Q.B. - DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO - PARTE 11

III - DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO

Don’t judge us by distance or the difference between us…

…try to look at it with an open mind...

…because where there is one room... you always find another…

Two rooms at the end of the world

Elton estava como que congelado, olhando para o parceiro. Clive perguntou para ele:

- E aí, patrão? Como fica?

- Ah, agora eu sou o patrão? - Elton perguntou, como se acordando. - Você fala tudo, coloca tudo em cima da mesa, faz, desfaz, manda, desmanda e agora eu sou o patrão?

- Mas você não quer isso também?

- Já sugeri isso pra ele duas vezes e ele não aceitou.

- Você não pediu direito... E também não era o momento, falou Bernie.

- E agora é?

- Se aceitarem minhas condições...

- Você não me deu esse direito.

- Outros tempos, Elton, outra época. Nenhum de nós estava com a cabeça fria pra decidir nada. Admita. E, se o problema é a proposta ter sido feita pelo Clive e não por você, a gente fala com mais calma numa outra hora.

- Não menospreze minha inteligência, Bernie. Nunca contestei as ideias do Clive e não é agora que vou fazer isso. Ele me pegou de surpresa, é só. Você aceita isso mesmo?

- Se aceitar as minhas condições... Se continuar como agora: você lá e eu aqui... sim. Não quero assinar contrato nem ter deveres.

- Feito?! - disse Elton, estendendo a mão.

Bernie ficou olhando para ele e apertou sua mão. Clive sorriu satisfeito. Dennis olhou para a cena, intimamente imaginando que alguma coisa muito grande estava acontecendo. Ele mesmo já tinha sonhado com as músicas daquela dupla e ela estava se refazendo diante de seus olhos. Clive foi até o bar e apanhou bebida para todos, Bernie não aceitou.

- Não acompanha a gente?

- Já bebi demais hoje. Já paguei muito caro pelos meus excessos do passado. Estou tentando me limpar um pouco.

- Boas falas! Por amor a quem? - perguntou Clive.

- A mim, à Toni... Ela merece cada gole que eu não tomo.

- Está apaixonado mesmo, hein? - perguntou Elton.

- Eu achava que não, no começo, mas é muito bom voltar pra casa e ter alguém me esperando. E ela me respeita muito, sempre respeitou. É o mínimo que eu posso fazer por ela... Estou apaixonado sim.

Clive voltou-se para Dennis sentado ao piano e perguntou para ele:

- Você não diz nada?

- Eu me limito a assistir a história da música acontecer. Houve uma canção que esses dois fizeram em 75 que tinha um verso que dizia assim: E começou a cantar a canção “Will we still be writing, in aproacching years?...”.(Nós ainda estaremos escrevendo, nos próximos anos?...) Ele parou de tocar e cantar e olhou para os dois.

- “Writing”, falou Clive.

- Eu cheguei na história agora, disse Dennis. - Sou só dois anos mais velho que o Bernie, o que quer dizer que eu vivi toda aquela época, de um prisma totalmente diferente. Mas eu curtia os dois demais e sei que as músicas de Elton John nasceram pra serem cantadas com as letras de Bernie Taupin. Elton é um músico de primeira. Essa verdade ninguém apaga, nem o mais cruel dos críticos. Dom é dom. “Out of the blue” me levava às nuvens, como instrumental. E “Indian Sunset” era uma letra com a homenagem ao índio americano que sempre me arrepiava. Vocês eram um time de primeira, juntos.

- Concordo, falou Clive. - E podem voltar a ser.

Bernie levantou-se e finalizou, sério:

- Como antes, nunca!

O letrista afastou-se e foi para sala de jogos. Um silêncio incômodo caiu sobre a sala. Elton colocou o copo sobre a mesinha de centro e disse:

- Vamos indo, Clive?

- Vamos... Foi um prazer revê-lo, Dennis.

- O prazer foi meu. Olha, não quero... ensinar o pai-nosso ao padre, mas o Bernie é o cara mais inteligente que eu já conheci e é um músico de primeira também. Ele vai relaxar a respeito de tudo isso. Fique sossegado, Elton.

- Obrigado por estar ajudando ele. É muito importante pra mim.

- Você fica na América até quando?

- Início de agosto. Depois Alemanha e França. Quando vocês pretendem lançar o álbum?

- No ano que vem, se tudo der certo.

- Vai dar, falou Elton. - Vou lá dentro me despedir dele. Com licença.

Elton foi até a sala de jogos e viu Bernie fumando, encostado na mesa de bilhar. Ficou parado na porta aberta e disse:

- Vou embora.

- Volte sempre. A casa é sua. Venha outro dia quando Toni estiver aqui, não sei por que ela ainda não chegou...

- Não tem problema... Desculpa... por tudo.

- Não aconteceu nada... Você já tem material do Osborne pra trabalhar?

- Alguma coisa. Nada que dê pra começar ainda.

- Você vai estar onde mês que vem?

- Pra ficar mais simples... Eu vou estar em Nice em agosto. Você pode me entregar alguma coisa lá... O velho sistema: manda por fax.

- Vou ver o que faço.

- Até mais, disse Elton estendendo a mão.

- Tchau, disse Bernie, apertando-a.

Bernie voltou com ele pra sala e despediu-se também de Clive e os dois foram embora. Dennis e Bernie ficaram sozinhos. Bernie ficou parado na porta, pensativo e distante, longe dali. Dennis percebeu e aproximou-se dele.

DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO – PARTE 11

CONTINUA...

DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCA SUA FÉ!

OBRIGADA E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 07/08/2019
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