QUEBRANDO BARREIRAS - OLHOS AZUIS - PARTE 14

XV - OLHOS AZUIS

Blue eyes, baby’s got blues eyes

Like a deep blue sea on a blue, blue day…

“Blue eyes” – do Álbum Jump Up! – 1982*

Renate ficou olhando para Bernie, preparando-se para fazer uma pergunta que mudaria totalmente o rumo da conversa, mas ela hesitava em perguntar por que conhecia o gênio do letrista e não sabia qual seria sua reação. Mas como ela não tinha outro meio de obter uma resposta convincente e verdadeira a não ser dele mesmo ou do próprio Elton, resolveu arriscar.

- Pode perguntar, Bernie falou, sorrindo, como se adivinhasse o pensamento dela.

- Como você sabe que eu tenho alguma coisa pra te perguntar?

- Todo mundo tem mil coisas pra me perguntar quando fala comigo sobre Elton John. Você não poderia ser diferente, ainda mais sendo a futura senhora John.

- Você acha que vai dar certo?

Ele coçou a ponta do nariz.

- Não era essa a pergunta que eu esperava.

- Não era isso que eu ia perguntar, mas responda... por favor.

- Eu não prevejo o futuro, Renate. Se eu pudesse fazer isso, não teria feito uma série de coisas na minha vida, embora saiba que... mesmo quem tem esse dom não pode mudar o futuro.

- Você não opina quando ele te pergunta ou pede alguma sugestão ou conselho sobre algo importante que fosse fazer?

- Não tanto quando antes, mas... claro.

- E acerta nas suas sugestões?

Bernie riu.

- Você está colocando em cima de mim uma responsabilidade de prever o que vai acontecer com vocês... Já falei: não sou vidente. Gostaria de prever o meu futuro com a minha mulher; queria saber se vou ficar com ela a vida inteira, se vou ter filhos com ela ou se vou me separar daqui dez anos como fiz com a primeira, mas... não tenho essa vidência. Gostaria de ter, mas não tenho.

- Você disse que não teria feito uma série de coisas no passado se pudesse prever o seu futuro. O que, por exemplo?

Bernie pensou e olhou para os dedos cruzados sobre a mesa e segurou a aliança larga que Toni colocou em seu dedo quando se casaram pela segunda vez, quando ele se naturalizou americano.

- Não teria me casado tão cedo...

- Só?

- Muitos dos meus outros problemas começaram daí. Não que eu me arrependa. Fui muito feliz com ela enquanto deu, mas tudo começou muito cedo pra mim, tudo mesmo. Comecei a beber com quinze anos, saí de casa pra conhecer o mundo com um pouco mais que isso, conheci o Elton com dezessete, com essa idade eu mudei pra Londres e já morava com ele, com dezoito eu já era conhecido na Inglaterra inteira, já tinha escrito “Skyline Pidgeon” com dezesseis e ela já era sucesso na voz dele e finalmente... perdi a virgindade com Maxine aos vinte, quando a conheci quando fomos pra América. Com vinte... eu já era rico; com vinte e um eu já era casado, já dirigia, produzia e elaborava álbuns pra outros cantores bem mais velhos que eu. Com vinte e seis já estava divorciado e num poço mais fundo que o inferno. – Bernie parou de falar por um momento e respirou fundo. – Agora com trinta e três… sou três anos mais novo que seu futuro marido, mas quem não nos conhece diria que ele é dez anos mais moço que eu.

- Tudo isso por causa de um casamento?

- Tudo isso depois das várias bobagens que eu fiz depois que me vi livre de laços que se partiram... quando eu me casei em 71.

- Por que você e Elton se separaram em 77?

- Essa era a pergunta! – ele falou, apontando para ela.

Renate não disse nada.

- A gente deu um tempo, não se separou em 76... Começou, pra mim pelo menos, umas... “férias de Elton John”... forçadas... Mas metade do mundo pensou assim. O que você acha como fã que nos levou a isso?

- Ele diz que vocês nunca se separaram a não ser fisicamente: Los Angeles/Londres.

- Pode acreditar. A verdade é só essa... Eu sempre amei a América, tanto que sou americano hoje, e ele... ficou aqui, embora seja do mundo. Ele é mais nômade que eu. Tem uma casa em cada parte do mundo que goste como gosta de Londres.

- Sempre houve amizade?

- Sempre… Dois irmãos deixam de ser amigos só por estarem em países diferentes? Acho que não. Pelo menos da minha parte, não posso dizer por ele.

- Mas então, o que aconteceu em 77? Ou 76... Como duas pessoas que se consideram amigos/irmãos podem ficar de repente distantes uma da outra por tanto tempo e pararem bruscamente um trabalho tão rico musicalmente como era o de vocês?

- Não... entenda mal o que eu vou falar, mas... toda parceria, toda dupla, todo conjunto de mentes que se reúnem por um propósito único passa por uma fase de... cansaço, estafa, um marasmo mental, se não cuidar da saúde dessa ligação. A gente não fez isso. Não fomos orientados pra isso. A gente era muito jovem e caiu de cabeça no glamour que a parceria dava pra gente. Houve uma época em que eu... não podia nem olhar pra cara dele, sem... sentir vontade de matá-lo... apesar de amá-lo muito. Dá pra entender?

Renate balançou a cabeça sutilmente, concordando. Bernie continuou:

- Ele, a seu modo, me tratava como um pertence dele. Ou era eu que me sentia assim, sei lá... Nós cansamos um do outro e de nós mesmos. Nossas vidas estavam tão ligadas que... bem, você deve ter ouvido ou lido alguma coisa sobre isso...

- Eram tão ligados e combinavam tanto que pareciam ser... marido e mulher... ela falou.

- Isso.

- E não eram?

Bernie sorriu.

XV – OLHOS AZUIS - PARTE 14

OBRIGADA, SENHOR, PELOS OLHOS VERDES DE BERNIE...

E PELOS OLHOS GRANDES, TRISTES E DOCES DE ELTON!

QUE ESTÃO FELIZES AGORA

GRAÇAS ÀS BARREIRAS QUE ELE CONTINUA QUEBRANDO!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 07/03/2020
Código do texto: T6882141
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