Q.B. - DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO - PARTE 5
III - DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO
Don’t judge us by distance or the difference between us…
(Não nos julgue a distância, ou a diferença entre nós...)
…try to look at it with an open mind...
(...tente olhar para isso com a mente aberta...)
…because where there is one room... you always find another…
(...pois onde há um quarto... você sempre encontrará outro...)
O álbum “A Single Man” ganhou disco de platina no mês de abril. O hit “Part Time love” era tocado em todas as FMs, além do enorme sucesso do instrumental ”Song for Guy”, que evocava ainda a memória do garoto Guy.
Horizontes abertos, barreiras quebradas, