Q.B. - O HOMEM QUE NUNCA MORREU - PARTE 12

V - O HOMEM QUE NUNCA MORREU...

“A morte de John fica comigo o tempo todo”.

“É uma coisa pessoal.” - Elton John

- Seria emocionante ver vários mesticinhos correndo por Woodside... disse Dough, o médico que atendia o que Elton sentia.

O cantor riu a valer.

- Gostaria de ver a cara do meu pai. Só de pensar na ideia...

- Quem, Fred? Não acho que ele reprovaria.

- Stanley Dwight! Eu seria execrado da face da terra por ele, se isso acontecesse. Não sei por que, toda vez que eu penso na ideia de casamento, ele me vem à cabeça...

- É normal. São os genes falando...

- Às vezes eu fico imaginando... como teria sido a minha vida se eu tivesse nascido mulher, como ele queria... Talvez... ele e minha mãe não tivessem se separado... Ou tivessem, ele não gostava dela. Mas ele... teria me levado com ele...

- Você gostaria que tivesse sido assim?

Elton dobrou as pernas e encostou o queixo nos joelhos.

- Não sei... Eu também não gosto dele... mas não gosto de não gostar dele. Tenho o Fred agora e ele é mais que um pai pra mim, mas de vez em quando eu me pego sentindo vontade de chamar de pai o homem que me gerou. Não necessariamente Stanley Dwight, mas aquele que se parece comigo quando eu olho no espelho. Eu me pareço muito com ele... Coisa esquisita pra se sentir aos trinta e quatro anos de idade, não?

- Você sempre sentiu isso. Só está admitido isso pra si mesmo agora. Nem tudo está perdido, garoto.

- Que ótima notícia! - falou Elton, um pouco desanimado.

Deitou-se na cama e fechou os olhos. Dough sorriu, arrumou a valise e levantou-se.

- Devo admitir que estou tomando seu precioso tempo.

- Não estou te mandando embora.

- Nem precisa. Há quanto tempo você não dorme oito horas pelo menos por noite?

- Uns... dez anos?

- Pois é. Um bom médico sabe o que fazer quando vê um paciente com sono. Sair de fininho. Me chame sempre que quiser.

- Mais um probleminha, doutor, eu não tenho conseguido dormir direito.

Dough olhou para ele, agora preocupado.

- Sério? Desde quando?

- Começou há pouco tempo. Uns cinco anos atrás...

- Fala sério, Elton. Não é como aquela insônia que te atacou no final de 79, é?

- Não, nada tão drástico... Mas eu acho que sei o que me cura disso.

- O quê?

- Futebol.

- Acredito. Era isso que eu ia receitar. O que você fez nesses últimos meses que ficou longe do Watford? Comprimidos?

- Tinha outro jeito?

- Elton...

- Eu tinha que dormir! Senão ia dormir no meio do palco, cantado “Your Song”!

- Uma bela canção de ninar.

- Nem me fale... Elton disse, com um suspiro. - Mas pode ficar sossegado que eu não tomei nenhuma droga desconhecida. O John e a turma toda que cuida de mim na turnê não me deixavam nem tomar Coca-Cola.

- Sempre confiei no bom senso do John.

Elton riu.

- Ele é o piorzinho... O bom senso foge dele, se você quer saber, deste 1970! Eu não obedeço ele...

Dough riu também e abriu a valise, tirando dela um vidrinho. Tirou um comprimido, foi até o banheiro, apanhou um copo com água, voltou e entregou a Elton.

- Deixa o vidrinho comigo.

- Não precisa. Toma.

Elton obedeceu, fazendo um careta ao tomar a água.

- Não tem nada mais forte que isso?

Dough nem respondeu. Pegou o copo e o levou de volta ao banheiro.

- Não confia em mim? Eu não estou desesperado, cara. Só estou triste.

- Eu sei... Mas não quero que você abuse, caso o comprimido não faça efeito.

- Pode não fazer?

- Depende... Você tem andando muito tenso pela morte do Lennon... E, apesar dessa calma aparente, ainda não está tudo bem. Não quero te ver desperdiçando sua vida num vidro de tranquilizante, por mais justo que seja o motivo. E não estou falando de suicídio.

Elton deitou-se novamente e abraçou um travesseiro.

- Acha que vai dar pra passar a noite só com esse?

Ele confirmou, com um gesto da cabeça, sentindo os olhos começarem a pesar.

- Bom descanso, garoto. Estou sempre à disposição.

Elton não respondeu.

- Posso te pedir mais uma coisa, Elton?

- Quê? – cantor respondeu, ainda de olhos fechados.

- Procura não abusar da coca pelo menos por hoje. Aproveita pra descansar mesmo. Teu coração precisa disso.

Elton nem se moveu, mas ainda disse:

- Me faz um favor?

- Quê?

- Manda meu pai e minha mãe irem pra casa? Chloe vai chegar e eu não quero os dois aqui segurando vela pra mim. Passei da idade.

- Quem é Chloe?

- Meu namorado novo... Charlie...

O médico sorriu e saiu do quarto, apagando a luz antes. Elton apertou o travesseiro contra o rosto, sentindo uma vontade imensa de chorar, e deixou que o comprimido fosse fazendo efeito lentamente, até que adormecesse por completo.

O HOMEM QUE NUNCA MORREU – PARTE 12

CONTINUA...

DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCAM SUA FÉ!

OBRIGADA E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 19/09/2019
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