, você não sabia.

Lisa emocionou-se ao lembrar-se da mãe. Jonas lhe ofereceu um lenço, e num gesto de cavalheirismo, puxou uma cadeira e Lisa sentou-se. A garota começa a relatar sua vida, antes e depois de chegar à cidade. De repente notou que havia falado bastante.

– Poxa, eu falei tanto sobre mim e acabei esquecendo-se de você.

– Tudo bem – depois Jonas se apresentou – Meu nome é Jonas e o seu?

– Lisandra, mas todos me chamam de Lisa.

– Lisandra. Poucas vezes já ouvi este nome, muito bonito por sinal.

– Muito obrigada. Você é tão gentil. Você é assim com todo mundo?

– Eu costumo agradar quem eu gosto – Jonas foi direto à resposta.

– Mas nós nos conhecemos há tão pouco tempo.

– Mas o suficiente pra saber que você é uma boa garota.

– Eu também gostei de você, é difícil ver rapazes gentis e cavalheiros como você.

Jonas ficou enfeitiçado por Lisa. Sua voz, seu gesto e sua doçura complementaram o que ele há muito tempo procurava numa moça. E Lisa tinha todas essas qualidades, ou talvez até mais, já que estavam apenas conhecendo.

– Você acredita em amor à primeira vista? – Jonas quis saber.

Lisa perdeu o chão diante daquela pergunta. O que responder?

– Claro – foi à resposta de Lisa.

– Pois saiba que existem amizades à primeira vista. To sentindo que seremos grandes amigos.

– Com certeza – Lisa voltou a si, ela imaginou que Jonas já estava se apaixonando, mas era possível, não era?

Lisa e Jonas ficaram a se olhar uns bons tempos, como se só eles existisse no mundo, mas Lisa desfez o silencio, e mudou de assunto.

– Você trabalha aqui?

– Não, essa livraria é do meu pai.

– Nossa, que legal. Deve ser o máximo viver entre os livros.

– É um prazer sem tamanho, é maravilhoso, o bom é que não precisa comprar, é só vir aqui e tirar o livro pra ler.

Os dois riem, não sabem do quê. Criando talvez, uma espécie de intimidade.

– E você trabalha, por acaso?

– Claro que trabalho, é líder sindical.

– De que área?

– Calçados.

– Calçados? Que legal. Meu pai tem uma pequena empresa de calçados lá na nossa cidade.

– Seu pai? Nossa, que mundo pequeno esse, não? Você gosta de livros assim como eu, tem um pai que é dono de uma empresa de calçados, a área que conheço e trabalho, não acha muita coincidência?

– Não acho já tava escrito.

– Você acha?

– Sim, o que aconteceu comigo nos últimos tempos já estava traçado, apesar deu não acreditar muito no destino, eu acho que desta vez teve a mão dele.

– A Mão de Deus, você acredita em Deus, não é?

– E como não haveria de acreditar? Tudo que já enfrentei com minha família foi permissão de Deus. Ele ta nos provando. Não sou religiosa, apenas creio no poder de Deus, e acredito que vou vencer esta batalha. Deus não dá um fardo maior que a gente não possa carregar.

Jonas ficou emocionado com as palavras de Lisa, e passaram horas conversando, que não viram o tempo passar. Já perto do meio dia Lisa chega a casa e sente o cheiro de comida. Samuel preparava uma deliciosa macarronada, o prato predileto de Lisa.

– Sua mãe adorava macarronada. – disse Samuel.

– E não há quem resista vovô, está uma delicia.

Conversaram como já é de praxe, durante no almoço em toda a cozinha na hora das refeições. Lisa falou do novo amigo que fez.

– Conheci um rapaz lá na livraria. Jonas, filho do seu Ademir, o dono da livraria.

– O Jonas? É um ótimo rapaz.

– Ele me convidou pra sair à noite com ele vovô, posso?

– Claro que pode minha querida. Vai ser bom pra você.

– Que tal se o senhor vier conosco?

– Não minha querida, essas folias não dão pra pessoas da minha idade.

– E o que vai fazer?

– Vou dar uma passadinha no cassino, depois eu venho pra casa. Vá e se divirta.

Capítulo VI: Festas e Surpresas

A noite Lisa se encontrou com Jonas numa boate muito movimentada da cidade. Garçons, barman... E bebidas de todo tipo. Lisa dançou, bebeu, foi apresentada aos amigos de Jonas. DJs em seus picapes com as mais diversas músicas do momento, agitando a balada. Lisa conversa, brinca se diverte pra valer com os novos amigos. De repente Jonas a beija longamente, bem apaixonado. Lisa, por sua vez, não reage, gostando talvez do beijo “roubado”.

