O DESEJO DE ALDÊNIO
Aracati, lugar de muitas histórias jocosas, muitas já registradas em livros, pelo historiador e escritor Anterim.
Somando-se a tantas, registro também uma outra, real, um apronto de Professor Aldênio, uma figura bastante conhecida no Aracati, pela sua inteligência e teimosia.
Tudo aconteceu assim...
Um certo dia, ele acordou com uma vontade terrível de tomar uma abacatada, mesmo não sendo muito chegado à fruta. Levantou-se, arrumou-se como de costume, pegou sua bicicleta e foi até o comércio local, para comprar um abacate e matar seu desejo. Só que a sorte não foi sua companheira de primeira hora... É que, nesse dia, não havia abacate na cidade. Mas o sujeito de uma venda lhe deu uma preciosa dica, dizendo: “Professor Aldênio, está faltando abacate em Aracati. O pessoal daqui não está tendo. Mas tente ver lá com Manuel verdureiro, que ele deve ter, pois sempre compra mais que os outros colegas e em cantos diferentes da gente”.
O professor não contou conversa. Pegou sua bicicleta e rapidinho chegou à venda de Manuel verdureiro, e foi logo lhe dizendo: “Rapaz, me dê um abacate, hoje amanheci com uma vontade incontrolável de tomar uma boa abacatada, mas em casa não tenho abacate. Veja, por favor, um bem grande para mim”. Manuel Verdureiro, meio sem jeito por não poder atender ao pedido, por falta da fruta, olhou para o Professor Aldênio e murmurou, falando baixinho: “Professor Aldênio, eu não tenho nada de abacate aqui; o abacate que eu tinha acabou, ontem. Hoje não tenho mais nenhum, nem pra fazer remédio. Abacate aqui no Aracati tá difícil. Mas vai lá em Zé de Sofia, porque os abacates de Zé de Sofia são comprados em outro canto; vai lá, que ele tem”.
O Professor Aldênio não contou pipoca. Montou na sua bicicleta, de novo, e foi até a sorveteria de Zé de Sofia, certo que lá ia encontrar o abacate e tomar sua desejada abacatada. Chegando ao balcão, olhou para o funcionário e pediu que lhe vendesse um abacate ou, então, fizesse uma generosa abacatada. Para desespero do Professor Aldênio, lá também não tinha abacate. Aí complicou, pois não tinha mais em Aracati um outro lugar onde procurar, para comprar seu abacate, tomar e saborear a sua sonhada abacatada... O funcionário de Zé de Sofia, muito bem capacitado, tentou convencer o professor a tomar um outro tipo de vitamina -- de mamão, melão ou uma forte bananada --, ou ainda tomar outra coisa, porque abacate ele não ia encontrar, de maneira nenhuma; naquele dia era impossível. Mas Professor Aldênio encarou o rapaz e falou bem determinado: “Eu vou, sim, tomar uma abacatada, hoje; ah, vou! O rapaz ouvindo aquilo, duvidando, começou a rir...
Pois, então, o Professor voltou para casa, tomou um bom banho, trocou de roupa, botou dinheiro no bolso e foi até a rodoviária... Ainda em tempo, comprou uma passagem num ônibus de linha da empresa Viação do Aracati e, com muita determinação, se mandou pra Fortaleza. A viagem foi boa e cheia de expectativa. Chegando à rodoviária de Fortaleza, depois de aproximadamente três horas de viagem, desceu modestamente, correu os olhos de ponta a ponta no local procurando uma lanchonete, até que encontrou uma. E não perdeu tempo... Chamou o funcionário e com voz firme falou: “Eu quero uma abacatada, bem caprichada; pode fazer uma bem dura e bem grossa, que dê trabalho descer do copo...” Enquanto via o funcionário preparar a vitamina, sua boca parecia salivar... Enfim, depois de esperar mais uns poucos instantes, Professor Aldênio não tomou somente um, mas dois copos de sua desejada abacatada...
E, para sua sorte, ainda tinha um ônibus voltando... Comprou a passagem e voltou saciado e feliz para o Aracati, sabendo que valeram a sua determinação e teimosia. Aliás, para Professor Aldênio dizer que “não” pode não ter grande significado.