Q.B. - TUDO CALMO NO FRONT OCIDENTAL-PARTE 8

VIII - TUDO CALMO NO FRONT OCIDENTAL

It’s all quiet on the western front, male angels sigh.

(Está tudo calmo na fronteira ocidental, homens anjos suspiram).

Ghosts float in a floated trench, as Germany dies…

(Fantasmas flutuam na trincheira inundada, enquanto a Alemanha

morre...).

“All quiet on the western front” – Álbum Jump up! - 1982

Bernie ficou olhando para o irmão, sem saber o que dizer. Levantou-se e foi sentar-se nos degraus da escada que dava para o terreiro da fazenda. Tony foi sentar-se a seu lado.

- Falei muita besteira, maninho?

- Não chega nem a ser besteira, é só algo muito improvável... porque isso não vai acontecer. Minha vida está na América. Meu futuro está lá.

- Isso a gente vai ver... Mas o início eu acertei, não acertei? Você já voltou a ser parceiro dele.

- Tem muita coisa envolvida nisso, Tony. Não é uma coisa simples de explicar. Eu acho mesmo que não é tão fácil me desligar da imagem de Elton John porque nós fomos dupla por muito tempo, quase dez anos e isso ficou impregnado em mim... Eu vou voltar a ser letrista dele sim, mas vou fazer isso com muita convicção de estar fazendo a coisa certa, não é nada como em 67, que eu apostava num sonho... num sonho dele e meu, por que não? Você sabe que eu sempre quis sair de Lincolnshire e fazer algo diferente de ser... fazendeiro da galinhas. Eu nunca joguei com o Elton nenhuma vez. Nós éramos... e somos amigos de verdade. Fugi da fama dele, do mundo dele, em 76, e admito que isso foi muito forte pra mim. Tive medo de não poder continuar subindo... Mas nunca consegui me libertar da imagem dele, nem quando me sentia mais baixo que a sola do meu sapato. Eu cheguei a querer passar despercebido aos olhos das pessoas, mas eu não consegui, porque eu ainda era parceiro dele, mesmo depois de dois anos... afastado. Eu fiquei ainda mais ligado a ele quando me afastei dele.

- Isso é paixão, Tony disse, gozador.

- Larga de ser idiota, cara, Bernie disse, empurrando o irmão.

Tony riu.

- E se tudo aquilo começar novamente? E se te acusarem, como faziam, de ser... amante dele e essas coisas horrorosas que falavam na imprensa?

- Não acho que façam esse jogo sujo com a gente agora. Não tem como. Se já era absurdo antes, agora... é burrice, se alguém colocar nos jornais ou revistas uma coisa maluca como essa. Eu só quero ajudá-lo a subir, se levantar porque eu sei que vai valer a pena.

- Não tem medo de perder a Toni, como perdeu Maxine?

Bernie sorriu.

- Não. Toni não é criança como Maxine era, e como eu era. Ela tem outra cabeça, apesar de ter quase a mesma idade de Maxine quando nos casamos, mas é outra época. Ela sabe com quem se envolveu e me conhece bem. E eu estou me dando o direito de amar a quem eu quiser. Amo nossos pais, amo você, o Kit... amo o Elton. E quero que alguém aponte o erro nisso.

Tony ficou parado, fitando Bernie, com seus olhos verdes, como os do irmão.

- Que foi? - Bernie perguntou.

- Não sei... Há uma coisa estranha... uma serenidade em você, que há tempos eu não via.

- Serenidade? - Bernie perguntou, rindo.

- É... A serenidade de eu lia nas suas poesias, quando você era moleque. Como quando você escreveu aquela poesia sobre o nascimento do Kit, como era mesmo o nome?

- “The Greatest Discovery”, Bernie respondeu.

- Isso! Foi uma das coisas mais bonitas que você já escreveu. Mamãe tem ela num quadro na parede de casa, lá na casa dela. Essa e aquela outra... ”Birth”, não é? Eram coisas que não pareciam ter saído de uma cabeça tão rebelde como a sua.

- Só são provas do amor que eu tenho por vocês... apesar de tudo.

- Apesar do quê?

Bernie sorriu cínico e tragou novamente.

- De você ser um pé no meu saco e do Kit vir te ajudar depois de onze anos. Minha vida estava tão boa... Mas eu amo vocês mesmo assim.

Tony riu.

- Por isso é que eu digo e repito: você um dia vai voltar para cá, vai se casar com uma inglesa e seu primeiro filho vai ser inglês, pra se juntar a nós. E o pior é que ele vai vir... do teu saco, irmãozinho.

Bernie balançou a cabeça como a dizer: “Você ficou maluco!”. Tony passou a mãos pela sua cabeça, lhe desmanchando o cabelo.

- Ei! Para com isso, seu doido!

- Estava com saudade de te azucrinar. Esses momentos de intimidade fraternal com você são tão raros ultimamente.

- Intimidade fraternal, é? Sei... Eles nunca existiram, tonto.

O telefone tocou e Tony foi para dentro da casa atender. Ficou por lá cerca de dez minutos e vendo que ele estava demorando muito, Bernie entrou também.

- Tá bom, eu falo pra ele. Pode deixar, pai, eu dou o recado...

Ao ouvir a palavra pai, Bernie, olhou para ele e quis falar com o pai, mas Tony já desligava o telefone.

- Eu queria falar com ele!

- Mas ele não quer falar com você, não por telefone. Quer te ver na casa dele.

- Você vem comigo?

- Por quê? Está com medo?

- Não... É que... sempre que eu chego perto dele, dá vontade de ser outra pessoa.

- Por quê?

Bernie chegou perto da lareira, onde havia vários porta-retratos com fotos dos pais e dos irmãos em várias épocas.

- Não sei... Houve tempo em que eu gostaria que ele não fosse meu pai...

- Por quê?

- Não por ele, Tony, mas por mim... Eu acho que nunca fui o filho que ele queria...

- Que besteira!

- É verdade...

- Você é um bobo, poeta. Se você está se dando o direito de amar a quem te ama, ele deve ser o primeiro dessa lista, não acha?

- Eu queria muito o apoio dele nessa minha volta. Queria muito que ele me... abençoasse. Em 67, ele quase não disse nada. Praticamente dizia, com os olhos apenas que era... loucura... Só mamãe me apoiou. Eu queria muito saber o que ele estava pensando quando me deixou na estação na minha ida pra casa da tia em Putney...

- Por que não pergunta agora? Só ele pra dizer. Questão de conversar...

- É... disse Bernie, com um suspiro, passando os dedos sobre a imagem do pai, na fotografia. - Vamos até lá?

- Claro!

TUDO CALMO NO FRONT OCIDENTAL - PARTE 8

SE NÃO VAI ENTRAR NA GUERRA PARA FAZER O BEM...

NÃO ENTRE!

OBRIGADA!

BOM DIA E QUE DEUS ABENÇOE A TODOS

Velucy
Enviado por Velucy em 26/10/2019
Código do texto: T6779449
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