Não era para menos, numa balada onde muitos jovens se vêem obrigados a cometer o tal desejo e no caso de Jonas e Lisa não podia ser diferente. As horas passavam e já era de madrugada quando os dois resolveram ir embora. Jonas foi deixar Lisa em sua casa no seu carro Sedan. Pararam e conversaram um tempo.

– Gostou da festa? – perguntou Jonas.

– Adorei nunca me diverti tanto, só assim esquecia os problemas.

– Amanhã tem mais, se quiser...

– Não, não. Obrigada, adorei mesmo.

Jonas aproveita a ocasião e acaricia o rosto de Lisa suavemente.

– Você é uma garota muito especial, sabia? – Jonas estava apaixonado.

– Você também é muito especial. – Lisa era tão meiga na sua voz, que parece que foi isso que a fez Jonas se apaixonar.

– Lisa... – Jonas fez uma pausa antes de concluir e dizer o que realmente sentia pela garota. – eu to apaixonado por você.

Lisa não soube o que responder. Foi pega de surpresa.

– Eu... Eu não sei o que dizer Jonas.

Jonas vai tentar beijá-la, mas Lisa se recusa.

– Vamos deixar as coisas como tão – Lisa foi categórica – aquele beijo na boate foi pelo impulso do momento. Eu não quero entrar num relacionamento em dúvidas e nem deixar você esperançoso. Eu gosto de você, mas não estava nos meus planos me relacionar com ninguém.

– Então aquele beijo não significou nada pra você?

– Era o que você queria? Que um namoro começasse por um simples beijo? Que alias, foi um beijo roubado? É assim que vocês rapaz da cidade resolvem as coisas? Desculpe Jonas, mas comigo as coisas não funcionam dessa maneira.

Jonas ficou confuso, agora com todo este sermão de Lisa. “Será que eu me apaixonei pela pessoa errada?” pensou ele.

Mas convenhamos caro leitor, que Jonas aproveitou a ocasião para se aproveitar de Lisa. Ele como um rapaz íntegro, correto, sensato, poderia assim mudar o rumo das coisas? Será que não pensou antes de cometer tal bobagem? Ele se sentiu envergonhado da sua atitude e disse:

– Me desculpe, eu tenho este defeito de ser apressado, como diz o ditado: “a pressa é inimiga da perfeição”, me desculpe.

– Não tem pra que pedir perdão, você agiu conforme sua intuição. – Os dois se despedem, prometendo se vêem depois.

Ao chegar a casa, Lisa percebe que há alguém conversando com seu avô. Lisa esconde-se atrás da porta e ouve a conversa. Era voz masculina, forte e ameaçadora.

– Eu preciso do resto que me prometeram, as máquinas estão pra chegar. – O outro ainda ameaçador – Tu ta querendo morrer?

Samuel tremia de medo.

– Eu já disse que vou arrumar teu dinheiro, rapaz. Dá-me mais um tempo.

– Eu já dei tempo suficiente pra conseguir, – e tentando ser amigável, mas sem ser ameaçador – mas tudo bem. Pra provar que sou bonzinho, lhe darei mais três dias, mas fique certo de que não cumprir sua palavra, será um homem morto.

Lisa percebe que o avô chora. Os homens saem, eram altos e fortes. A garota apavorada corre ao encontro do velho Samuel que estava em um estado deprimente.

– Vovô... Quem eram esses homens? O que eles queriam?

Samuel não conseguia dizer uma palavra, o rosto inchado, o nariz sangrava, e várias marcas pelo corpo.

Algum tempo depois de se recuperar do machucado, Samuel resolveu abrir o jogo pra neta.

Há praticamente oito anos, Samuel devia uma quantia muito razoável para o homem que acabara de sair, para que essa grana saísse, o velho resolveu fazer parte de uma gangue que liderava o tráfico ilegal de venda e compra de calçados roubados e falsificados. Esse Dudu que Lisa já vira antes era o dito homem que ameaçava seu avô.

Samuel só abriria seu cassino se pagasse uma fiança de 50 mil reais, dinheiro este que veio das mãos desse tal Dudu. O velho fazia de tudo para efetuar o pagamento, mas sempre aparecia algo que o impedia. O cassino não estava dando lucros no começo, motivo que fez Samuel se sujeitar a este homem.

