QUEBRANDO BARREIRAS - OLHOS AZUIS - PARTE 1

XV - OLHOS AZUIS

Blue eyes, baby’s got blues eyes

(Olhos azuis, meu bem tem olhos azuis)

Like a deep blue sea on a blue, blue day…

(Como um mar muito profundo num dia muito, muito azul…)

“Blue Eyes” – do Álbum Jump Up! - 1982*

Algo muito diferente e muito especial estava acontecendo com nosso herói. Modificações gritantes estavam ocorrendo em seu comportamento geral, durante o ensaio e elaboração das canções do novo álbum no AIR Estúdios.

Quem conhecia bem Elton John sabia e notava isso nos olhos do cantor, quando ele falava, quando ele compunha, quando ele cantava, quando ria ou mais especificamente quando não fazia nada disso. Quando ficava pensativo em seus momentos de solidão.

Depois do beijo tão sutilmente roubado de Renate Blauel, Elton já não era mais o mesmo. Ele passou a ficar nervoso quando ela estava por perto. O coração acelerava e as mãos suavam.

Tímido por natureza, ele perdia noção de qualquer coisa que estivesse fazendo e procurava disfarçar, muito desajeitadamente. A banda, naquele momento reduzida a Davey, Nigel e Dee, que o conhecia melhor do que muita gente, notava e comentava quando ele não estava por perto.

- Ele não está bem, falou Nigel, sentado à mesa onde tomava um chá num intervalo de descanso, com Davey e Dee, próximo ao estúdio, já em Montserrat onde o álbum seria gravado.

- Também percebi, disse Dee. – Ontem ele errou todas as frases melódicas de “Sad Songs” durante o ensaio e olha que a letra é bem simples! É a canção que ele mais gosta das últimas letras que o Taupin fez e de todas que já fizemos pra esse álbum e ele errou quase tudo! Nunca vi o Elton assim.

- Eu já, falou Davey, tomando um gole de chá.

- Quando? – Nigel perguntou.

- Em 72 no Château.

- Ah, mas ali estava doente mesmo. Você não se lembra? Estava com mononucleose.

- É... Pode ser...

- Ele está estranho desde...

Nigel parou a frase no meio e ficou pensativo; coçou a testa e aguçou a curiosidade de Davey e Dee.

- Desde o quê? – Davey perguntou, curioso.

- Davey, você uma vez falou que achava estranho... que o Elton tivesse escolhido a engenheira de som alemã pra gravar o novo álbum assim, sem conhecimento direto do trabalho dela, não foi?

- É, eu pensei que ele fosse chamar o Price novamente, mas depois ele explicou que queria fazer um teste, uma experiência com ela porque a achava... competente.

- Amigo, que eu saiba, Elton John não faz experiências com seus discos.

- Nigel, eu também achei estranho, mas quando ele resolve atravessar o Rio Tâmisa a nado, quem tira isso da cabeça dele? Ele vive querendo mudar o som dele. Vocês sabem disso melhor do que eu. Já sofreram na pele as consequências em 75. Eu não interferi porque, geralmente, ou as ideias dele dão muito errado ou muito certo; não achei que essa fosse tão arriscada e poderia dar certo... e está dando, não está?

- Até demais… Chego a desconfiar, Nigel falou.

- Até demais por quê? – Dee perguntou.

Ele deu um leve sorriso.

- Ele gagueja muito quando está perto dela, já perceberam?

Dee e Davey se olharam, ponderando sobre o assunto.

- Ah, o Elton gagueja na frente de qualquer mulher bonita que não conheça e que não seja a Sheila, a Kiki ou a Rainha Elizabeth! – falou Davey. – Você sabe disso. O Elton não tem descontração nenhuma com mulheres.

- Quando às vê pela primeira ou segunda vez. Nós estamos trabalhando nesse álbum há quase um mês e ele a vê praticamente todos os dias, tanto na Inglaterra quando na ilha. Que diabos de timidez é essa, DJ?

Davey calou-se e apoiou o braço na mão, coçando a testa e dando de ombros.

- Sei lá!... Você acha que ele está apaixonado pela Renate?

- Não vou arriscar a responder sim nem não, mas se eu fosse vocês, começava a observar o Choc Ice.

- Mas ela não é nem rica nem atraente! – falou Davey.

- Gosto não se discute, Davey. Ela pode não ser bonita, mas parece ser uma garota legal.

- Meio seca com a gente. Alemã demais.

- Cada um tem seu jeito de tratar as pessoas, cara, isso é preconceito. Eu acho que ela age normalmente com a gente. É uma garota. Não é o Bill Price E talvez seja isso mesmo que o Elton gostou nela. Ela é séria e responsável. Você sabe muito bem que quando o assunto é trabalho, ele leva essas qualidades muito a sério. “Workaholic” como ele é...

- E ele está procurando uma mulher como a mãe dele... disse Dee.

Nigel e Davey olharam para ele ao mesmo tempo.

- Será? A Sheila é uma mãe meio estranha... – comentou Davey. – Eles têm uns arranca-rabos homéricos de vez em quando.

- Bom... pelo menos não é um homem desta vez... acho...

Os três riram.

- Bom, mas se for isso... a Sheila é estranha até com a gente.

- A gente não conhece a Renate direito, continuou Dee.

- Exatamente, esse é o ponto! – concordou Nigel.

- Ah, tudo bem, tudo bem! Vamos... investigar o Choc Ice como o Nigel disse. Mas... e se for verdade?

- Que tem?

- Vamos deixar ele casar... com uma mulher? Ele é gay, caramba!

Nigel e Dee riram.

- E por que não, bobalhão? Você tem cada uma, Davey. É bom experimentar de tudo.

Ninguém mais disse nada. A dúvida ficou no ar...

XV – OLHOS AZUIS - PARTE 1

OBRIGADA, SENHOR, PELOS OLHOS VERDES DE BERNIE...

E PELOS OLHOS GRANDES, TRISTES E DOCES DE ELTON!

QUE ESTÃO FELIZES AGORA

GRAÇAS ÀS BARREIRAS QUE ELE CONTINUA QUEBRANDO!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 23/02/2020
Reeditado em 27/04/2020
Código do texto: T6872294
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.