Q.B. - EU AINDA ESTOU DE PÉ - PARTE 14

IX - EU AINDA ESTOU DE PÉ

See the changes here on every street

As time goes marching to a different beat

Moving on into the restless age

As the kids today find their feet

“Where have all the good times gonne?” – Álbum Jump Up! - 1982

Elton parou e ficou olhando para o homem de sobretudo marrom, sentado ao lado de um rapaz de mais ou menos vinte anos e também olhando para ele. Eddye estranhou que ele estivesse tão parado e perguntou:

- Que foi?

- Meu pai... Elton disse em voz baixa.

Eddye olhou na direção que ele estava também olhando e falou:

- Pensei que você já tivesse visto. Ele está aí desde o início da partida.

- Que é que eu faço, Eddye? - Elton estava como paralisado.

- Vai lá e fala com ele, homem! Você é o dono do time e ele é seu pai!

- Pai?... A última vez que eu chamei esse cara de pai, pensando que ele fosse meu pai, tinha... dez anos. Lá se vão vinte e cinco...

- Ainda tem medo?

- Olha pra mim, cara. Tenho cara de quem está com medo?

Eddye olhou para ele que não tirava os olhos de Stanley e começou a rir, discretamente.

- Medo é pouco. Você está apavorado!

Elton colocou a camisa amarela do time na mão de Eddye e começou a subir as arquibancadas. Nesse percurso, cumprimentou alguns torcedores e foi se aproximando do pai, com o coração aos pulos.

Stanley levantou-se quando ele se aproximou e ficou olhando para ele. O rapaz continuou sentado.

- Boa tarde, Reginald.

Elton ficou olhando para ele. Estava bem mais velho, mas era o mesmo rosto, com o mesmo ar de autoridade militar inconfundível.

- Como vai?

- Bem... Feliz com o sucesso do Watford. Você tem feito um bom trabalho.

O rapaz que estava com Stanley levantou-se e começou a afastar-se. Stanley o chamou:

- Espere um pouco, Geoff! Diga “oi” pro seu irmão.

O rapaz olhou para Elton friamente e disse:

- Oi.

- Oi, Geoff, Elton respondeu, sem qualquer sentimento.

- Te espero lá fora, pai... Vou tomar alguma coisa, disse ele se afastando.

Elton ficou olhando para o irmão meio atônito e nem ouviu quando Stanley falou sorrindo:

- Meu filho mais velho... Depois de você, claro.

- Eu sei... Geoff Dwight... ele falou, quase num sussurro.

- Tenho mais três.

Elton balançou a cabeça, como a dizer que sabia de tudo aquilo. Quantas vezes, já adolescente, ele teve vontade de ao menos conversar com os irmãos e acabar com a solidão que sentia.

- Ele não vai... muito com a minha cara, não é?

- Não é isso...

- Também se não for, eu não ligo, disse Elton, com a garganta apertada. - Não seria o primeiro. A única diferença é que ele é... meu irmão.

- Vamos sentar um pouco?

- Eu... preciso tomar um banho...O senhor está com pressa?

- Não sabia que você tinha ficado tão formal. Eu o vi jogando. Por que não se transformou num jogador de futebol quando desistiu da música em 77?

- Eu nunca desisti da música, pai. Ela e eu somos um só. Eu amo cantar e tocar piano e fazer shows... Amo o futebol também, mas... aqui é um dos poucos lugares onde eu consigo manter uma certa... disciplina...

- Você joga bem...

- Obrigado...

- Como vai sua mãe?

Elton olhou para ele, sério, respirou discretamente e respondeu:

- Ela está ótima... Bem, eu... não gosto muito de ficar conversando aqui, porque... de repente aparecem alguns repórteres... Fãs... Você não quer... ir até minha casa... tomar um chá... comigo? - ele mal acreditava no que tinha perguntado.

Stanley sorriu.

- Infelizmente não vai ser possível, mas eu... agradeço o convite. Não esperava isso de você.

- Eu não posso passar a vida inteira... culpando você... pela minha infância infeliz.

- De qualquer forma, todo mundo já sabe dessa história em todas as línguas, Stanley falou, com certa mágoa.

- É a minha história, eu não posso mudá-la... Menti em alguma parte? - Elton perguntou, olhando o pai nos olhos.

Stanley desviou os seus e não respondeu.

- De qualquer forma, o convite está de pé. Quando quiser... fazer uma visita... minha casa está aberta e meu clube também... sempre...

- E o coração?

Elton chegou a se surpreender com a pergunta e sentiu pena dele. Foram raras as vezes em que ouviu o pai falar daquele modo, tão humilde e humano. Ficou olhando para ele sem saber o que responder, mas Stanley parecia ansioso pela resposta e ele, por fim, falou, hesitante:

- Não sei... O lado que... cabia a você está... fechado a tanto tempo...

Stanley já esperava por aquela resposta e esboçou um leve sorriso, perguntando:

- Você ainda me odeia?

O coração de Elton bateu forte e ele olhou por cima do ombro do pai, o irmão que havia voltado e esperava por ele alguns metros adiante, olhando para os dois.

- Ele te odeia?

Stanley olhou para trás, voltou-se e respondeu:

- Não... Não que eu saiba.

- Então você já tem o que quer. O pai dele é outro. O homem que está aqui na minha frente é outro. Esse outro, eu não conheço; portanto... não posso odiar alguém que não conheça.

Os olhos de Stanley, muito parecidos com os de Elton, brilharam. Ele engoliu a emoção, deu um suspiro contido e estendeu a mão.

EU AINDA ESTOU DE PÉ - PARTE 14

SER CONSCIENTES DO QUE NOS TROUXE AQUI...

É ISSO QUE NOS MOVE E NOS MANTÉM EM PÉ!

BOM DIA E QUE DEUS ILUMINE NOSSAS VIDAS

OBRIGADA!

Velucy
Enviado por Velucy em 17/11/2019
Reeditado em 17/11/2019
Código do texto: T6796716
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.