Lisa ouviu tudo com absoluta atenção. E como ela não perdia tempo, já tinha em mente o que fazer para ajudar o avô a sair dessa confusão.

Capítulo VII: Planos em Ação

Na manhã bem cedo, Lisa foi procurar Jonas, na livraria. Como era muito cedo ainda, Jonas não tinha ido pro trabalho ainda. Lisa se dirigiu a uma moça no balcão e perguntou pelo rapaz. A moça indicou uma porta, onde poderia ser o quarto de Jonas. Ao chegar a seu quarto, ele escovava os dentes. Lisa estava apreensiva.

– O que houve? – Jonas estava assustado.

– Descobri algo terrível contra meu avô. Ele corre perigo de vida.

– O que aconteceu? Ele ta doente?

– Antes fosse isso, mas o caso é grave, muito grave. Gostaria que você me ajudasse a colocar em prática um plano que tenho.

Lisa explicou tudo a Jonas, os detalhes de seu plano, ele meio leigo a tudo aquilo, resolveu ajudá-la.

Capítulo VIII: Preocupações.

Alguns dias haviam passado e Valter não tinha mais recebido notícias de Lisa. Com saudades da garota, ele pensou em ir procurá-la, mas tamanha ação podia lhe custar o emprego. Mas se arriscaria pela vida de sua pupila.

À noite quando Eunice chegou da empresa, perguntou:

– Lisa não mandou notícias?

– Não senhora.

– Vai ver que enricou. Não foi o que ela disse na ultima carta?

– Eu conheço Lisa muito bem, dona Eunice, e sei que ela não é capaz de se envolver com pessoas perigosas.

– E aquele reumático do avô dela é o que? Você é muito ingênuo Valter. Você realmente acredita que ela é uma santa? Se não mandou mais noticias é porque com certeza está presa.

– Deus que livre minha menina, dona Eunice.

– Ora, porque não? O avô é rei dos cassinos clandestinos, como dizem. O que se pode esperar dessa menina metida com esse velho? Coisa boa não é.

– Pois eu duvido muito. – Valter acreditava em Lisa.

– Cuidado pra não se decepcionar. – A megera fazia menção de que ia sair. – Bom, eu não vou dormir em casa.

– A senhora vai sair?

– Vou visitar uma amiga que está doente, só passei aqui pra pegar umas roupas.

– A senhora volta no fim-de-semana?

– Claro que não, amanhã de tarde estou de volta.

– A senhora vai comer alguma coisa?

– Sim, a viagem até Maracanaú é cansativa.

– Maracanaú? – Valter ficou desconfiado.

Eunice não deu importância a Valter e subiu pro quarto. Valter não tirou seus pensamentos de Lisa. Seus nervos e sua pressão andavam as alturas. Sua intuição dizia que sua pupila corria risco na cidade grande.

Capítulo IX: Surpresas

Lisa e Jonas já estavam praticando os planos que haviam bolado. Jonas pediu emprestado o carro de um amigo. O carro fazia parte do plano.

II

Algumas horas depois Lisa e Jonas andavam por uma estrada carrossal, já chegando perto do lugar que desejavam, havia pouco movimento. Pararam num posto de combustível para abastecer, beberam um refrigerante e logo partiram. Ao chegarem ao local, Jonas estacionou o carro um pouco longe, para não fazer suspeitas. Os dois desceram, era um galpão que tinha um nome da fachada: “Madeireiro Rio Novo”, isso era pra não dizer que era uma oficina clandestina de calçados. Os dois viram muitas máquinas industriais nos arredores do tal galpão. Um carro corola estacionado bem na estrada e um amontoado de caixas de papelão afastados da oficina.

Lisa e Jonas se aproximaram mais, com muita cautela para não serem vistos. Ouviram vozes de homens que cantavam e bebiam, riam numa espécie de comemoração.

Lisa presenciou uma mulher, de costas, mas que achou muito familiar. Não dava pra ver direito, mas era conhecida. A tal mulher colocava uma maleta cheia de dinheiro sobre a mesa. Foi então que a garota conheceu o homem de preto, era Dudu, o tal que ameaçava seu avô. Esperta, Lisa pegou o celular e tirou várias fotos. Podia ser útil no futuro, quem sabe?

Escondidos atrás de uns arbustos, ela estava num ângulo perfeito pra ver tudo com perfeição.

Logo depois guardou sua máquina. Jonas observava de outro ponto, mas Lisa viu o suficiente, até mais do que queria.

