QUEBRANDO BARREIRAS - QUINZE ANOS - PARTE 6

XI - QUINZE ANOS...

We don’t regret a single day, you see?

(Não nos arrependemos de um único dia, sabe?)

Some of it was fun…

(Parte disso foi divertido…)

Elton e Bernie

(Frase extraída da letra de Bernie em Approaching Armaggedon)

John e Elton saíram para seu compromisso na Casa Branca. Sheila ficou olhando para a porta com um leve sorriso de orgulho misturado com tristeza no rosto que Bernie ficou observando. Ele aproximou-se dela por trás e a enlaçou pela cintura.

- Ele parece bem, não parece? – ele perguntou.

Ela confirmou, balançando a cabeça.

- Agora... me diga você, Bernie... Você o conhece muito bem. Meu filho está feliz de verdade?

- Acho que ninguém é feliz de verdade se está sempre a procura de alguma coisa, Sheila, e ele está. O que eu posso te dizer é que esta procura não está sendo penosa pra ele agora, como era antes.

- Há pessoas tentando derrubá-lo, ela falou com ar triste.

- Eu sei, ele falou, levando-a até o sofá onde se sentaram. – Mas talvez isso o esteja ajudando a se ver por outro lado. Tentar se ver de um modo diferente talvez o ajude a ultrapassar tudo isso. O menino que você fez nascer e criou e o Reg Dwight que eu conheci mudaram muito, Sheila. Graças a uma porção de tabus aí fora, ele está tendo que se moldar outra vez e isso é difícil pra ele, mas ele está conseguindo.

- Você fala... do fato de ele ser... bissexual?

- É...

- Ele e o... John Reid têm se comportado?

Bernie sorriu.

- Não sei, Sheila... eu não convivo com eles. Eles não moram mais juntos, mas... Sinceramente não sei o que você chama de... se comportar.

- Meu menino me falou que pretende se casar...

- Falou pra mim também.

- O que você pensa disso?

- Não sei, Bernie disse com um leve sorriso. – Não sou eu quem vai se casar com ele. Não é a minha opinião que importa. Ele é um homem nascido originalmente pra dividir uma cama com uma mulher, num casamento. O que a gente não pode é falar nisso como se estivesse falando... do cruzamento de um elefante com uma formiga. Ele pode até se dar bem indo pra cama com um homem, mas não há nada errado com o fato de ele vir a se casar com uma mulher. Muito pelo contrário, ele pode fazer isso porque nasceu anatomicamente adaptado pra isso. Seu Reg não é nenhum monstro assexuado, Sheila. É sadio e perfeito. O que há é... alguma coisa dentro dele que o faz ter prazer com aquele que a sociedade chama de... parceiro errado! E isso é questão de gosto. Não sei se estou errado, mas... pra mim que o conheço há tanto tempo... não é nenhuma anomalia. Nele não.

- Pensei que você detestasse falar sobre esse assunto.

- Por quê? – ele perguntou com um leve sorriso.

- Eu me lembro do que você passou por causa disso...

Bernie baixou os olhos.

- Isso é passado, Sheila. Bem passado. Naquela época eu gostaria de me esconder no buraco mais escuro cada vez que falavam disso; agora... agora eu gostaria de tê-lo entendido melhor quando a coisa toda veio à tona. Eu me afastei quando ele mais precisava de mim...

- Ele também o abandou quando você mais precisava dele...

- Saímos cada um correndo pra um lado e acabamos batendo numa parede que jogou a gente de volta um pro outro, ele falou, sorrindo.

Bernie respirou fundo.

- Mas minha amizade... e meu amor e admiração por ele crescem a cada dia, acredite. Tenho vontade de matá-lo, às vezes, mas... passa logo.

Sheila o abraçou, sorrindo.

- Ficou tão feliz de ouvir isso, filho. Nunca deixei de considerar você meu segundo filho, com todo respeito à Daphne, claro. Aliás, como ela está? E Robert...? Os meninos...

- Devem estar bem. Faz pouco mais de um mês que eu estive em casa. Mamãe está bem. Meu pai também. E os meus irmãos... sendo meus irmãos, devem estar bem também.

Bernie afastou-se dela, sorrindo.

- Sabe aonde eu fui ontem? – ele perguntou.

- Não.

- A Islington, a Northwood Hill, à Furlong Road…

- Mesmo? Recordar?

- É... Eu nunca fui disso. Não sei o que me deu. Foi uma sensação tão gostosa e... ao mesmo tempo... dolorosa. Ver aquilo tudo novamente... Pensar que já fazem quinze anos que isso tudo começou. Quinze anos! E eu tinha dezessete... Quantas brigas nós dois tivemos naquele apartamento, poxa! Quantas vezes eu o vi chorar por não conseguirmos agradar a Dick James e não conseguirmos sair do chão. Quantas vezes eu não o vi varar madrugadas compondo... enquanto eu resmungava que ele precisava dormir. Era uma relação tão bonita a nossa... Eu tinha... tenho ainda uma enorme admiração por ele, embora o achasse meio... boboca às vezes... Não se zangue comigo...

Ela sorriu e balançou a cabeça, saudosa.

- O Reg era inocente demais pra idade, ele continuou. - Era praticamente um garoto de vinte e três anos a respeito de tudo, de sexo, de vícios, de... tudo. Com dezessete anos eu já conhecia tanto do mundo e ele nem parecia ter nascido ainda. Eu, às vezes, não sabia se ele era inexperiente demais ou... eu que era depravado demais... doido pra deixar de ser virgem...

Ambos riram, Bernie pigarreou e continuou:

- Quando eu contava pra ele coisas que eu havia conhecido em Lincolnshire e nos lugares onde havia ido... ele me ouvia boquiaberto, com aqueles olhos castanhos dele olhando pra mim, meio assustados, e depois dizia: “Lá vem você com uma de suas estórias. É mais um conto da fadas seu!”... E às vezes era mesmo. Eu nunca consegui definir o que era ficção e o que era verdade nas coisas que eu tinha na cabeça, mas era daí que eu tirava as minhas letras. E ele... me permitia criar. Ele deixava minha imaginação rolar livre e musicava tudo com tanta facilidade que... eu deduzia que tudo que ele não sabia do mundo... ele sabia de música. Um gênio... Seu filho é um gênio, Sheila! Sempre foi. O melhor... e o mais perfeito pianista que eu já tive o prazer de conhecer... pessoal e intimamente.

Bernie ficou olhando para as mãos de Sheila entre as suas e respirou fundo, como se acordasse de um sonho.

XI – QUINZE ANOS - PARTE 6

COMO VOCÊ ERA AOS QUINZE ANOS?

JÁ COMEMOROU QUINZE ANOS DE ALGUMA COISA?

E O QUE ESTARÁ FAZENDO DAQUI QUINZE?

BOM DIA E QUE DEUS ILUMINE NOSSAS VIDAS

OBRIGADA!