19 - EPISÓDIO 4 - GÊNESIS

1

Eu abria os olhos e ele estava lá.

Seu rosto era pálido, era como se não houvesse sangue em seu corpo.

Ele era enorme, devia ter quase dois metros de altura. Enorme e esquelético.

Não sei, ele devia estar doente, para ter o aspecto que tinha só podia estar doente.

PESTE.

Ele me tocou, e seu toque era gelado, fez o meu corpo estremecer.

Depois sorriu para mim, e mesmo com seu aspecto sinistro era um sorriso amistoso.

Então olhei atrás dele e vi seres alados estranhos. Pareciam anjos. Usavam roupas brancas. Eram tão brancas que ofuscavam os olhos.

Seu aspecto era terrível. Os seres tinham cabeças enormes e quatro rostos diferentes.

Por trás deles havia o que parecia ser uma nave em formato oval, ela estava aberta e eu ouvia o silvo estranho do que pareciam ser suas turbinas.

O homem terrivelmente pálido segurou minha mão e disse com uma voz cansada:

- Falta pouco. Estamos drenando. Logo teremos toda a vida de que precisamos para fazer o novo mundo.

Então olhei em meu ventre e vi algo parecido com uma grande mangueira. A coisa estava conectada ao meu umbigo e ia até aquela enorme esfera amarela que vi na clareira.

Então os seres explodiram como fumaça na minha frente.

*****

2

Ouvi um som estranho e olhei para a frente. Vi uma porta se abrindo e o que parecia serem três pessoas.

Eles estavam usando EPIs paramentados e brancos parecidos com roupas de astronauta. Os EPIs estavam conectados a mangueiras que por sua vez se ligavam a tubos de oxigênio em suas costas.

Tentei me mover mas vi que estava amarrada por correias à mesa.

Eles se aproximaram de mim. Um deles ficou bem perto e sorriu.

- Como se sente Micaela?

- Onde... Onde estou? Que lugar é esse?!

-Todas as suas perguntas serão respondidas à tempo. O importante é estabilizar o vírus que corre em suas veias.

Ele olhou para as outras pessoas que se aproximaram. Um deles tinha uma seringa enorme.

Eu tentava me soltar da mesa mas meus esforços eram inúteis.

Enquanto uma das pessoas segurou meu braço o outro injetou o conteúdo da seringa em minha veia. Um líquido amarelo estranho.

Uma etérea sensação de leveza se apoderou de mim, e por um momento eu flutuei e me vi deitada na mesa.

Eles trouxeram um maca e eu fui transferida para ela.

O primeiro homem disse alguma coisa mas era como estivesse falando de dentro de uma lata de sardinha.

Eu me sentia pequena, do tamanho de uma barata.

A maca começou a ser movida e agora eu estava vendo luzes no teto. Parece que estávamos seguindo por um vasto corredor branco.

Eu ouvia sons estranhos e de certa forma terríveis. Pareciam gemidos.

Olhei para os lados e vi portas igualmente brancas. Por algum motivo havia caveiras com ossos cruzados em cada uma delas.

Olhei para um dos homens que me arrastava na maca e o rosto dele estava pegando fogo. O outro tinha uma abóbora no lugar da cabeça, o terceiro era um macaco.

Fechei os olhos e a escuridão era amarela.

Ouvi alguém me chamar e achava que era meu pai. Sua voz ecoavam dentro de minha cabeça:

- MicaelaMicaelaMicaelaMicaelaMicaelaMicaela.

Abri os olhos e vi a esfera amarela cujo aspecto parecia a barriga de um sapo.

Eu ainda estava conectada àquela mangueira.

Tentei me mexer mas meu corpo estava completamente paralisado. Tudo o que eu podia fazer era gemer.

Olhei para as Peredes ao meu redor e elas começaram a se derreter como se fossem feitas de parafina.

Uma porta se abriu à frente e eu me vi em uma ampla sala. Havia mais pessoas usando EPIs brancos lá.

Fui transferida da maca para uma mesa de cirurgia.

Passei a ouvir um silvo semelhante ao chiado de uma panela de pressão ao fogo e vi o que paceia uma enorme máquina cheia de tubos.

Um dos tubos foi colocado na minha boca e eu senti a coisa entrando na minha garganta, me causando náuseas. Senti quando outro tubo foi introduzido na minha vagina e comecei a chorar.

Eu ouvi os homens falarem, mas era como ouvir sons sem qualquer nexo.

A coisa começou a chiar e eu senti alguma coisa entrando em meu corpo. Era extremamente gelado.

Eu entrei em desespero e comecei a me debater e a gemer. Mas meus esforços eram inúteis.

O chiado aumentou e então eu vi uma coisa subir pelo tubo que era transparente.

A coisa tinha um olho.

Entrei em pânico e de repente minha alma foi mandada para uma semi escuridão.