Os dois saíram dali cansados. Pegaram a estrada, logo em seguida, pararam no mesmo posto, desceram. Lisa colocou créditos no seu celular e ligou pra casa:

– Valter? Sou eu, Lisa.

– Minha menina – Valter chorava por poder ouvir a voz de Lisa – Estava preocupada com você, minha princesa. O que aconteceu? Porque não mandou mais notícias?

– Valter, não aconteceu nada, estou em paz. Eu só quero que você me diga uma coisa: minha tia está em casa?

– Não, ela foi visitar uma amiga que está doente. Por quê? – Valter começou a se preocupar – O que está acontecendo?

– Você sabe me dizer onde essa amiga mora?

– Se eu não me engano eu a ouvi ela dizer que era em Maracanaú. Lisa, está acontecendo alguma coisa?

– Eu não posso falar agora Valter, mas em breve eu te conto tudo. Vou desligar – E desligou.

Capítulo X: De Volta a Realidade

Ao chegar em casa, Lisa pensou em tudo que presenciou naquele lugar. O tal galpão, as máquinas industriais, as caixas de papelão. E a tal mulher? Sim, Lisa tinha plena certeza que era Eunice. Mas por quê? Pela roupa ou pelo carro? Não, pela capacidade que sua tia tinha para cometer crimes e a ligação para Valter facilitou mais ainda as suas suspeitas. O velho Samuel já dormia. Mas dormir para ela seria bem difícil.

II

Na manhã do dia seguinte, algo aconteceu: depois de viver anos enclausurado num quarto, decorrência de uma depressão pela morte da esposa, Lázaro saiu de seu claustro. A barba feita, cabelo cortado... Enfim, estava de volta à realidade.

Lázaro era um homem robusto, forte. Casou-se aos 20 anos com a primeira namorada, que era a mãe de Lisa. Filho de uma família rica, o pai um industrial de mão cheia, que logo cedo passou o cargo para o filho mais velho, Lázaro.

Hoje um homem bem remunerado, é um empresário visto com bons olhos na sociedade. Aos 40 anos de idade, rejia a empresa com mãos de ferro.

Bem, caro leitor não me cabe falar o resto aqui. Ao decorrer da história vocês vão ficar conhecendo mais sobre Lázaro.

Ao descer para tomar café, Lázaro notou que quase nada mudou neste período em que ficou trancado. Valter ao ver o patrão, quase desmaiou de tanta emoção.

– Dr. Lázaro? É o senhor mesmo?

– Como é que vai, Valter? Tudo bem por aqui?

– Deus seja louvado. O senhor não sabe o quanto eu orei, pedindo a Deus em seu favor.

– Agradeço Valter – Lázaro estranhou a casa vazia. – Cadê a Lisa? To achando esta casa tão vazia.

– O senhor esqueceu que sua filha cresceu doutor? Ela não é mais aquele bebê de antes.

– O tempo voa, não é Valter?

– É mesmo doutor, mas pro senhor não, porque continua o mesmo de sempre.

– Gentileza sua, Valter. E por falar em Lisa, onde é que anda ela?

Foi aí que Valter tremeu. Contaria ou não tudo ao querido patrão? Ou deixaria que a megera contasse pro irmão, as desventuras de sua filha amada? Seria até pior. Eunice detestava Lisa e contaria uma tremenda mentira colocando a pobre garota numa pior. Lázaro não merecia mais outro baque em sua vida. Valter enrolou, enrolou. Lázaro já ficando impaciente.

– Aconteceu alguma coisa na minha ausência, Valter? Você ta escondendo?

– Não doutor, claro que não.

É nessa hora que Eunice entra e resolve cortar o barato de Valter.

– Ele ta escondendo muita coisa, meu irmão – Eunice abraçou Lázaro, cínica. Tentando demonstrar carinho e continuou – Lisa fugiu de casa, meu irmão.

– Que conversa é essa? – Lázaro estava incrédulo.

– Isso mesmo, este senhor aí – Eunice se referia a Valter – sabe de tudo e não conta nada. Encobre as coisas que ela anda aprontando na capital.

– Na capital? Fazendo o que lá? E na casa de quem?

– Adivinha meu irmão. Do velho reumático do avô dela.

– Lisa ta na casa do Samuel? É verdade isso Valter?

– Doutor, eu ia explicar... – Valter já chorava nervoso.

– E porque não explicou? Só estava esperando que algo acontecesse a minha filha?

