QUEBRANDO BARREIRAS - GELO NO FOGO - PARTE 3

XVIII - GELO NO FOGO (ICE ON FIRE)

“You can’t shoot down the moon, some things never change…

“Você não pode atirar na lua, algumas coisas nunca mudam…

...You can build a bridge between us, but the empty space remains.”

...Você pode construir uma ponte entre nós, mas o espaço vazio

permanece.”

“Shoot down the moon” – do Álbum “Ice on Fire” de 1985

Bob Haley apenas balançou a cabeça confirmando ter entendido as ordens do patrão.

Elton atravessou a casa e foi para o estúdio. Entrou lá sem fazer barulho e viu a mulher sentada no sofá com um de seus álbuns de fotografias no colo.

Ela estava vestida num suéter azul sobre as calças compridas de jeans e com os cabelos amarrados num rabo-de-cavalo como no primeiro dia em que a viu no AIR em Montserrat. Ela não o viu entrar. Elton fechou a porta devagar e andou até ela, indo por trás do sofá e surpreendendo-a com a pergunta:

- O que você está fazendo aí?

Ela assustou-se e virou-se para trás.

- Elton!

- Eu, quem mais? Estava esperando alguém?

Ele riu e pulou sobre o sofá, sentando-se ao lado dela. Beijou-a no rosto.

- Bom dia!

- Você me assustou!

- Não posso dizer que não era essa a minha intenção porque era, ele falou, rindo, feito criança travessa.

Ela riu também. Gostava de vê-lo nesses momentos de descontração em que ele estava sendo ele mesmo.

- Bom dia!

- Que é que você está lendo?... Nossa! É um dos meus álbuns de fotos mais antigos! Onde você encontrou? Você não pode olhar isso aí? – ele disse, fechando o álbum sobre o colo dela.

Renate não deixou, colocando a mão sobre a página onde estava, e o abriu de novo.

- Não, senhor! Eu adoro ver fotos antigas, ainda mais as suas, e nunca tinha visto essas! E o que tem demais?

- Nada que está aí tem mais nada a ver comigo!

- Não concordo. É a mesma coisa que dizer que sua mãe não tem nada a ver com você! É o seu passado!

Ele deu de ombros e Renate virou a página do álbum. Havia uma foto dele sentado na frente da casa em que morou com os pais por quinze anos, vestido num terninho desconfortável e com óculos talvez grandes demais para seu rosto de bebê.

Quando ele a viu observando a foto, fez uma careta e deu um longo suspiro, mas não disse nada.

- Que idade você tinha aqui? – ela perguntou.

- Sei lá... acho que... onze, dez... Meu pai tinha acabado de sair de casa outra vez em viagem... Foi em... março de 58, pouco antes do meu aniversário... ou no dia do meu aniversário... uma coisa assim.

- Seu pai saiu de casa...

- Não, a foto foi tirada na época da saída dele em viagem. Ele saiu definitivamente cinco anos depois quando ele e minha mãe se divorciaram. Eu tinha quinze.

- Você tinha um rosto bonito. Era um garotinho muito fofo.

- Gordo, você quer dizer. Eu era gordo mesmo. O corpo não ajudava muito, ele falou, erguendo-se e indo até sua coleção de discos. – Quer ouvir alguma coisa?

- O que você quiser. Qualquer coisa sua.

- Minha? Não, quero ouvir outra voz. Já ouvi a minha durante seis meses. Não aguento mais esse tal de Elton John! – ele disse, rindo em seguida.

Ela sorriu e voltou os olhos para o álbum. Elton escolheu um disco de Ray Charles e o colocou no aparelho. Regulou o volume e voltou a sentar-se.

- Já tomou seu café? - ela perguntou.

- Não...

- Então vá tomar! São quase onze e meia.

- Depois... Olhe essa foto! – ele disse, apontando para uma fotografia dele com Bernie e a banda que na época consistia de Nigel Olsson, Dee Murray e Caleb Quaye no dia da saída deles de Londres para os Estados Unidos, em agosto de 1970. – Eu nem me lembrava mais dela, poxa! Nós estávamos em Heatrow indo para L.A. Eu, Bernie, Nigel, Dee e Caleb. Lá se foram quatorze anos!

- Essa é sua mãe? - ela perguntou colocando o dedo sobre o rosto de Sheila.

- É... e Derf do lado dela.

- Derf?

Elton riu sem graça ao ouvir Renate perguntar pelo estranho nome com que ele chamava seu padrasto.

- Eu gostava de trocar os nomes das pessoas só de farra. Chamava ele de Derf ao invés de Fred. Gozação pura... O Fred salvou a vida da minha mãe em vários momentos... Gosto um bocado dele.

Ela olhou para ele com admiração, mas não disse nada. Continuou folheando o álbum e eles comentaram sobre mais algumas fotos. Quando terminou, fechou e ficou pensativa, acariciando a capa. Elton ficou esperando que ela dissesse alguma coisa, mas como ela não disse, perguntou:

- O que foi?

- Nada... Você não vai comer ou tomar alguma coisa? Está a mais de doze horas sem comer nada.

- E vou ficar mais um pouco. Preciso controlar a mim mesmo. Perder um pouco de peso. Ando comendo demais.

- Essa não é a maneira certa. Deve comer pouco, mas sempre em horários regulares.

- Eu sei, mas não estou com fome, por incrível que pareça.

- Eu preparei seu café da manhã, sabia?

- O Bob me falou...

- E você devia ter me avisado.

Ele se sentiu culpado e injusto.

- Desculpe, não precisa fazer nada pra mim sem me avisar. Meus hábitos são muito doidos e... Quer saber?... Vem comigo.

Elton levantou-se e pegou-a pela mão.

- Não, eu não quero te obrigar a mudar seus hábitos. Só queria saber... adivinhar o que você está pensando. Às vezes, as coisas mais essenciais você não me conta. Nós temos quase um ano de casados e você não me confia seus pensamentos... Nós nem dormimos na mesma cama... Até onde eu sou realmente sua mulher?

Bateram na porta e ela se abriu; era Bob.

- Desculpem interromper... Elton, Clive já chegou.

Elton balançou a cabeça, mostrando-se ciente, sem tirar os olhos dela. Bob saiu.

- Vá atender o Clive, ela disse, querendo se levantar.

Ele segurou seu braço, sentou ao lado dela e a fez ficar.

- Eu vou ter todo o tempo do mundo pra você agora. Eu preciso aprender muito mais do que você. É incoerente te pedir mais uma vez... pra me dar um tempo... Espero só que você não se canse de mim...

Ela não respondeu. Elton lhe beijou a testa, levantou-se e saiu. Renate colocou a mão sobre a boca começou a chorar em silêncio, como fazia várias vezes, depois que havia se casado com ele. O casamento deles não era exatamente o que ela esperava. Não era um casamento normal em vários níveis.

Além de dormirem em quartos separados, eles praticamente só faziam sexo quando ele tinha vontade e muito poucas vezes isso acontecia. Elton continuava sendo gay em sua essência e estava difícil mudar isso... se é que era possível mudar algo assim...

XVIII – “GELO NO FOGO” – PARTE 3

É OUTONO AINDA, MAS ELE VAI SER AMENO...

SAÚDE, RESPEITO E PAZ AO MUNDO!

OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 05/05/2020
Código do texto: T6937812
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