Q.B. - CHOC ICE GOES MENTAL - PARTE 15

XIII - CHOC ICE GOES MENTAL

(Lord Choc Ice... fica maluco!)

Renate Blauel esticou o corpo para trás e desfez o rabo de cavalo, ajeitando os cabelos pretos graciosamente. Elton sentou-se onde Peggy estava sentada e começou a mexer a esmo nos botões e controles da mesa de som. Renate o observou por um instante e perguntou:

- Por que você não quer sair na rua de verdade?

- Você deve saber que eu não ando muito popular com as mães de família por aí...

- Você liga pra boatos?

- Se você fosse eu não ligaria?

Ela sorriu, esfregando os olhos cansados.

- É, tem razão. Mas não é o mundo inteiro que te condena. Nem todas as mães de família devem ter a mesma opinião. Você vai se trancar em casa e quem te garante que os boatos vão parar?

- Ninguém me garante, mas eu não estou muito disposto a arriscar. Quero só um pouquinho de paz.

Eles ficaram em silêncio por algum tempo. Elton continuava distraído com os botões. Ela ficou olhando para ele com atenção. Imaginava que ele entendia daquilo tudo muito bem. Conhecia cada um daqueles botões pela experiência de estúdio que tinha. Dentro daquela cabeça devia haver anos de conhecimento musical que secretamente ela invejava. Olhou para suas mãos gordinhas e os anéis de brilhantes que as enfeitava.

Quando se notou observado, ele olhou também para ela. Renate sorriu, disfarçando. Ele também sorriu, timidamente.

- O que foi? – ele perguntou.

- Você tem mãos bonitas.

Ele olhou para as mãos e ficou sem jeito, olhando e fechando as duas.

- Você acha?

- Acho. É um tipo diferente de mãos pra quem toca piano.

- Diferente? Cinco dedos em cada uma, tudo igual...

Ela riu. Ele também. Sabia ao que ela se referia.

- Me desculpe. Eu entendo o que você quer dizer. Mas eu não penso muito nisso. Dick James dizia que eu tinha mãos de boxeador anão. Já me disseram uma vez há muitos, mas muitos anos mesmo, que eu tinha estrelas nas mãos quando tocava.

- Quem?

- O cara que me deu o nome.

- Seu pai?

Ele riu.

- Não. O cara que me deu o nome Elton. O saxofonista da minha primeira banda, Elton Dean. Na verdade ele não deu, eu roubei dele. Quase roubei o nome inteiro! Adorava a sonoridade do nome dele.

- Ah, já ouvi falar, ela disse, rindo também. – Elton Dean, saxofonista do Bluesology.

- Pesquisou minha vida?

- Um bom engenheiro de som deve conhecer muito bem de música e de quem a faz. Eu leio muito sobre tudo de música e de quem faz. Você não foi o único que eu pesquisei, mas a pesquisa foi muito interessante.

- Não precisa exagerar. Eu entenderia se você dissesse que leu isso em algum pedaço de jornal antigo.

- Você se considera antigo?

Elton olhou para ela e respondeu:

- Você faz cada pergunta que me deixa sem resposta, sabia?

- Faço? Não é minha intenção...

- Não fez muitas hoje ainda, mas naquele dia, depois que saímos da casa do Bernie... Tinha momentos em que eu não sabia se dirigia ou se parava o carro e pensava para responder.

- Santo Deus! Sério? Está vendo porque eu gosto só de ouvir? Não imaginei que tivesse deixado você constrangido.

- Não, não fiquei constrangido. É que a gente fica acostumado a responder banalidades ou sobre a vida musical que quando as perguntas fortes aparecem, dá o que pensar.

- Perguntas fortes ou... indiscretas?

- Um pouquinho de cada, ele respondeu, sorrindo. – Mas não se reprima por minha causa. Não quero que pense antes de falar qualquer coisa comigo. Eu dou um jeitinho de responder a tudo dentro do possível. Mas... se eu me acho antigo? Não, mas considerando-se que essa estória com Elton Dean já tem mais de quinze anos, qualquer coisa que se fale sobre isso, obviamente seria bem antiga.

- Eu não me importo de me lembrar das coisas... “antigas”, ela falou, mostrando as aspas com os dedos das mãos no ar. – Não consigo me imaginar nascendo numa outra época. Com a minha profissão, foi tão bom ter vivido nesse período da música. Eu acho um privilégio dizer que há dez ou quinze anos aconteceu isso ou aquilo comigo. Que conheço essa ou aquela canção que foi lançada na década de sessenta ou setenta e eu curti muito. O importante não é há quantos anos você nasceu; importante é como você viveu esses anos.

- Concordo em cada vírgula, ele disse. – A partir de hoje não vou mais ter receio de admitir que sou... antigo.

Eles riram.

- Só que não dá pra se notar onde, Elton. Você está muito bem. Pra um homem de trinta e seis anos, você está devendo alguns pra provar que tem. Você está ótimo!

Elton baixou os olhos para a mesa de som, encabulado.

XIII – CHOC ICE GOES MENTAL - PARTE 15

VOCÊ JÁ PERDEU A CABEÇA ALGUMA VEZ...

QUANDO AS COISAS NÃO CORREM COMO VOCÊ ESPERA?

QUEM NÃO, NÃO É?

DEUS NOS ABENÇOE A TODOS

OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO QUE CORRE BEM EM MINHA VIDA!

E PELO QUE NÃO CORRE TAMBÉM!

Velucy
Enviado por Velucy em 30/01/2020
Código do texto: T6853909
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