Eunice, pra piorar a situação, colocava lenha na fogueira.

– Ele vive recebendo mensagens de Lisa.

– Ela nunca mais me mandou notícias. – Valter estava tão nervoso que suas palavras ao saiam mais.

– A minha filha se metendo com gente barra pesada? Desse jeito que você protege minha única filha? – Lázaro estava enfurecido.

Lázaro saiu, Eunice olhou para Valter que chorava e disse:

– Agora o meu irmão percebeu quem é você. Eu falei que a casa ia cair um dia, não disse?

Coitado do Valter está sofrendo as conseqüências de um ato impensado de sua pupila. Medo era o sentimento que o pobre homem estava tendo no momento. Mas o telefonema de Lisa na noite anterior dizia alguma coisa, isso só o tempo poderia dizer.

Capítulo XI: Quitações

Lisa acordou o pouco que conseguiu dormir. Ao levantar notou que seu avô não estava em casa. A cama toda arrumada como se ninguém estivesse tido ali, mas não se preocupou. Tomou banho, o café da manha foi tomado no boteco ao lado da casa. Depois, quando votou pra casa, Samuel já estava. Meio triste e abatido, chorava muito sobre a cama.

– Vovô, onde o senhor tava?

Samuel nada respondeu.

– Aconteceu alguma coisa? Porque o senhor ta chorando? Foi o tal Dudu que ameaçou de novo?

Como Lisa já sabia de todo o esquema do velho, Samuel resolveu abrir o jogo com a neta.

– Lisa, eu vendi o cassino. – Não parecia o velho Samuel de antes.

– Vendeu o cassino? Por quê?

– Porque precisava quitar minhas dividas. Já sou um velho cansado, cheio de experiências perigosas. Não tenho mais tanto tempo de vida, era preciso acabar com tudo, senão tudo acabaria comigo.

– O cassino era seu sustento vovô.

– Mas eu não posso viver disso pra sempre. A polícia já esta no meu encalço há muito tempo.

– Puxa vovô, eu não sabia que era tão serio assim.

– Lisa, eu não sei o que fazer. Eu já consegui quitar a metade das minhas dividas. – Samuel pega um estojo de madeira e tira notas de cem reais e faz uma pilha. – esse dinheiro é seu.

– Eu não posso aceitar esse dinheiro, vovô. O senhor já sofreu bastante, esse dinheiro vai lhe ajudar a viver uma vida tranqüila.

– O Dudu é muito ambicioso, ele é capaz de querer me roubar. Eu preciso fugir e esquecer que vivi num pesadelo.

– Fugir pra onde, vovô? O senhor não pode passar o resto da vida se escondendo. O senhor já não deve mais a ninguém, quem não deve, não teme. O senhor poderia ir morar lá em casa.

– Não. Eu tenho que ir pra um lugar seguro. Onde ninguém saiba do meu paradeiro.

– O senhor não vai fugir. Eu não vou deixar. Eu to aqui e vou ajudar o senhor a sair dessa.

Lisa logo depois contou pra Samuel o que fez com Jonas naquela fatídica noite. A mulher que vira, era sua tia, Eunice. Ela está envolvida em contrabando, e a empresa da família corria risco, se o que pensara fosse verdade.

Lisa às vezes se perguntava: “será que vou conseguir ajudar meu avô a sair dessa encrenca?”, mas Lisa tinha um objetivo na vida: desmascarar Eunice.

Capítulo XII: Um Roubo e Muito Mais

Logo pela manhã, Lisa saiu de casa e foi se encontrar com Jonas. Samuel ficou em casa remoendo em seus pensamentos, o que faria se Dudu aparecesse e roubasse seu dinheiro. Pensava também em fugir, mas sentiria falta da neta.

Samuel estava decidido, ao abrir seu guarda roupa, ouviu um estrondo vindo da sala. Era o terrível Dudu e sua gangue. Durante minutos fizeram um verdadeiro vendaval na casa, amarraram o velho no pé da cama, reviraram tudo e encontraram a mina de ouro.

– Pensa que ia ficar com essa mina toda, velho? Sem dar um pouquinho pro seus companheiros de estrada? – Dudu ria e debochava com sua prole.

Samuel chorava, chorava, mas ao sentir que não resistia às dores que as amarras lhe causavam, desmaiou.

– O velho morreu. Vamos embora daqui – Dudu saiu na carreira.

Capítulo XIII: Do Hospital à Prisão

Algumas horas depois Samuel se encontrava no hospital fazendo os exames. Na saída do hospital uma viatura da polícia estacionou e o delegado e outros policiais desceram do carro.

