Q.B. - ELE QUE CAVALGA O TIGRE - PARTE 14
IV - ELE QUE CAVALGA O TIGRE
I don’t regret a single day, you see?
Some of it was fun
Ten years on I’m wiser
But I’m still a farmer son.
“Approaching Armageddon” – Álbum He who rides the tiger - 1980
Bernie saiu da casa, desceu os cinco degraus que davam para o jardim e dirigiu-se ao estábulo. Elton o seguiu ainda rindo. Logo depois, com a ajuda do capataz da fazenda, estavam montados em dois dos melhores cavalos da propriedade de Bernie.
- Não sei como você pôde trocar isso aqui por Los Angeles... falou Elton.
- Simplesmente porque eu sei que tenho “isso aqui” quando quiser, quando me sentir saturado de lá. Eu ainda sou o mesmo caipira, mas não o suficiente pra ter isso tudo na frente dos meus olhos o tempo todo.
- Eu li sua entrevista ao David.
- Então, não preciso explicar mais nada. Ele fuçou minha vida inteira.
- Você não diria nada que não quisesse dizer. E não tem tanto segredos assim.
- Será que não?
Elton ficou em silêncio e olhou para frente.
- Você está bem? - perguntou Bernie, preocupado. - Parece estar longe às vezes. Até minha mãe percebeu que você às vezes não ouve o que a gente fala.
- Claro que ouço. Impressão sua e dela. Daphne é mãe e toda mãe tem essas ideias.
- Daphne é mãe e toda mãe tem um sexto sentido poderoso. E esta mãe me empurrou pra você, meu caro. Se não fosse ela...
- Eu não tenho nada. Sério mesmo. Você não me trouxe aqui pra relaxar e me concentrar? Deixa eu ficar calado um pouco. Deixa eu curtir essa paz que você despreza.
- Eu não desprezo...
Elton colocou o dedo indicador sobre os lábios e pediu silêncio. Bernie parou de falar, balançando a cabeça. Ele sorriu e cavalgaram por alguns minutos em silêncio. Mais adiante, ele parou, desceu do cavalo e lhe deu um tapinha leve no pescoço e o deixou livre. Sentou-se na grama e ergueu as mangas do blusão lilás.
Bernie aproximou-se e apoiou os braços na sela.
- Cansou?
- Não. É que não é sempre que eu posso ter o luxo de me sentar no chão como qualquer mortal. Em casa, estou sempre com o telefone na orelha e corro sempre o risco de receber a visita de algum personagem real... já viu.
- Você se priva do direito de usufruir da sua casa por causa deles?
- Não exatamente, Bernie, mas é que... quando se está na Inglaterra, se é inglês, e eu sou fiel ao chão onde piso e onde nasci. Eu gosto de estar aqui e ser parte de tudo isso, por mais cheio de etiquetas e protocolos que seja. Olha essa paisagem! Isso aqui é lindo! Eu cantei sobre isso tudo a minha vida inteira. Quase tudo que você escreveu pra mim fala disso aqui. É o meu país! É o seu país!
- Não é mais, disse Bernie.
Elton balançou a cabeça, contrariado, mas não disse mais nada. Bernie apeou também e tirou o violão da sela do cavalo, antes de soltá-lo também. Sentou-se no chão, com as pernas cruzadas feito índio, na frente de Elton e abraçou o instrumento.
- Sempre admirei você por isso, falou.
- Por isso o quê?
- Essa fidelidade britânica. Não é de admirar que a família real goste tanto de você.
- Você também é fiel a isso aqui. Pode não ser fiel aos impostos que eles cobram, às jóias da coroa ou ao Big Ben e à Torre do Parlamento, mas é fiel a esse pedaço de terra que te viu nascer. Aqui sempre vai ser a Inglaterra.
Bernie ficou em silêncio, olhando em volta.
- Você recebeu convite pro casamento do príncipe Charles? – Bernie perguntou.
- Como você é escorregadio...
- Recebeu?
- Recebi e vou! Vai ser o último acontecimento social do qual vou participar, antes da turnê.
- Coisa de conto de fada... Diana é uma pintura. Acho que ela vai ser a princesa mais bonita de todo trono inglês.
- Margareth também era muito bonita na juventude e é ainda, apesar da idade.
- Não sei por que, mas juventude sempre me atraiu mais, disse Bernie.
- Misturada com um pouco de beleza.
- Também.
- Muito pouco pra mim.
- Está me chamando de fútil?
- Seria isso se eu não o conhecesse, a menos que você tenha mudado mais do que eu já vi. Você tem sorte de encontrar tudo que quer numa mulher e inteligência junto. Maxine era assim e Toni não fica atrás. O que mudou foi a cor do cabelo. São até americanas, as duas!
- Sem comparações, tá? - Bernie falou, sério.
Elton apoiou o corpo nas mãos.
- Não estou comparando. É apenas um fato.
- Você precisa encontrar alguém pra você.
Elton olhou para ele e depois para o violão e pediu:
- Toca alguma coisa pra mim?
- Como você é escorregadio! - repetiu a frase dita por Elton para ele.
Elton sorriu e insistiu.
- Toca “Streets of Laredo” pra mim.
- Não, vou tocar alguma coisa mais moderna...
Bernie ajeitou o violão e começou a tocar e cantar uma canção de John Denver, “Country Road”. Elton fechou os olhos e ficou ouvindo. A mente realmente estava bem longe. Ao perceber que a canção estava ajudando a deixar Elton a ficar deprimido, imediatamente iniciou outra canção ainda de John Denver, mas mais animada: “Country Boy”. Bateu com a ponta da bota no pé de Elton e o convidou a cantar junto com ele. Elton não obedeceu e apenas sorriu.
- Vai, cara! Como em 67, canta comigo!
Elton não obedeceu. Apenas sorriu dizendo:
- Eu amo sua voz, sabia?
Bernie terminou a canção, cansado, colocou o violão sobre a grama e deitou-se no chão, fechando os olhos.
- Deus me livre! Tomara que você esteja só guardando energia pra turnê. Que desânimo!
Outro cavalo se aproximou deles e Kit, irmão mais novo de Bernie, estava montado nele.
- Bernie! – ele chamou.
O letrista abriu os olhos e virou-se para ele.
- Que foi?
- Mamãe está chamando vocês pra jantar. Lá em casa, ordens dela.
ELE QUE CAVALGA O TIGRE – PARTE 14
CONTINUA...
DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCA SUA FÉ!
OBRIGADA E BOM DIA!