Q.B. - ELE QUE CAVALGA O TIGRE - PARTE 11

IV - ELE QUE CAVALGA O TIGRE

I don’t regret a single day, you see?

Some of it was fun

Ten years on I’m wiser

But I’m still a farmer son.

“Approaching Armageddon” – Álbum He who rides the tiger - 1980

Bernie mordeu o polegar, cruzou a perna e pensou por alguns segundos.

- Emagreci, respondeu, finalmente, rindo em seguida.

- Nota-se, concordou David, rindo também. - Isso é bom ou ruim?

- Foi ruim engordar, quando era por causa dos meus exageros com bebida e drogas, mas passou a ser bom depois, agora, eu não ligo mais pra isso. Eu engordei muito no final dos anos setenta por conta da bebida e todo o resto... O regime que eu fiz pra emagrecer, não recomendaria a meu pior inimigo. Agora eu me preocupo em me manter assim, me cuidar mais... deixar aquela loucura toda pra trás e esquecer. Mas acho que agora eu tenho menos energia que antes. Tinha a resistência pra topar qualquer parada quando abusava mais de mim. Trinta anos deixam a gente assim, disse, rindo e brincando com o brinco de ouro na orelha.

David balançou a cabeça e sorriu.

- Bobagem! Acho que isso não tem nada a ver com idade. Eu já fiz coisas aos dezesseis que um adulto de quarenta não faria e faço coisas agora que um garoto de vinte não toparia. Isso é tão relativo...

- É tão estranho ver as coisas que as pessoas ligadas à música, ao rock’n roll mais especificamente, fazem por amor a um estilo.

- Você acha que suas atitudes desde o início da parceria com Elton John tenham sido guiadas pelo rock’n roll exclusivamente ou...

- Grande parte... Não necessariamente guiadas, mas... Estar envolvido com o rock’n roll soltou uma porção de amarras, me liberou de uma série de correntes e me empurrou a tomar atitudes absurdas como... atirar no John Wayne na televisão, jogar um cachorro pela janela, colocar amoníaco na comida dos caras... por pura... por puro capricho... isso tudo porque estava com a tampa cheia de cocaína. O que isso tem a ver com o rock’n roll, sinceramente não sei. Talvez tenha mais a ver comigo mesmo do que com outra coisa. Nunca me achei muito normal.

- Louco?

- Por aí. Tenho um lado aqui dentro – e apontou para a cabeça – que é inteiramente louco. De vez em quando, ele perde a força e eu começo a me sentir certinho demais. Aí trato logo de acender novamente esse meu lado e faço das minhas. Não sei, mas acho que dependo um pouco disso pra me manter vivo, de pé. Quer ver minha coleção de armas de fogo?

- Aquele seu lado está em atividade agora? - perguntou David, brincando, fingindo estar com receio.

Bernie riu a valer, levantando-se.

- Eu não sei, mas as armas estão descarregadas, te asseguro.

Num outro cômodo da casa, Bernie exibiu com orgulho a coleção. 15 armas de fogo de vários tipos. Uma paixão antiga.

- Eu não perdia um filme do Roy Rogers. Curto muito mexer com armas e ter a sensação de ser como esses caras que fizeram chão com uma delas na mão. Pode ser uma coisa infantil, mas acho que vou morrer com os ídolos como Butch Cassidy, Roy Rogers e Jesse James na mente.

- “I feel like a bullet (in the gun of Robert Ford)”...

- Esse safado matou Jesse James pelas costas.

- O que quis dizer a música?

- É uma longa história... Foi uma das letras que fiz pro Elton em 75. Era mais ou menos uma prévia do que estava acontecendo comigo depois do “Captain” e antes do “Blue Moves”. Se eu adorava Jesse James, imagine como eu estava me sentindo, me comparando com a bala que o matou... Quando compus o lote de canções pro Elton musicar pro Blue Moves ele chegou a dizer que não ia conseguir colocar música naquilo. Ele dizia que tinha muito ódio em tudo! Era tudo muito... miserável e depressivo. Nós dois estávamos as duas coisas. Foi ele quem compôs “Sorry seems to be the hardest word”!

- Está brincando!

- Não. Ele estava fazendo tanta merda na época que sentiu vontade de pedir desculpas pra humanidade, Bernie diz rindo.

- Que coisa... mas... mudando prum assunto mais leve... Você sempre gostou do faroeste americano, gangsters, dos índios americanos...

- Toda vida. Adoro Al Pacino... É por isso que eu digo que tenho sangue inglês correndo no corpo e bombeando um cérebro totalmente americano. Já sou “cowboy” desde muito antes de conhecer o Elton. Desde que nasci! Amo Marty Robbins...

Bernie apanhou uma das armas e a girou no dedo como os mocinhos de filmes de faroeste.

- A sua preferência pela Califórnia tem a ver com a sua origem ou não? Você diz ser mais americano do que inglês, mas isso abrange qualquer parte da América? Você moraria em Nova Yorque?

- Não sei... Gosto de lá, mas acho que tudo lá é muito grande pra mim. Acho que tem a ver com a minha origem sim. Ainda curto o campo e nunca vou negar que ainda sou filho de fazendeiro, criado no meio do feno... das galinhas... muitas galinhas! - ele diz, rindo. - Los Angeles me faz viver um pouco daquilo tudo, às vezes, e ao mesmo tempo me deixa ligado ao resto do mundo, esse mundo de concreto e de computadores, mas sem me sufocar, como Nova Yorque sufoca.

- Você consegue andar pelas ruas de Los Angeles sem ser importunado?

- Consigo, até certo ponto. Desde que Toni esteja comigo, ele disse, rindo. - A gente leva uma vida relativamente normal, quando ela está em casa. Saímos muito, sempre que temos uma chance. Eu aprendi a viver socialmente com ela. Recebemos um convite pra um jantar na China e ela aceita correndo, mesmo que seja no mesmo dia. Quando não há nada especial, saímos sozinhos, jantamos em algum hotel ou motel na estrada... Saímos muito com Cheryl Ladd, Rod Stewart, Peter Frampton. Dependendo do que der na cabeça na hora.

ELE QUE CAVALGA O TIGRE – PARTE 11

CONTINUA...

DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCA SUA FÉ!

OBRIGADA E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 03/09/2019
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