– Samuel Santos? - perguntou o delegado.

Samuel estava tão fora de si que quase nada viu ali.

– Porque quer saber? – Respondeu.

– O senhor está preso por formação de quadrilha e comandar o jogo ilegal de bingo.

O mundo de Lisa veio abaixo, fugiu de casa pra esquecer os problemas enfrentados, chegando à casa do avô, ele mostra a vida que leva, logo em seguida descobre que faz parte de uma gangue de jogos clandestinos, mas ao conhecer Jonas, um rapaz esperto e inteligente, pede sua ajuda para tentar resolver a situação de seu avô. Os dois partem numa busca incontrolável até achar a solução do caso. Certos que tinham feito o plano perfeito, Lisa descobre que sua tia, Eunice, tem grande participação no esquema de contrabando de calçados roubados. Depois Samuel vende o cassino na esperança de quitar suas dividas e voltar a ter uma vida normal, mas como tudo não são flores na vida da gente, o tal Dudu rouba todo o dinheiro e para piorar a situação, Samuel é preso. E agora, o que fazer diante dessa situação?

Capítulo XIV: De Volta pra Casa

Lisa não conseguia entender o motivo de tantos problemas que já havia enfrentado desde que chegou à capital. Não tinha razão para continuar ali, despediu-se de Jonas com um aperto no peito...

II

Ao voltar para sua casa, Lisa encontrou Valter triste e sozinho.

– Valter... – Disse ao vê-lo.

Valter não se conteve de emoção. Correu para abraçá-la.

– Minha menina, que saudades. Como você ta?

Lisa estava exausta, sentou-se no sofá e relatou tudo ao seu anjo. Logo em seguida ele tinha uma novidade para dizê-la:

– Eu tenho uma noticia pra você.

– É boa? Se for ruim, nem precisa falar.

– É ótima. Você vai adorar.

Não deu nem tempo Valter continuar para a surpresa aparecer.

– Lisa... – Era a surpresa, Lázaro, seu pai.

Ao ouvir a voz, Lisa viu seu pai depois de 10 anos e chorou.

– Pai? É o senhor mesmo?

Lisa não lembrava muito de Lázaro, mas sua intuição foi forte demais para reconhecê-lo.

– Sou eu filha – Lázaro estava muito emocionado.

E foi assim durante muito tempo, um chororô sem fim.

III

Lisa contou pro Pai e para Valter todo o acontecimento que viveu na capital. Mas revelar o resto poderia ser complicado de entender, mas continuou.

– Preso? Mas por quê? – Foi à pergunta de Lázaro.

– O vovô vivia sendo ameaçado. – Lisa disse. – Tal de Dudu, este homem emprestou uma grana preta pro vovô, pra poder pagar as dívidas acumuladas. Quando ele me contou isto, eu me prontifiquei em ajudá-lo.

– Como? – Era Valter.

– Eu conheci um rapaz, que me deu uma força.

No decorrer da história, Lisa convenceu o pai e Valter de todo o caso.

Capítulo XV: Revelações

À tarde, Lisa foi até a empresa. De longe viu um ser horroroso e detestável. Era Eunice. Quando a megera notou a presença da sobrinha não esboçou nenhum tipo de reação, mas foi sarcástica:

– Quem é vivo sempre aparece. Eu estava preocupada com você, queridinha.

Lisa não respondeu, apenas odiou sua cara de cínica.

– Já que veio embora, vai trabalhar comigo e terá que acatar minhas ordens. As duas foram pro escritório, a conversa seria longa. No escritório, Eunice sentou-se, mas Lisa ficou em pé.

– Fiquei sabendo informações suas. Valter me contou tudo sobre sua nova vida na capital. Pelo visto não gostou, já está de volta.

Foi à vez de Lisa.

– É por pouco tempo. Só vim para esclarecer algumas coisas, colocar tudo no seu devido lugar.

– Ta falando bonito, hein?

– Enfrentei muita coisa sim, mas aprendi a encarar a vida de uma maneira que eu pudesse sobreviver.

Houve uma pausa entre elas, mas Eunice resolveu cortar aquele silencio angustiante.

– Vamos ao que interessa? O que você veio fazer aqui? Veio pedir emprego? Se for...

– Não. – Lisa a interrompeu – Não precisa se preocupar em relação a isso. – pela primeira vez, Lisa mentiu – Eu já tenho emprego.

