O SERTÃO 1

Quando cheguei em Fortaleza eu tinha 18 anos, coragem pra da e vender, e muita esperança de vencer na vida, vinha do sertão central, do sítio Gerônimo, propriedade de meu pai, Ramalho de Sousa, homem rude e capador de bode, tinha vindo da Paraíba, de pau dos ferros, localidade das trairas, o lugar onde o cão perdeu as esporas. Dizem que papai tinha matado uns por lá, por causa das brigas dos bodes, nem ele nem mamãe me falava desse assunto, somente pegava por vezes eles falando, mais quando me viam, despistavam e se calavam, minha mãe tinha o nome de uma santa, era Teresa de Calcutá, vinha lá dos infernos do inhamuns, a muitas léguas de distância do fim do mundo, lá o vento dava a curva. Eu não tinha dinheiro, não tinha mala, não tinha nada, só tinha coragem, e essa não me largava um só instante, sempre estava ao meu lado, sai andando da rodoviária sem rumo, eu ia em rumo do vento, onde o vento era mais frio eu ia, com fome é com sede, não parava pra nada, só caminhava, só caminhava, e a noite chegou, e com ela a fome, a solidão e um quase desespero, sentei num banco em uma praça, observei os namorados, senti saudades da rosinha, será que ela iria esperar por mim, até eu ficar rico e voltar montado numa bicicleta monark barra circular? Não sei, talvez ela casasse com o Ze cuca, seu cuca como era conhecido nas redondezas, e quando eu voltasse rico, já era tarde, muito tarde. Pensei em voltar, em pedir pinico, me lembrei de meu pai, filho um bom cabrito não berra, e fiquei dormindo na Praça.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 17/10/2019
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