Q.B. - O HOMEM QUE NUNCA MORREU - PARTE 13

V - O HOMEM QUE NUNCA MORREU...

“A morte de John fica comigo o tempo todo”.

“É uma coisa pessoal.” - Elton John

No dia seguinte, pouco antes do meio-dia, Elton acordou. Levantou-se e foi até a janela. A véspera de Natal estava branca de neve como todos os anos anteriores. Ele sempre achou as vésperas de Natal tristes, mas aquela estava mais triste que as outras. O cair da neve no imenso jardim da mansão parecia mais melancólico que nunca.

Tomou um banho, vestiu-se completamente de branco e foi para a sala de refeições. Estava totalmente sozinho. Havia dispensado todos os empregados e Charlie, seu namorado, havia combinado ir passar a noite de Natal com ele, mas demorava a chegar. Aliás, já devia estar ali. Elton não gostava de ficar sozinho naquela mansão imensa. Subiu novamente para o quarto e, apesar dos conselhos do médico, preparou e cheirou uma carreira de cocaína para se acalmar.

Voltou para o salão e sentou-se no sofá olhando para o telefone. Charlie, ou Chloe, como Elton o chamava, também não ligava. Ele prometera voar dos Estados Unidos para a Inglaterra, para ficar com ele. Talvez já estivesse a caminho, mas...

Cansado de esperar, Elton começou a chorar, desesperado. Ficou olhando para mesa posta com um grande peru de Natal e um enorme bolo que tinha mandado fazer para ele e Charlie e aproximou-se deles.

- Cachorro! Você está com quem agora, seu... viadinho? Vai me deixar comer isso tudo sozinho?!

Começou a tirar com uma faca próxima um pedaço do peru e começou a comê-lo, depois fez o mesmo com o bolo. As lágrimas se misturavam com o que ele comia. Tinha que dividir aquilo tudo com alguém.

Apanhou o telefone e ligou para Gary Osborne. O parceiro desde 1978 e grande amigo de Elton estava em sua reunião de Natal com a mulher, o filho e sua família. Ao ouvir o telefone tocar, Gary atendeu:

- Alô?

- Osborne, vem pra cá!? – Elton ordenou, aos prantos.

- Quem é?

- Eu, idiota, Elton! Vem pra cá. Chloe não chegou ainda! Não sei onde ele está nem o que está fazendo agora. Vem pra cá ficar comigo!

- Mas... Quem está aí com você?

- Ninguém, caramba! Eu dei folga pra todo mundo. Meus pais foram embora. Estou sozinho!

- Tá... Vou ver o que faço. Espera...

- Vem pra cá, agora! Não quero ficar sozinho...

Preocupado com a situação do amigo, Gary resolveu levar sua própria festa de Natal para Woodside. Conseguiu convencer Jenny, sua esposa, e levou também, claro, Luke, seu filho, com eles. Elton gostava muito dele.

A festa de Natal de Gary Osborne continuou em Woodside, para evitar que Elton desabasse em sua depressão.

Tudo estava bem quando, brincando no enorme salão, Luke tropeçou num fio no chão e acabou por quebrar um dos abajures Tiffany caríssimos que Elton colecionava. O menino, Gary e Jenny ficaram parados em choque, olhando para os cacos do abajur caídos no chão. Elton olhava também, de olhos arregalados.

- Desculpa, cara... disse Gary. – Foi... sem querer...

Elton ergueu a mão e o impediu de continuar falando.

- Desculpa, tio... pediu o menino, também assustado e triste.

- Vem aqui, Luke... – Elton pediu.

O menino aproximou-se dele temeroso e Elton segurou sua mão, colocando-o no colo.

- Não se preocupe, querido... Eu tenho vários como esse. É só uma coisa que quebrou... e coisas podem ser substituídas. Eu perdi um amigo muito querido esse mês... que gostaria de substituir, mas... pessoas não podem ser substituídas, infelizmente. Isso era só um abajur que quebrou...

Elton abraçou Luke com mais força e beijava seu rosto, chorando, lembrando-se de John Lennon.

Gary chegou perto dos dois e, com calma, fez o filho se afastar de Elton e pediu que ele fosse brincar, enquanto Jenny tentava limpar os estilhaços do abajur de alguma forma.

Elton continuava chorando copiosamente. Gary se ajoelhou perto dele e segurou sua mão.

- Fica calmo, cara. A gente está aqui com você.

- Obrigado por ter vindo... Deus te abençoe.

- Feliz Natal, Elton. Nós também somos sua família. Eu, Jenny e o Luke amamos você demais.

Elton se abraçou a ele apertado.

- Feliz Natal...

O cantor se afastou dele e ergueu-se, começando a subir as escadas.

- Aonde você vai? – Gary perguntou, preocupado.

- Vou ver alguma coisa no cinema lá em cima. Manda o Luke subir pra ir ver comigo.

- Nada triste ou deprimente. Isso não vai te fazer bem.

Elton sorriu, sem responder, e continuou subindo. Foi para a sala de projeção. Uma pequena sala de cinema que tinha em casa.

Acendeu as luzes, foi até a prateleira e procurou algum vídeo que o satisfizesse. Deslizou o dedo por todos os títulos rigorosamente em ordem alfabética e o indicador acabou parando no “28 de novembro de 74”. Pensou por um momento e acabou tirando a fita da prateleira. Colocou-a no deck e apertou o botão de início.

Sentou-se na primeira poltrona e ficou assistindo ao vídeo do último show de John Lennon onde ele também estava. O coração começou a apertar.

O HOMEM QUE NUNCA MORREU – PARTE 13

CONTINUA...

DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCAM SUA FÉ!

OBRIGADA E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 20/09/2019
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