QUEBRANDO BARREIRAS - QUINZE ANOS - PARTE 17

XI - QUINZE ANOS...

We don’t regret a single day, you see?

Some of it was fun…

Elton e Bernie

- Não estamos falando de mim, Elton, disse Bernie. - Nós estamos falando de você. Você... apesar dessa genialidade toda, parece se esconder, se acomodar atrás dessa nossa rotina de criação. Você mesmo reconhece que é um dos melhores compositores de instrumentais que existem e eu concordo. Sou testemunha disso. Você parece ter um piano dentro da cabeça e é capaz de tirar música até... do texto da Constituição Americana, caramba! Provou isso a pouco tempo, fazendo música do texto do Joe Doe, “Nenhum Homem é uma ilha” que o Gambaccini deu pra você diante de todo mundo. Você faz isso com a mesma facilidade que eu fumo meu cigarro! E tem coisas lindas escritas que eu já ouvi que não tiveram nada a ver com minhas letras! Por que as pessoas não podem ouvir essas coisas também?

- Bernie, eu não sei se teria a sorte de Jean Luc Ponti ou... Jean Michel Jarret... ele falou ajeitando os óculos sobre o nariz, sorrindo.

- Ora bolas, cara! Não estou falando de sorte. Eu estou falando do talento de Elton Hercules John, droga!

- Instrumentais dificilmente entram no Top Ten, Bernie.

- “Song for Guy” agradou, não agradou?

- “Song for Guy” chamou a atenção de todo mundo porque foi feita de uma situação dramática, de um momento de depressão meu. Ainda hoje penso se foi bom negócio ter ganhado dinheiro em cima da morte do Guy. As pessoas compram desgraças com tanta facilidade que, se alguém abrisse uma loja que vendesse biografias póstumas e discos com temas de morte e folhetos contendo detalhes pitorescos da vida privada de pessoas famosas, esse alguém ficaria milionário em menos de um mês! As pessoas não estão interessadas em ouvir instrumentais, isso não diverte.

- Pelo que eu ouvi na entrevista, você não está interessado só em divertir ninguém e muito menos em ganhar dinheiro. Faça isso por você mesmo! Tem uma coisa amarrada aí dentro de você desde que o Lennon morreu. Transforme isso em melodia.

- Obrigado pela ideia. Já fiz “The man who never died”...

- Mas não divulgou!

- Talvez saia este ano com o álbum novo...

- Que os anjos digam amém! E a ideia não é minha e você sabe disso. Está na sua cabeça há muito tempo. O que te prende é o sentimento tolo que te fez registrar “Out of the blues” e “Theme from an non-existent TV series” como sendo composição de Elton John e Bernie Taupin em 76 sendo que todo trabalho foi seu, caramba! Dois instrumentais genuinamente seus! O instrumental inicial de “Tonight” é lindo! Até a letra de “Sorry seems to be” é sua e olha o sucesso que ela nos deu, caramba! O medo idiota de me magoar.

Elton não disse nada.

- Eu não vou ficar menos rico se você quiser... fazer qualquer trabalho sem mim. Eu não pretendo trabalhar a vida inteira só com você, sabia?

Bernie coçou levemente a testa e sorriu cínico.

- E eu aplaudo essa sua decisão... merdinha! – Elton disse, chutando a perna dele. - Só que eu não quero mudar meu jeito de trabalhar com você. Isso dá certo há quinze anos. Deu sempre certo assim e vai continuar sendo assim. Quero fotos suas nos meus discos, quero seu nome nos créditos dos meus vídeos e quero pelo menos as suas sombras nos especiais a meu respeito, já que você mesmo raramente aparece. Estamos fazendo quinze anos de parceria e eu quero fazer vinte, trinta anos de parceria com você. Nunca tive do que reclamar e tem sido muito gratificante explorar você, moleque...

- Eu digo o mesmo... parceiro, disse Bernie, tranquilo, mas emocionado por dentro.

Os dois ficaram em silêncio por um momento. Bernie olhou para a fumaça do próprio cigarro e Elton olhava para ele. Resolveu quebrar aquele silêncio estranho, depois de uma declaração de amizade tão importante entre os dois.