– Ora, ora. Que mudança radical.

– Deixe esse seu sarcasmo de lado. Sabe, por outro lado eu te agradeço.

– Menos mal.

– A causa da nossa má relação resultou nessa atitude que tomei. Fugir de casa me fez muito bem.

Lisa queria tempo para chegar ao assunto que a levara até ali. Só que de repente, Eunice resolve soltar tudo que estava engasgado na garganta.

– Você é igualzinha o seu pai: arrogante, prepotente, você acha que com suas atitudes e metida à conhecedora de tudo, pode me intimidar? – E foi mais feroz – O idiota do seu pai nunca mais assumirá a presidência dessa empresa. – Eunice retira da gaveta da escrivaninha um documento. Entrega a Lisa.

– O que é isso? – Perguntou Lisa.

– É o documento que prova que seu adorado pai, não tem mais direito sobre essa empresa. Ele prova que todos os bens da família estão no meu nome. Portanto, nem você e nem seu papaizinho não tem nada mais a ver com a “L.M” Calçados. Que a partir de hoje se chamará: “Paralelo Calçado”. – Lisa não se deixou abalar pelas revelações da megera. Foi então que a garota viu o momento certo para agir.

– Mas será que você irá ter realmente essa regalia toda?

– Porque não? Não vejo nenhum mal nisso.

Lisa sentou-se e continuou firme em suas palavras. Foi revelando:

– Eu conheci um homem, na capital, que emprestou uma nota preta pro meu avô. Certo dia ele chega pra cobrar a tal dívida e meu avô não tem o dinheiro pra quitar seu empréstimo. Esse homem passou a ameaçá-lo. Mas depois que meu avô contou tudo que estava sofrendo, eu resolvi ajudá-lo. Eu e um rapaz que conheci, descobrimos algo de podre desse bandido. Mas eu não quis denunciá-lo. Sabe por quê? Porque eu vi uma mulher no meio deles. Logo de inicio eu não identifiquei quem era a tal. Mas eu fiquei pensando com meus botões “Quem é essa mulher?”, foi então que logo em seguida eu descobri.

Eunice já começava a demonstrar nervosismo, e se fez de desentendida.

– Que idiotice é essa? O que eu tenho a ver com isso?

Lisa soltou a bomba:

– Essa mulher era você. Você compra e vende calçados contrabandeados. E o tal homem, ele vivia infernizando a vida do meu avô e por causa dele meu avô está preso.

– Você andou vendo filmes demais, Lisa. Está fantasiando muito as coisas.

– Bem que eu gostaria que tudo isso fosse coisa de ficção. Mas não é. Eu tenho pena é dos funcionários que trabalham arduamente, pra ganhar seu dinheiro honestamente, enquanto você põe em risco a vida deles.

– E você é a protetora dos pobres indefesos, agora? Você ta maluca. Calçados falsificados?!

– Exatamente. Aquelas caixas que estão no pátio, eu reconheço todas.

– Esse rapaz fez uma lavagem cerebral em você, colocando-a contra mim.

– Jonas nem sonha que você é minha tia, infelizmente. E ele não viu você.

– E o que você pretende fazer? Denunciar-me?

– É o menos que eu posso fazer. Ver-te na cadeia, não vai ser uma vitória, mas ao menos vai fazer você pensar melhor no erro que cometeu.

Eunice ficou toda sacudida por aquela revelação estrondosa. Ficou muda por um tempo. Viu que não havia saída, tentou ser amável com Lisa.

– Você teria coragem de me denunciar?

– Pra livrar-me de você, sim.

– Você nem calcula o risco que faz me ameaçando, garota.

– Eu não tenho medo de você – Lisa estava calma. – Agora, você ameaça e põe em risco a vida dos funcionários que aqui trabalham pra ganhar seu suado salário.

Lisa se levanta pra sair, quando Eunice a pega pelo braço.

– Sente, nós precisamos conversar.

– Eu não tenho nada pra falar. O que tinha pra dizer já foi dito. Sua conversa agora é com a polícia.

Eunice contrariado, pega Lisa pelos cabelos. Lázaro entra no exato momento.

– Solte a minha filha.

Eunice leva um susto quando vê Lázaro.

– Lázaro? Que bom revê-lo – Riu irônica.

– Largue a Lisa. O seu problema é comigo. Eu ouvi tudo.

Eunice deixa sua máscara cair.

– O super Pai veio salvar a filhinha, que emocionante!

– Calma pai. – Lisa chorava.

