Q.B. - ELE QUE CAVALGA O TIGRE - PARTE 6

IV - ELE QUE CAVALGA O TIGRE

I don’t regret a single day, you see?

(Eu não reclamo de um só dia, sabe?)

Some of it was fun

(Alguns deles foram divertidos)

Ten years on I’m wiser

(Dez anos depois, eu estou mais esperto)

But I’m still a farmer son.

(mas ainda sou filho de fazendeiro.)

“Approaching Armageddon” – Álbum He who rides the tiger - 1980

Elton sorriu ao ouvir Wayne, seu segurança, falar sobre seus fãs.

- Você deve ter uma paciência incrível...

- Já acostumei.

O carro de Paul Gambaccini chegou perto do portão e ele buzinou. Elton acenou e afastou-se para que o vigia acionasse o controle remoto para abri-lo. O carro entrou e o portão foi fechado novamente, enquanto Paul descia do veículo e apertava a mão de Elton.

- Até que não está com aspecto tão ruim, depois de uma noite de boemia. Como vai? - perguntou o repórter, sorrindo.

- Estou usando máscara, brincou Elton.

Duas garotas iam passando pela avenida e o viram ali. Imediatamente, aproximaram-se e chamaram:

- Elton!

Ele olhou para as duas e depois para Wayne que ergueu os ombros como a dizer: eu não disse? Paul riu.

- Me dá um minuto, Paul? - Elton pediu, indo até as moças.

Conversou com elas por alguns minutos, deu autógrafos em uma camiseta e uma folha de papel, trocou beijos ali mesmo por entre as grades, apertou mãos e despediu-se, indo novamente para perto do repórter. As duas ficaram acenando para ele, por algum tempo, até que desaparecesse pelo longo percurso de volta à casa.

- Tem certeza de que eu não estou atrapalhando seu descanso? - perguntou Paul.

- Eu vou ter o dia inteiro pra dormir. Depois de amanhã tenho uma entrevista com Johnny Carson, na televisão, e esse vai ser meu primeiro dia de trabalho. Um trabalho que só vai terminar em dezembro ou janeiro do ano que vem.

- Vai ficar por aqui até a turnê começar?

- Não, volto para Londres antes.

- Isso é bom!

- Por quê? Seu ar de mistério me diz que o senhor tem planos.

- Quero entrevistar você pelo rádio, lá em Londres.

Entraram na casa.

- Você não veio até aqui pra me pedir isso, veio? - disse Elton, apontado o sofá, para que ele se sentasse.

- Não, vim ver como você está mesmo, e achei que seria bom falar com você pessoalmente sobre isso em vez de falar com o John ou sua secretária.

- Não estou mais correndo de entrevistas, Paul, mas também só cedo a quem me interessa, a quem eu já conheço o trabalho e sei que não vai distorcer minhas palavras. Você é uma dessas pessoas.

- Obrigado.

- Marque o dia então. Eu vou para Londres em sete dias.

- Que tal dia 20?

- É uma... sexta-feira?

- É...

- Ok. Mas enquanto você não me estrangula com o fio do microfone, que tal comer alguma coisa?

- Tem certeza de que você não vai desmaiar? Pode te fazer mal, ficar tanto tempo sem dormir...

- Faz sim, se minha mãe descobrir.

Os dois riram.

- Prometo que não conto.

- Já me deixa mais tranquilo, disse Elton, pegando o interfone para falar com a cozinha.

Comeram alguma coisa e voltaram ao jardim, onde havia uma quadra de tênis.

- Topa uma partida? - sugeriu Elton

- Você está doido? Já te vi jogando.

- Tão ruim assim? - ele perguntou, sorrindo, encostando-se no alambrado divisório.

- Ruim? Engraçadinho! Eu não vou me arriscar com um aluno de Billy Jean King, nem morto!

- Que nada! Eu nunca consegui ser mais do que o parceiro mais desajeitado dela. Eu a esgotava só por fazê-la rir.

- É, pode ser... Mas se fosse futebol, ainda ia.

- No futebol é outra história. De futebol eu entendo! Não sou nenhum craque, mas me garanto, no campo, apesar do meu tamanho. Ser presidente do Watford me deu conhecimento no assunto e eu sei o que fazer num campo de futebol, e o que eu não sei, o dinheiro faz por mim. Contrato gente que entenda e a coisa acontece. Já estou com saudade de lá. Se não fosse o Eddye... Ele me liga quase todos os dias pra me contar as novidades, e quando ele não liga, eu ligo. Não vou estar longe do time por mais de dois dias. Mesmo em turnê, acho que vai ser meio difícil isso acontecer. Estamos entrando numa fase muito boa e não quero perder nenhum lance.

- E o coração?

- Hum?

- Como vai o coração?

- Bem, batendo como sempre, respondeu ele, como se não tivesse entendido a pergunta.

- Você sabe do que eu estou falando...

- Vazio, cheio às vezes... o de sempre.

- Mesmo?

- Quem eu tenho no meu coração, de verdade, não pode ser meu, então prefiro pensar que ele está vazio...

Elton começou a andar pelo jardim.

- Você não pensa em encontrar alguém, se casar...?

- Casar?... respondeu Elton com um suspiro. - É mesmo, né? Mesmo um padre não fica tanto tempo sem ninguém.

Paul riu. Elton também.

- Acho melhor eu ir embora, disse Paul. - Você está quase dormindo em pé.

- Acabou de chegar!

- A gente se vê em Londres, dia 20, não é?

- Confirma isso com a Laura. Ela é quem me lembra das coisas.

- Está certo. Vá descansar, por favor!

Apertaram-se as mãos e o repórter foi para o carro, saindo em seguida. Sozinho na casa novamente, Elton entrou, subiu para o quarto, tomou outro banho e jogou-se na cama. Dormiu o dia inteiro.

ELE QUE CAVALGA O TIGRE – PARTE 6

CONTINUA...

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS E NUNCA PERCA SUA FÉ!

OBRIGADA E BOM DIA!