- Pois então... Quando eu fizer quarenta anos, daqui cinco, a gente faz um balancete geral, vê e pesa os prós e os contras, bota tudo na balança e decide de novo se chuta o traseiro um do outro pra tentar enrolar outro idiota. Fizemos isso há cinco anos e nos afastamos. Deixe essa nova mudança para 87, tá? Vamos agir como se estivéssemos prestes a gravar...

- “Goodbye yellow brick road”, Bernie falou.

- É. E enquanto isso, você pode co-escrever canções com quem quiser, produzir quem quiser e editar quantos livros quiser, badalar muito na sociedade da Cidade dos Anjos com a sua Toni e eu vou me limitar a te pedir que não desapareça atrás de nenhum arco-íris no Vale de São Fernando. Fique longe de mim, Bernie... mas não me deixe... nunca mais.

- Por que ficar longe de você?

Elton respirou fundo e levantou-se, dando alguns passos pela sala com as mãos nos bolsos.

- Você sabe por quê.

Bernie ia falar alguma coisa que Elton cortou.

- Não! Isso quem decide sou eu. Eu quero refazer certos valores meus. Estou... “redecorando a casa” e quero fazer isso sozinho. E como tudo que eu tento que fazer sempre causa muita polêmica e minha música acaba sempre sendo afetada, e como tudo que me afeta, afeta você e acaba sendo jogado nas suas letras, te quero longe, como tem sido desde que estamos juntos, nessa... segunda fase. Não quero que as minhas loucuras respinguem em você.

Bernie apagou o cigarro no cinzeiro.

- Você está me colocando de volta naquela redoma de vidro.

- E quero você dentro dela. E não é de vidro desta vez. É de cristal... Publicamente... nunca se meta na minha vida particular.

- Ei, que é isso? – Bernie perguntou, rindo, abismado com aquele pedido. – Eu nunca me meti...

- Eu sei o que eu faço, Elton interrompeu. – Agora eu estou certo do que eu quero e... se eu me der mal, pelo menos serei eu sozinho. Veja bem, não estou te afastando da minha vida; muito pelo contrário, quero você bem perto de mim, mas não quero que as pessoas que não interessam saibam disso.

Bernie sorriu, franziu as sobrancelhas, cruzou os dedos das mãos apoiando o rosto nelas e disse:

- Vou ter que usar vários dos meus poderes mágicos pra conseguir essa façanha.

- Você consegue, meu duende de olhos verdes. Chame seus amigos elfos. Eles te ajudam, brincou Elton.

- Tudo bem. Vou fazer seu jogo, Capitão.

- Me ajudaria muito. Não quero mais ninguém machucado por minha causa, principalmente você. Eu te amo e isso me machuca duas vezes e eu não sei se tenho estrutura pra tanto. Minha mãe, o Fred, você... a família que eu quero formar no futuro... Tudo isso é muito sagrado pra mim. Eu quero ter algo de bom pra contar... pros meus filhos.

- Pelo brilho nos seus olhos, já deve ter alguém em vista pra realizar esse sonho.

- Não, não tenho.

- Tem sim.

- Não tenho, juro que não tenho!

- Eu o conheço há séculos e conheço um Reg Dwight encantando quando vejo um.

- Eu não estou apaixonado...

- Não disse que você está apaixonado, disse que está encantado. É diferente.

- Nunca vi isso.

- Nem poderia. É a modalidade passional exclusivamente sua. Você não se apaixona de cara. Você não ama de cara. Você primeiro se encanta pela pessoa.

- Ah, vá pro inferno! Onde você inventou isso?

- Quando conheci um baixinho gordo com uns óculos do tamanho do mundo na cara, que me dizia que aos vinte anos nunca tinha transado com uma garota na vida e numa bela noite apareceu em casa dizendo que ia casar com uma tal de Linda... como era mesmo o sobrenome dela?

XI – QUINZE ANOS - PARTE 17

O QUE VOCÊ ESTARÁ FAZENDO DAQUI QUINZE ANOS?

SEMANA DO NATAL!

BOM DIA E LEMBRE-SE... NATAL SEM CRISTO NÃO É NATAL!

QUE O MENINO QUE ESTÁ PARA NASCER ILUMINE NOSSAS VIDAS

OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!

Velucy
Enviado por Velucy em 23/12/2019
Código do texto: T6825020
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