QUEBRANDO BARREIRAS - INQUIETO - PARTE 11

XIV - INQUIETO

Everybody is restless, everybody is scared

Everybody is looking for something that just ain’t there

Everyboby is restless!

“Restless” – do Álbum Breaking Hearts – 1984

Se o Brasil estava nos planos de Elton, não se sabia, mas planos mesmo haviam sido feitos com Rod Stewart. Os dois amigos/rivais, pelo menos diante da mídia, pretendiam fazer shows juntos e ambos foram em outubro daquele ano para a África do Sul e cantaram juntos no Clube Sun City que estava sendo boicotado por vários artistas brancos por não receberem em seu interior pessoas negras.

Quando Elton e Rod cantaram lá, foram ameaçados de entrarem na lista negra dos líderes do movimento, mas, em declaração à imprensa, Elton disse não ter envolvimento político nenhum com ninguém. Não ficava aborrecido com as ameaças, mas teve que assinar uma petição pública elaborada pelos ativistas antiaphartheid prometendo nunca mais voltar a fazer shows lá sob ameaça de morte.

O fato era que Elton gostou tanto de cantar com Rod no clube que isso só aumentou os planos dos dois amigos de excursionarem juntos no ano seguinte, pela Inglaterra, no verão.

Os dois pretendiam fazer shows em que houvesse espaço individual para ambos, no mesmo palco, durante uma hora cada, isso na opinião de Elton.

Rod tinha planos diferentes, como sempre, já que nunca estava totalmente de acordo com o que o amigo queria. Ele pretendia que os shows descem espaço de apenas vinte minutos para cada, como uma espécie de batalha de bandas. Seriam dois palcos separados de modo que a platéia pudesse ver bem cada um separadamente.

Essa ideia de excursionarem juntos começou de uma brincadeira entre Elton “Sharon”, Rod “Phillis” e Fred “Melina” Mercury, vocalista do Queen.

Certa noite, estando os três juntos, tiveram a ideia mirabolante de formar um grupo chamado “Teeth, Nose and Hair” (Dente, Nariz e Cabelo!) fazendo uma alusão cômica a cada parte mais proeminente de cada um dos três: os dentes de Fred, conhecidos pela sua saliência; o nariz de Rod, conhecido pelo seu tamanho; e os cabelos de Elton, conhecidos por sua... escassez!

Por força do destino, Fred logo afastou-se da ideia por motivos particulares e Elton e Rod resolveram levar aquela ideia maluca adiante... sozinhos.

Discutindo ainda sobre isso, Rod e Elton tentavam entrar num acordo, o que estava bem complicado.

- Eles vão ter que nos dar camarins separados! – falou Rod, sentado à beira da piscina em sua casa em Los Angeles.

Estavam com ele Elton, Bernie, Davey, John Reid, Nigel Olsson e Wayne, seu irmão. Paul Rolland, jornalista e amigo comum de todos eles, estava ali também registrando tudo com seu gravador.

- Por que, Rod? – perguntou Wayne, com um coquetel de frutas nas mãos.

- Não quero misturar minhas roupas com as dele!

- Concordo e deve ter pelo menos um quilômetro de distância de um para o outro, disse Elton, tomando um gole de seu drinque. – Ele leva séculos pra ficar pronto e é tão exigente com roupas que Deus me livre!

- Ah, você não é? - perguntou Rod. – Não é, Bernie? Digam Nigel, Davey, não concordam comigo? Todo mundo aqui conhece esse defeito dele.

Ninguém respondeu nada, apenas riram. Rod ficou possesso.

- Bando de puxa-sacos! Estão com medo de falar, não é? Medo que ele os despeça outra vez! O salário de vocês sai do bolso dele, não é?

- Um dia, ele pagou e saiu do Hotel Dorchester no mesmo dia de entrada só porque os lençóis eram muito crespos, atacou Elton.

- Mentira! – gritou Rod, com o dedo indicador em riste no nariz dele.

- Mentira? O gerente está lá ainda pra provar. Você dizia que arranhavam seus cotovelos. Lembra que eu te mandei uma camisola de seda de mangas longas? – Elton perguntou, rindo.

- Disso eu lembro. Depois eu te convidei pra jantar e você deu uma desculpa boba de que não estava se sentindo bem...

- E não estava mesmo!

- Conversa! Larga de ser mentiroso! Aí, eu te mandei uma coroa de flores pensando que você fosse morrer, mas os meus sonhos não se realizaram.

- Jesus Cristo! – exclamou Bernie em voz baixa, coçando a testa. – Vocês dois vão fazer o veneno escorrer pela água da piscina.

Paul e os outros riam a valer, sem interferir.

- Ele já contou pra você como a gente se conheceu, Paul?

Paul balançou a cabeça negando e ainda rindo.

- Não daria pra perder tempo com uma coisa tão deprimente, falou Elton.

- Há sempre duas versões em tudo que se refere a vocês, Rod, disse Davey.

- Uma sua e outra dele, ajudou Nigel.

- Mas a minha é a verdadeira! – disse Rod categórico.

- Claro... Elton disse, baixinho.

- Claro mesmo. Vou contar...

- Pelo amor de Deus... Bernie gemeu.

- Eu lembro que ele veio me pedir autógrafo lá no Railway, aquele hotel perto do Watford.

Elton riu gostoso.

- Eu fui pedir autógrafo seu? Por quê? Você tinha pouco mais de quinze anos, Roderick!

- Mas já era craque do juvenil do Brendford, uma promessa!

- Craque? A única coisa que você fazia bem num campo de futebol era polir as chuteiras dos jogadores.

- A inveja mata, não, amigo? – bazofiou Rod, debochado.

Davey, John, Nigel, Wayne e Paul riram muito. Bernie só ficou olhando para os dois sem acreditar. Resolveu acender um cigarro.

- Que inveja? Inveja do quê? – Elton perguntou.

- Que aconteceu quando ele foi pedir seu autógrafo? - Bernie perguntou, querendo ver a continuação do show.

- Pois é... Ele era uma gracinha naquela época. Devia ter algum cabelo na cabeça ainda...

Elton avançou nele puxou seu cabelo. Rod gritou.

- Posso fazer a gente ficar quites, magricela!

Rod bateu na mão dele que o soltou.

- Eu dei o autógrafo a ele e...

- Você não tinha nem caneta pra me dar autógrafo, Rod! Larga de dizer bobagens. Todo mundo sabe que nem você nem eu tínhamos nada quando nos conhecemos. Como você pode ser tão mentiroso?

- Do mesmo modo como você pode ser tão homem, benzinho, ele falou cínico.

Elton mordeu um palavrão junto com o lábio superior enquanto os outros riam.

XIV – INQUIETO - PARTE 11

OBRIGADA, SENHOR, PELAS MINHAS INQUIETAÇÕES...

E PELAS MINHAS CERTEZAS!

BOM DIA!

DEUS NOS ABENÇOE A TODOS