A Primavera da URSAL-União das Republicas Socialistas da América Latina
A Primavera da URSAL-União das Republicas Socialistas da América Latina
Quando abriram a porta do carro o ar quente foi um choque. Quente e seco, antes do meio dia. Joaquim Sebastian Leão, primeiro ministro, comandante em chefe das forças unidas e ao mesmo tempo, presidente do Conselho Executivo da União, sabia que Brasília sempre estaria assim nesses meses de maio, junho e até setembro.
Câmeras, flashes, dezenas de pequenos aparelhos, silenciosos voando à frente, ao lado e em cima, registravam até seu mínimo movimento.
Pior, mais quentes e secos, insensíveis, são os deputados da Força Nova, pensou e caminhou sob o sol, acenando distraidamente para uma centena de pessoas, sabedoras de sua chegada e o aguardando. Não resistiu, afastou com o braço esquerdo um segurança que não o queria perto da cerca, e estendeu o outro braço para o pequeno menino negro nos braços de uma mulher apoiada na cerca.
Os tiros vieram com um pensamento de espanto e urgência: É preciso não deixar que eles avancem. E tudo ficou escuro.
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Quinze anos antes no mesmo local um milhão de pessoas se aglomeravam, cantando, dançando, entupindo ruas e a imensidão da esplanada e em mais 33 países das Américas, milhares faziam a mesma festa. Oficialmente, finda a resistência, desarmado o último (na verdade a última combatente), a URSAL era realidade.
Uma imensa, caótica e ainda tênue estrutura política, social, econômica e física, tomava forma com gente nas ruas, com festas e alegria, sepultando (ou varrendo para baixo do tapete, a depender da opinião), as dores, mágoas e diferenças (enormes) de um território de milhões de quilômetros e muitos mais milhões de pessoas.
O sonho, uma mentira para alavancar uma insignificante candidatura de quase 100 anos atrás e feita como crítica aos verdadeiros sonhadores, virava (quase), realidade: Nascia oficialmente, no papel, nos quarteis, nas universidades e nas ruas, a União das Repúblicas Socialistas da América Latina – URSAL.
Quando levantou o braço e encarou o desafio JS teve a certeza que ele seria o pedreiro capaz de erguer e manter em pé a estrutura inventada.
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Não tinha a mínima idéia de toda a engrenagem que se movimentou assim que o último dos três tiros que o atingiram silenciou.
Metade dos pequenos e rápidos drones não eram aparelhagem jornalística, ainda que mostrassem insígnias dos principais canais de televisão e alguns de blogs conhecidos. Eram máquinas mortíferas, independente de operadores humanos e reagindo em função das reações do Premier, identificando as rotas das perfurações e disparando, acionando alarmes e ligando remotamente helicópteros e as sirenes de viaturas que ainda estavam sem os motoristas.
O atirador recebeu oito tiros só no rosto.
Dos três que atingiram o Premier dois bateram sem danos no colete à altura do coração e o último fez um profundo corte ao longo de sua face, aprofundando-se na altura da testa e o jogando no chão. O atirador era profissional e a sua percepção da não letalidade dos tiros, apesar da segurança de atingir, abaixo do pescoço o levou a corrigir a mira e acertar a cabeça. Acertou.
A bala feriu o premier e continuou sua trajetória atingindo um senhor, do outro lado da avenida à altura do ombro. A correria dos presentes machucou algumas pessoas e os tiros disparados pelos drones também. Quatro internados sem muita perspectiva de sobrevivência, entre eles uma mulher, dois idosos, sempre presentes à chegada do Premier e um jovem que tinha ido pela primeira vez ver de perto “o maior líder do mundo”.
Antes de cair ele foi amparado e meio minuto depois estava em um helicóptero.
Dois minutos depois o mundo inteiro revia as cenas. Meia hora depois um gabinete de emergência estava formado. Uma hora depois milhares de tropas de prontidão, centenas de navios e aviões prontos para voar. Ao longo da costa do Pacífico e do Atlântico, milhares começaram a sair de suas casas e ir para a rua em apoio ao Premier.
Em uma pequena cidade, próxima à linha do Equador, uma pequena senhora, com olhos cansados de ver mortes, se recusou a chorar: “Mi hijo no querria verme llorar”
Ao anoitecer, em Brasília, afinados, os deputados da Força Nova repetiam, com as palavras de ordem multiplicadas por milhões de robôs nas redes e a onipresença da internet pessoal, “A URSAL acabou! ”.
No México, o primeiro dos países a oficializar sua renúncia como país independente e o que mais sofreu durante o longo e sangrento processo de unidade, manifestantes contrários à URSAL começaram a sair às ruas, poucos minutos depois do atentado.
Milhões de pequenos fatos, serão para sempre lembrados porque aconteceram no dia do atentado ao Premier...