Q.B. - NOS CALCANHARES DO VENTO - PARTE 4

VII - NOS CALCANHARES DO VENTO

”I’m a page on the end of a story

(“Sou uma página no final de uma estória)

No closer to my hope and glory

(Nada perto da minha esperança e glória)

Just a kick away from the heels of the wind”

(Só a um pontapé distância dos calcanhares do vento”)

“Heels of the wind” – Álbum THE FOX - 1981

Bernie saiu com Vodca e voltou minutos depois.

- Pronto! Crianças na cama, reina a paz. Era assim que a Sheila falava quando levava o Bruce e o Brian pro canil, não era?

- Era. Você anda tão nostálgico...

Ele apanhou uma cadeira giratória e sentou-se perto de Elton, sem responder.

- Que achou das letras?

- Muito boas. Eu sempre gosto do que você escreve.

- Era o que eu temia... disse ele, apoiando o rosto na mão com um sorriso maroto.

- Por quê?

- Ah, sei lá... Só pra sair da rotina eu gostaria de ouvir você dizer: “Puxa, gostei só da metade! Você não muda de estilo?” ou coisa do gênero.

- Ah, é? Vou me lembrar disso da próxima vez.

- É isso mesmo. E antes de tudo, eu quero sinceridade. Não importa aonde vão minhas fantasias, eu quero que você só cante quando aceitar o que está cantando.

- Mas sempre foi assim.

- Mesmo? Você compunha sobre minhas letras e gravava e cantava tudo como se falassem todas sobre flores e o pôr do sol, mas muitas delas falavam mal de você!

- Está se referindo a “Ego”?

- Também... E a “Goodbye yellow” e por aí afora.

- Eu entendi “Goodbye yellow”, só não tinha coragem de fazer o que você me pedia, gritando na letra, querendo se afastar de mim... No álbum inteiro você me deu vários cutucões. Eu te ignorei de propósito...

Os olhos verdes de Bernie brilharam, mas ele não disse nada. Aquela verdade parecia tão distante agora.

- Eu não gravei “Ego” quando você escreveu em 76, porque era muito orgulhoso. Eu não conseguia admitir que o homenzinho brilhante e arrogante que você descrevia na letra era eu mesmo.

- Mas gravou em 78.

- Porque ali meu orgulho já estava no chão há muito tempo. E eu tinha um passado morto e enterrado. Já não tinha porque ter medo dela. Tinha medo da humanidade inteira.

- Foi autopunição?

Elton sorriu.

- Gary me perguntou a mesma coisa. Que engraçado.

- E o que você respondeu?

- Desconversei. Disse que ela não foi feita pra mim. Disse que não pensava em suas letras quando compunha em cima delas.

- E, às vezes, não pensava mesmo. Foi o que eu acabei de dizer.

- Pensava sim... Era o teu jeito de conversar comigo. Eu não era tão idiota assim. Eu amava e amo você e tudo que você escreve, Bernie. Você sempre foi um enigma pra mim, mas de certa forma... eu sinto quando... você quer me passar alguma mensagem pelas letras ou... quando elas são simplesmente fragmentos da sua imaginação, do seu dia-a-dia. Claro que nem sempre eu faço aquilo que você gostaria que eu fizesse musicalmente, mas você nunca me disse o que queria, como eu ia adivinhar?

- Acho que não se deve misturar as coisas. Não sei se o meu jeito de pensar em música é exatamente o que você precisa pra enriquecer seu estilo. Nunca me imaginei, e nem quis, fazendo música com você. O nosso campo de ação é totalmente diferente. Deu pra notar isso no “Tiger”, não? Seu estilo está na sua maneira de ser e nós não somos iguais em nada. Estilos diferentes, temperaturas diferentes, quartos diferentes. “Two rooms at the end of the world”.

Elton olhou para o teclado.

- Eu ouvi você tocando alguma coisa antes do Vodca entrar aqui. Já fez alguma coisa?

Elton começou a cantar o que já tinha feito para uma das letras, de nome “Empty Garden”, naquele tempo que tinha ficado ali. Bernie ficou ouvindo a canção, encostado no piano. Quando ele acabou, olhou para o letrista e pediu sua opinião apenas olhando para ele. Bernie não falou nada.

- Você fez pra ele, não fez? - perguntou Elton.

O letrista balançou a cabeça, afirmando. Elton continuou:

- Eu sei que você tem um modo todo seu de pensar nele, como cada pessoa nesse mundo tem, mas... esse é o meu jeito.

- Está ficando legal... É claro que, se eu fosse escrever tudo que ele representa na minha vida, escreveria um livro e não uma letra... mas... a música chega a um maior número de pessoas, em menos tempo, alcança uma área mais ampla de público, bem maior do que o livro alcançaria, infelizmente. Estou jogando a bomba na sua mão. Queria muito que ela fosse um hit... no ano que vem.

NOS CALCANHARES DO VENTO - PARTE 4

CONTINUA...

SEJAMOS SEMPRE REFLEXO DA GRAÇA DIVINA. OBRIGADA!

BOM DIA E QUE DEUS ABENÇOE A TODOS

Velucy
Enviado por Velucy em 06/10/2019
Código do texto: T6762307
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