A VERDADE MENTIROSA CAP 02 - OUTRA REALIDADE
- Comecemos por onde estou e como vim parar aqui. Ah! Também me expliquem porquê!
- Nesta sala somos todos pesquisadores, trabalhamos em dois projetos simultâneos. Um deles financiado pelo Estado Maior das Forças Armadas, e outro, mais sigiloso, apenas conhecido por quem está dentro deste núcleo, e ninguém mais fora dele.
- Quero saber mais coisas, mas comecemos por detalhar um pouco mais essa informação.
- O projeto financiado pelos militares se trata de proteção corporal contra fogo e gases tóxicos. Cinco pesquisadores trabalham nele, no núcleo externo, e entram pouco neste núcleo interno. Os militares ignoram a existência deste, onde estamos. Assim como ignoram nosso trabalho.
- E como conseguem esconder este lugar dos militares?
- É mais fácil mostrar do que explicar, teoricamente. Há trinta e duas pessoas trabalhando aqui dentro, e todas são de extrema confiança. Apenas os nove desta sala podem sair e entrar, por períodos necessários e bem espaçados. Você será o trigésimo terceiro, se aceitar ficar.
- Convenhamos que preciso de mais contexto, mais informação consistente, para decidir sobre qualquer atitude a tomar. Há alguns dias que tudo ficou muito estranho, e só parece piorar.
Ela liga uma tv e mostra as instalações do núcleo externo, que não conheço, e parece com vários outros locais de pesquisa que já vi antes. Quase ao fim da exibição aparece aquela porta blindada que atravessei, mas todo o lugar que vi no vídeo fica do lado de fora dela.
- Ao atravessar a porta veio dar aqui, no núcleo interno. Porém, a porta é apenas uma fronteira física, que oculta outra, logo a seguir, muito diferente.
- Ainda estou sem entender, mas já percebi que aquela confusão toda por que passei tem a ver com essa tal fronteira “não física” que você mencionou. Posso saber mais?
- Este grupo de pesquisadores, ao mesmo tempo em que desenvolveu um estudo avançado de experiências paradimensionais, elaborou um sistema para ocultar esse estudo e as aplicações que dele se originassem, criando o núcleo externo, com material de interesse para os militares, que assim se prontificaram a financiar nossas atividades (ao menos as que conhecem), e, em paralelo, este outro, que envolve nosso interesse principal, secreto a olhos alheios.
- Já tinha imaginado algo parecido, mas você usou a palavra “paradimensionais”. Fale mais!
- Como já disse antes, é mais fácil mostrar que falar, mas este núcleo está situado em campo dimensional diferente da esfera física, de onde viemos.
- Tudo bem! Posso entender a confusão que atravessei para chegar aqui, posso entender todo o sigilo, mas até onde sei, outra dimensão, além da física, é onde vivem os que morreram, se é que tal coisa, realmente, existe, certo? Lembre que não sou cientista, nem muito inteligente.
- Errado! Há uma quantidade infinita de dimensões paralelas, distantes ou próximas, que ainda não compreendemos adequadamente, embora estejamos fazendo alguns progressos. Esta em que estamos agora, é bem próxima da física terrena, mas oculta aos sentidos humanos.
Outra mulher, mais nova (muito mais nova) levanta e vem até nós.
- Noah! Você foi trazido por sua inteligência acima da média e certos parâmetros pessoais.
- Vocês parecem me conhecer melhor que eu. Quais são esses parâmetros?
- Você passará por bateria de exames detalhados, e ao longo deles será informado acerca de objetivos e possibilidades. É preciso que tudo lhe seja transmitido de modo compreensível.
- É o mesmo que dizer que tenho de absorver devagar porque sou bem burrinho, né?
- Sua inteligência está estratificada e subativada, mas temos como mudar esse status.
- Como podem saber de meu íntimo? Quem, exatamente, são vocês, afinal?
- Tudo a seu tempo! Aprenderá a nos conhecer bem, como aprenderá a se conhecer melhor, e utilizar com muito mais eficácia sua potencialidade adormecida. Assim como temos acesso ao seu íntimo agora, terá acesso ao nosso mais adiante. Basta que aceite nosso convite.
- Vivi quase cinco décadas sem fazer nada que preste, nunca me acertei, e agora me dizem que sou especial. É claro que não acredito, mas que tenho a perder? Fico e observo!
Todos se levantam e me cumprimentam, dando boas vindas. Sorriem, satisfeitos.
O mesmo morenão “simpático” me encaminha aos meus aposentos, que são excelentes.
Cozinha própria, abastecida, dormitório aconchegante, banheiro espaçoso e macacões para vestir, mas nenhuma janela. Apenas uma tv ampla, que ligo e parece ter canais infinitos. Ao zapear por eles, vejo uma reunião em que aparecem dirigentes bem conhecidos, de alguns países, e, estranhamente, alguns animais sentados juntos. Deve ser alguma comédia!