Eu estava de volta à clareira mas dessa vez todos os zumbis estavam mortos. Tinham sido truscidados e havia pedaços de corpos por toda a parte.

******

3

- MicaelaMicaelaMicaelaMicaela.

- Micaela. Você está bem? Consegue me ouvir?

Alguém abriu meus olhos.

O lugar onde eu estava parecia uma sala de interrogatório. Havia uma mesa algumas cadeiras, uma lâmpada pendia do teto.

Percebi que estava atada a uma cadeira de rodas.

Olhei para a frente e vi um daqueles homens usando EPI.

- Você está bem Micaela?

- Onde estou?

- Está num complexo do governo. É um lugar seguro.

- O que aconteceu?

Havia imegens de tudo o que havia se passado desde então, mas eram apenas imagens difusas, como lembranças de um sonho.

- Você foi infectada pelo vírus através de uma mordida.

Quando ele falou aquilo me lembrei da zumbi no shopping em Pindamonhangaba. Eu havia sido mordida e estava infectada.

- Me tornei um deles?

- Não. Você se tornou algo diferente. Não se preocupe. Você está no Gênesis agora.

- O que é o Gênesis?

- Um experimento científico. Em outras palavras estamos estudando você há cinco meses...

- Espere... Você disse cinco meses?!

- Isso mesmo Micaela. Na verdade estamos monitorando você dede que saiu da base 56 em Pindamonhangaba.

Eu estava abismada. Estava sendo monitorada pelo governo o tempo todo e não sabia. Mas como eles eram capazes de fazer aquilo? O homem respondeu à minha pergunta antes mesmo de eu tê-la feito:

- Todos os pacientes levados para a base 56 em 2020, receberam um microchip de monitoramento, para que o governo pudesse acompanhar a evolução do covid-19 em cada indivíduo.

" - Foi assim que achamos você e passamos a acompanhá-la. Quando você foi mordida por um zumbi em Pindamonhangaba. O microchip começou a enviar informações interessantes ao sistema e nós achamos por bem estudá-la. Você começou a reagir ao vírus de forma diferente, uma forma que nós nunca tínhamos visto antes. "

- Vocês do governo foderam todo mundo. A merda da vacina que vocês inventaram transformou as pessoas em monstros! Vocês deveriam morrer! E vocês mataram meu pai!

Tentei me mexer na cadeira e não consegui.

- Na verdade o governo não fez nada. Ninguém tem culpa. O que está acontecendo no mundo hoje, é o reflexo de algo que já está ocorrendo há dezenas de anos.

Eu franzi o cenho.

- Do que está falando?

- Já ouviu falar da operação prato? É claro que não. Na época em que ocorreu seu pai devia ter acabado de nascer e você não era nem sombra.

" A operação prato foi uma operação militar ordenada pelo governo em meados dos anos 70, no norte do Brasil, mais específicamente no estado do Pará. Tinha o objetivo de investigar a Aparição de objetos voadores não identificados. "

" As pessoas começaram a relatar casos de avistamentos de uma estranha luz paralisante que sugava o sangue de suas vítimas. "

" Há documentos , e registros de depoimentos reais de pessoas que estiveram diretamente envolvidas na operação".

Ele parou de falar e me fitou para ver qual era a minha reação. Resolvi perguntar:

- Está falando de alienígenas?!

- Acredita em alienígenas Micaela?!

- Eu... Não sei... Eu...

O homem continuou:

- Depois de um tempo, o governo ordenou o fim das investigações públicas do caso. Os documentos foram arquivados e os relatos foram desmentidos pela imprensa. Todas as pistas e pessoas envolvidas no caso foram apagadas de alguma maneira.

" Mas fato é que o governo nunca parou de investigar, e os fatos nunca pararam de acontecer. "

" O governo criou uma base secreta na floresta amazonica. Exatamente o lugar onde estamos agora. "

Eu arregalou os olhos não podendo acreditar no que o homem estava dizendo:

- O que?!... Está... Está dizendo que estamos no Pará?!

- Em algum lugar da floresta amazonica.

- Só pode ser brincadeira!

- Não é.

Eu não sabia o que dizer. Não podia acreditar que estava em um lugar tão longe e que tinha passado cinco meses em uma espécie de... Coma.

Eu não tinha a menor ideia do que estava acontecendo e nem que papo era aquele que o homem de EPI estava falando.

- Eu... Eu não faço ideia do que você está falando. O que isso tem a ver com a Covid-19 e com o que acontece ao mundo?

O homem pareceu recostar-se na cadeira e levou alguma segundos para responder:

- O que acontece é que o mundo foi invadido por alienígenas.

Luis Fernando Alvez
Enviado por Luis Fernando Alvez em 26/04/2020
Reeditado em 01/05/2020
Código do texto: T6928701
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