Q.B. - ELE QUE CAVALGA O TIGRE - PARTE 8

IV - ELE QUE CAVALGA O TIGRE

I don’t regret a single day, you see?

(Eu não reclamo de um só dia, sabe?)

Some of it was fun

(Alguns deles foram divertidos)

Ten years on I’m wiser

(Dez anos depois, eu estou mais esperto)

But I’m still a farmer son.

(mas ainda sou filho de fazendeiro.)

“Approaching Armageddon” – Álbum He who rides the tiger - 1980

Bernie respirou fundo.

- Eu percebi que, se tinha que culpar alguém de alguma coisa, daquilo que estava acontecendo comigo, culparia o rock’n roll. Daí comecei a tentar voltar de um caminho que não tinha volta. Ele havia me destruído da maneira mais cruel e eu não estava disposto a continuar caindo. Não dava. Saí dos Estados Unidos também, como havia saído da Inglaterra e fui para o México. Fiquei em Acapulco por quase três meses, visitei o Panamá, Venezuela, Guiana Inglesa... quase todo o Caribe. A cabeça ainda não estava melhor que antes, mas me mover dava a impressão de que eu estava vivo.

- Você teve apoio de amigos... alguém ligado a você de qualquer forma... família?

- Tive... Tive apoio de gente que queria me ver bem e tive apoio de gente que queria me ver, mas não soube dar o conselho certo. Era... uma fase tão crítica minha que... eu acabei me envolvendo com todo tipo de gente e aderi à cocaína. Estou tentando ainda me livrar dela...

- Por quê?

- Porque é outro caminho de volta muito, muito dolorosa, se você está realmente disposto a voltar. Aliás, nem tem caminho nenhum nela. Você chega aonde quer e acaba voltando mais do que devia, até que fica sem saber exatamente onde havia começado...

- Mas você encontrou o início.

- Emocionalmente... quase, estou chegando lá, disse ele, com um sorriso. - É bom quando você percebe o que te faz mal e consegue lutar contra. Eu comecei a usar cocaína como um estilo de vida. Tinha necessidade de me afirmar como gente, como homem... recuperar parte daquilo que eu havia perdido, ou eu achava que havia perdido: minha identidade.

- Como aconteceu a televisão na vida desse Bernie Taupin? Você esteve em Hardy Boys da ABC em 77...

- Aquilo que acontece a todo cara envolvido com música pop. Foi uma experiência muito boa, muito gostosa, válida. Adorei ser dirigido e poder ser outro cara dentro de uma história que não era a minha... mas não acho que possa ou deva seguir carreira com isso não.

- Você tem boa pinta, devia investir...

Ambos riram. Bernie corou, mas resolveu não prolongar o assunto.

- Com Alice Cooper foi a mesma coisa?

- Não. Conheço o Alice há muitos anos. Somos amigos antes de termos sido parceiros no “From the Inside”. Ele havia sofrido um bocado também por causa do álcool e me convenceu a fazer o álbum falando disso. Eu estava querendo realmente fazer alguma coisa forte nesse estilo. Falar de mim, das coisas que eu pensava da vida e colocar meus conflitos nas minhas letras, não qualquer conflito, daqueles que todo ser humano tem como... ter o nariz muito grande ou... gaguejar diante de uma mulher bonita... Eu queria falar daquele momento da minha vida e falei também das experiências dele. Alice me deu essa chance porque ele também estava inspirado para falar daquilo. Precisava falar do alcoolismo como eu. Tinha passado por problemas por causa da bebida.

- E a coisa toda continuou no “He who rides the tiger”... Qual foi a reação do Elton a isso?

Bernie começou a rir, tímido como sempre.

- Ninguém ficou mais surpreso que ele! É muito engraçado... Com ele, eu tinha medo de interferir e dizer: 'Isso devia soar assim ou assado', porque esse era o trabalho dele. Mas desta vez a coisa toda dependia só de mim."

- Você se viu livre para fazer o que também tem talento pra fazer.

- Exatamente. O “Tiger” sou eu inteiro. Não fui policiado por ninguém, fiz as coisas do modo que eu queria, falei do que eu sentia, critiquei aquele lado do mundo que eu não aceito, pus pra fora tudo que estava engasgado na minha garganta e culminei cantando tudo isso da forma mais... simples, através das notas do Dennis, que me deu uma força incrível.

- Você fala como se nada disso tivesse acontecido com Elton.

- E não aconteceu realmente. Aliás, ninguém ficou mais surpreso do que ele durante as sessões de gravação, Bernie riu. - Afinal, eu estava fazendo tudo que nunca tinha tido coragem de fazer como letrista dele, porque eu já não era letrista de ninguém naquele momento. Com ele, eu tinha receio de dizer: “Isso poderia ser assim” ou “Não gosto dessa canção com este tom”. Aquela era uma praia só dele. Eu não podia mesmo interferir. O “Tiger” é o meu jeito de fazer música. Fico feliz por ter encontrado Dennis Tufano que me ajudou a realizar meu sonho.

- Do seu ponto de vista, o que aconteceu com a carreira de Elton John sem Bernie Taupin?

Bernie ergueu as sobrancelhas, encostou-se e sorriu; apoiou o braço da poltrona e mordeu a unha do polegar.

ELE QUE CAVALGA O TIGRE – PARTE 8

CONTINUA...

DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCA SUA FÉ!

OBRIGADA E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 31/08/2019
Código do texto: T6733521
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