Eunice pega uma arma na gaveta do armário. Puxa Lisa para fora do escritório, indo para o pátio da empresa, onde vários funcionários trabalhavam. Lázaro vai atrás.

– Solta essa arma Eunice. – Lázaro implorava – a polícia já está chegando.

Eunice já no auge de sua loucura. Atira duas vezes para cima. Os funcionários correm, procurando refugio. É um momento de muita tensão.

– Você nunca mais verá sua filhinha – Eunice ameaçava.

– Solta ela Eunice. Não vá fazer nenhuma besteira.

A polícia chega e cerca a empresa. Eunice ficou atordoado.

Lázaro aproveita o momento corre até ela. Lisa se solta. Lázaro e Eunice entram em luta. Até que o revolver é disparado. Os dois caem no chão. Lisa desesperada vai a socorro do pai. Lázaro com muita dificuldade se levanta. E Eunice está morto.

A polícia invade a empresa e depara-se com a cena trágica.

Lázaro depõe na delegacia. Relata todos os seus acontecimentos, logo em seguida é liberado.

Na manhã seguinte é feito o funeral de Eunice. Ninguém compareceu ao enterro, somente os coveiros.

Capítulo XVI: Um Novo Começo

Na noite deste mesmo dia, Lázaro e Valter fizeram uma comemoração à volta de Lisa para casa e a retomada de Lázaro à empresa. Tudo bem familiar.

– Lisa, eu tenho uma surpresa pra você – Disse o pai.

– Ah é? E qual é?

Lázaro vai até a cozinha e volta com o velho e querido Samuel. Lisa não conteve suas lágrimas, os dois se abraçaram. Foi um abraço tão gostoso.

– Eu não acredito que você está aqui, vovô.

– Agradeça a seu pai. Foi ele quem me tirou daquele inferno.

Lisa olhou pro pai, cúmplice.

– Não me agradeça. Você é que merece as honras, Samuel.

– Vamos ao banquete senhor? – Perguntou Valter.

Lázaro e Samuel conversaram, contaram piadas, enfim, feito duas crianças riam e se divertiam muito, lembrando o passado.

II

Lisa foi para o jardim. Sentada, olhava as estrelas e a lua, que estava linda. De repente ouve uma voz.

– A lua hoje está morrendo de inveja de você – Era Jonas.

– Jonas? É você mesmo?

– Você ta linda.

– Você também ta um gato.

Jonas sorriu.

– Eu vim porque tinha algo muito importante pra lhe dizer.

– Aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu. – Jonas saiu pra um lado pra tentar encontrar as palavras certas.

– É sério?

– Muito sério. Seriíssimo.

– Então me conta. Eu to preocupada.

Jonas criou coragem e disse...

– Eu amo você Lisa.

Lisa tomou um susto. Não esperava por essa. Jonas percebeu que ela não gostou de ouvir aquilo e arrependeu-se.

– Desculpa, eu não devia ter dito isso. Como fui idiota.

Jonas sentou-se já sentindo envergonhado daquela simples declaração. Porém, Lisa adorou a atitude de seu quase pretendente. Olhou pra ele, com um sorriso no rosto e disse:

– Amar alguém, não faz vergonha. Um gesto tão nobre e lindo.

– Se magoei me desculpa – Falou ele, vermelho de vergonha.

– Você foi o primeiro garoto que diz isso pra mim.

Lisa que olhava para Jonas com um olhar que dizia tudo. Ao notar os olhos de sua amada, Jonas ainda teve coragem de falar:

– Você tem todo direito de não querer nada comigo.

Lisa já estava tocada pela sinceridade, ou talvez, quem sabe, pelo o amor de Jonas. Para isso ele deveria demonstrar o que se passava em seu coração. E não pensou. Agiu: deu um longo e apaixonado beijo em Jonas. E disse apenas:

– Eu também te amo.

Lisa e Jonas uniram-se se fazendo um único corpo e a mesma alma.

A lua, as estrelas e o céu foram testemunhas do nascimento deste tão puro amor, amor este que nos remete a coisas inexplicáveis, a sentimentos tão distintos, ofuscantes e inebriantes.

Somos seres imortais que não acredita em tais coisas, mas o amor nos remete a situações de intenso prazer.

Nunca desista de encontrar o seu grande e verdadeiro amor.

E o que o futuro reserva pra Lisa e Jonas?

Nathan Freitas
Enviado por Nathan Freitas em 16/05/2020
Código do texto: T6949299
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