QUEBRANDO BARREIRAS - OLHOS AZUIS - PARTE 15

XV - OLHOS AZUIS

Blue eyes, baby’s got blues eyes

Like a deep blue sea on a blue, blue day…

“Blue eyes” – do Álbum Jump Up! – 1982*

- Eram tão ligados e combinavam tanto que pareciam ser... marido e mulher... Renate falou.

- Isso.

- E não eram?

Bernie sorriu.

- Se eu dissesse que sim, faria diferença? Você deixaria de se casar com ele, se ele tivesse tido um caso homossexual comigo?

Ela pensou por um momento e respirou fundo:

- Não, o caso dele com John Reid de 70 a 75 é de domínio público. E eu gosto dele sabendo de tudo que ele é e já foi.

Bernie gostou da resposta e o sorriso abriu-se ainda mais.

- Isso me deixa tão feliz quanto se fosse ele que estivesse ouvindo sua resposta.

- E a minha resposta?

Bernie riu alto.

- Meio difícil enrolar você, não, senhorita Blauel?

- Quando diz respeito ao meu futuro...

- Isso não diz respeito ao seu futuro. Isso é passado. E diz respeito ao meu passado. Se você quiser saber a verdade, vai ter que perguntar a ele. Eu nunca tive nada a dizer a respeito disso porque não devo satisfação da minha vida a ninguém. Seja lá o que for que tenha acontecido com ele e comigo no passado, não acho que deva interferir nos seus planos futuros com ele. Você deve ver o que ele é agora. Riscos, corremos todos quando nos metemos num enredo tão complexo quanto o casamento. Ninguém é perfeito pra ninguém até que se prove o contrário. Casamento é um jogo, um risco... loteria. Ou a gente acerta ou a gente quebra a cara. Eu joguei duas vezes. Perdi a primeira e... estou entrando no sexto ano de casamento. O que já é uma façanha, porque o outro não durou nem cinco.

- Façanha?

- Pra um homem como eu...

- E, se me permite perguntar... o que esse homem está fazendo diferente dessa vez?

- Tentando manter a coisa mais saudável ao meu redor e... respeitando a chance que a vida me deu, depois de tanto tropeço, e a pessoa com quem eu durmo todo dia. Ela não é pouca coisa.

Renate sorriu e balançou a cabeça, concordando.

- Deixa eu ver se entendi... Você e Elton se afastaram por causa de um... cansaço que ambos sentiam.

- Basicamente… Nós subimos tão alto que perdemos nossa identidade diante de nós mesmos de modo que nem nós nos víamos como gente. Ele, mais do que eu, era o ídolo e sentiu o peso da fama e... acabou desmoronando de lá de cima de maneira pesada e cruel. Aí, cada um foi prum lado, ou melhor, eu fui pro oeste e ele ficou no leste, tentando se levantar. Só que antes de realmente nos levantarmos, levamos vários tombos bem feios ainda. Ele quase morreu várias vezes com overdoses de álcool, tranquilizantes e cocaína e deve agradecer aos céus todos os dias por isso e pelos amigos leais e a família que tem que estavam lá pra socorrê-lo. Mas a amizade que existia entre nós nunca morreu, resistiu a tudo bravamente. Eu o estimava e estimo como se deve estimar um irmão, ou a um pai, uma mãe... Esse tipo de coisa não acaba. Nós... não me entenda mal novamente… Nós nascemos um pro outro. Não dá mais pra fugir disso.

Ele sorriu maroto. Renate não conseguiu evitar fazer o mesmo.

- Você disse que o casamento é um risco e eu concordo. E eu sei que meu casamento com ele é... não querendo ser melodramática... um risco ainda maior… por ele ser como ele é... mas... eu venho acompanhando coisas que ele faz e diz e… ele não deixa de me parecer sempre muito... carente...

- Sempre foi. O medo que ele sentia do pai... e da mãe, era quase desumano. Ele queria muito ser amado pelos dois e nunca conseguiu isso. Era o mínimo que ele merecia como filho.

- Foi por isso que eu não fugi dessa situação ainda. Eu poderia dizer: “Não, não vai dar certo! Nenhuma mulher consegue mudar um homem assim, tão radicalmente”. Mas acho que só não se consegue mudar uma pessoa se... ela não estiver disposta a mudar também. E não é esse o caso dele. Não sei o que isso... ou… como isso age dentro dele; não sei que tipo de transformação isso está provocando nele, mas sinto que ele quer mudar ou já mudou, e eu resolvi ajudar nessa mudança.

- Já é um grande passo. Querer. Ele vai se sentir mais seguro se você ajudar. A seu favor você tem... os sentimentos de um homem que... tocaria piano na lua pela pessoa que ele ama. O sentimento “amor” é um exagero pro Elton. Ele é passional demais. Tudo que ele se propõe a fazer por amor por quem quer que seja ele faz com tanta intensidade que, quando não consegue... é capaz de se matar por isso, como já tentou várias vezes. Mas não se assuste, ele se apaixona de verdade uma vez a cada... dez anos. Mas tem muita necessidade de ser amado de verdade.

Ela riu.

- Posso te fazer outra pergunta bem... indiscreta?

Ele ergueu as sobrancelhas e mordeu o lábio inferior.

- Você consegue pendurar a gente no cadafalso, garota! Manda.

- O Elton se apaixonou por você em algum momento da vida dele?

A pergunta pegou Bernie desprevenido e ele ficou sem saber o que dizer.

- Eu disse que era indiscreta, mas pode ficar certo de que é a última, ela disse. – Pergunto isso porque você é e sempre foi um homem muito bonito. Quando conheci vocês achava isso e ainda acho.

- Obrigado pelo elogio… Renate, eu não quero falar por ele. Não transforme a minha... não-resposta... numa confirmação, por favor, é que... o que fez a dupla Elton John e Bernie Taupin crescer dentro do show business não foi só mero talento, foi... muito mais. Eu não saberia definir o que é. Seja lá o que tenha sido, não houve absolutamente nada de imoral na nossa trajetória. Acho que... se nós não tivéssemos feito nome na música em 70, com certeza não teria havido o episódio 76/77. É o que eu falei: se houve uma amizade desde 67, ela não morreu e não vai morrer nunca. Se você quiser chamar isso de paixão, então não foi só ele que sentiu, eu também. Eu escrevi “Your Song” pra ele em 69… Eu escrevi “We all fall in love sometimes” em 75 pra explicar a primeira… Cabe a você ler nas entrelinhas... se puder... Todo mundo já faz isso mesmo.

Renate sorriu e aceitou aquela resposta. Bernie levantou-se.

- Acho que eu vou indo. Tem uma festa na praia me esperando.

- Obrigada pela conversa. Foi muito elucidadora.

- Disponha, afinal... pra que servem os cunhados?

Eles riram. Bernie a beijou no rosto.

- Tchau.

- Tchau, boa festa.

Ele saiu. Renate apoiou o rosto nas mãos e ficou pensando em tudo. De certa forma, a conversa com Bernie lhe deu mais segurança. Uma espécie de certeza de que tudo estava acontecendo para dar certo.

Será?...

XV – OLHOS AZUIS - PARTE 15

OBRIGADA, SENHOR, PELOS OLHOS VERDES DE BERNIE...

E PELOS OLHOS GRANDES, TRISTES E DOCES DE ELTON!

QUE ESTÃO FELIZES AGORA

GRAÇAS ÀS BARREIRAS QUE ELE CONTINUA QUEBRANDO!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 08/03/2020
Reeditado em 09/03/2020
Código do texto: T6882897
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