Q.B. - O HOMEM QUE NUNCA MORREU - PARTE 9

V - O HOMEM QUE NUNCA MORREU...

“A morte de John fica comigo o tempo todo”.

“É uma coisa pessoal.” - Elton John

As coisas haviam ficado tensas na América. Grupos de jovens se reuniam na frente do Edifício Dakota, onde morava John Lennon, para prestar culto à sua memória. Em todos os lugares do país aconteciam reuniões de fãs inconformados que não aceitavam a perda do mais querido Beatle.

Um destes fãs, que teve a felicidade de ser grande amigo pessoal de Lennon, não sofria menos: Bernie. A dor havia se transformado numa revolta silenciosa que assustava Toni.

Ele ficou um dia inteiro sem falar com ninguém, trancado no quarto. Não viu televisão, não ouviu rádio nem quis saber de mais nada que pudesse lembrar da morte do amigo Lennon. Grande parte do tempo, Bernie passou no salão de tiro ao alvo e praticava tiro, como se houvesse a imagem de alguém nos alvos que procurava acertar. Toni se aproximou dele, certa tarde, e quis conversar com o marido que já estava ali a horas.

- Bernie...

Ele não respondeu. Apontou a arma para o alvo fixo a metros dele e acionou o gatilho. Toni tapou os ouvidos para se proteger do barulho do estampido e perguntou:

- Isso te ajuda, amor?

Ele deixou o braço cair ao longo do corpo e respondeu:

- Não sei... Acho que sim.

- Conversa comigo...

- Eu não tenho o que dizer, Toni...

- O Elton está lá do outro lado do mundo, cantando...

- Pois é... Cada um tem um jeito de extravasar a raiva. O meu jeito é esse. Só queria... que Mark Chapman estivesse ali na frente.

Levantou a arma, engatilhou-a e atirou mais uma vez, depois uma terceira e uma quarta, depois jogou a arma longe. Voltou-se, passou por ela e saiu do salão. Pegou o casaco, a chave do carro e foi para fora da casa.

- Aonde você vai?

- Não sei... Não me espera.

Ele entrou no carro e saiu em velocidade. Toni ficou parada, olhando para o carro que sumia pelo portão, desejando saber o que fazer por ele, mas conhecia o marido e sabia que aquele era o jeito dele e mais cedo ou mais tarde, estaria tudo bem, dentro do possível.

Toni entrou na casa e procurou fazer alguma coisa que a deixasse menos preocupada. Colocou algo no cassete, cansou-se; pegou um livro, leu um pouco, cansou-se também; ouviu um pouco de música e começou a sentir sono porque a noite já havia chegado. Subiu, tomou um longo banho, deitou-se na cama, pensou em Bernie e acabou adormecendo.

Só foi saber dele na manhã seguinte, quando acordou e o viu deitado a seu lado, ainda com a roupa do corpo, dormindo. Ficou alguns segundos olhando para ele e hesitou em acordá-lo. Não o fez. Levantou-se e saiu do quarto. Tomou um banho, vestiu-se e saiu, pois tinha fotos a fazer para uma revista de modas.

Quando voltou eram quase duas horas da tarde. Procurou por ele e o encontrou no estúdio, escrevendo. Aproximou-se, envolveu seu pescoço e beijou seu rosto.

- Oi, gato!

Ele parou de escrever, ergueu o braço segurando seu rosto e voltou-se para ela, abraçando-a pela cintura.

- Desculpa por ontem... disse ele, ainda abraçado nela.

- Está melhor?

- Um pouco. Uma dor de cabeça incrível, mas...

Ela o beijou na boca.

- Seu castigo por ter me feito sair de manhã sem me dar um beijo.

- Te fiz dormir com um bêbado do lado, não foi?

- O pecado nem é esse. Isso não é pior do que eu saber que o bêbado esteve do meu lado, a noite inteira, e eu nem o vi chegar. Eu queria ter dito a ele o quanto eu o amava...

Bernie escondeu o rosto no corpo dela e disse:

- Eu não gosto dele...

- E é bom que você continue não gostando... É seu maior inimigo... e rival.

- E você ama meu maior inimigo?

- Por isso mesmo ele é seu rival. Por causa dele, eu conheci você, mas não me importaria nenhum pouco se não o trouxesse mais pra casa...

Bernie ficou em silêncio. Toni apanhou a folha escrita na máquina de escrever e leu.

- Embora ele te faça escrever coisas lindas! “Jardim Vazio”...

Toni afastou-se dele e o fez olhar de frente para ela.

- Me deixa te ajudar?

Ele fechou os olhos e respondeu:

- Vai passar. Tem que passar. John... Reid me ligou hoje.

- Mesmo? Novidades?

- Elton desembarca em Londres no dia 23.

- E... como é que ele está?

Bernie deu de ombros.

- Abalado, cansado, deprimido, mas ainda de pé, apesar dos pesares.

- Como você disse: vai passar. Tem que passar... A vida continua... Vou trocar de roupa. Não fuja!

Jardim Vazio (Ei, Ei, Johnny)

O que aconteceu aqui / enquanto o pôr-do-sol de Nova Iorque desaparecia? / Eu achei um jardim vazio, entre as calçadas ali / Quem viveu aqui? / Ele deve ter sido um jardineiro que se preocupava / Que arrancou as lágrimas e cultivou boa colheita / E agora tudo parece estranho / É engraçado como um inseto pode estragar tanta semente

E para quê, este pequeno jardim vazio / perto da porta de arenito? / E nas rachaduras da calçada nada mais cresce / Quem morou aqui? / Ele deve ter sido um jardineiro muito preocupado / Que arrancou as lágrimas e cultivou boa colheita / E estamos tão surpresos! Estamos paralisados e atordoados / Um jardineiro assim, ninguém pode substituir.

E eu estou batendo, mas ninguém responde / E eu estou batendo, maior parte do dia / Oh, e eu estou chamando: Ei, ei, Johnny! / Você não pode sair para tocar?

E através das suas lágrimas, alguns dizem / que ele cultivou seu melhor na juventude / Mas ele disse que as raízes crescem mais fortes, se ele ao menos pudesse ouvir / Quem viveu ali? / Ele deve ter sido um jardineiro muito preocupado / Que arrancou as lágrimas e cultivou boa colheita / Agora rezamos para chover, e cada gota que cai / Nós ouvimos, nós ouvimos seu nome

E eu estou batendo, mas ninguém responde / E eu estou batendo, quase todos os dias / E eu estou chamando: Ei, ei, Johnny! Você não pode sair para tocar?

Johnny, você não pode sair pra tocar... em seu jardim vazio?

Bernie Taupin

O HOMEM QUE NUNCA MORREU – PARTE 9

CONTINUA...

DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCAM SUA FÉ!

OBRIGADA E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 16/09/2019
Código do texto: T6746040
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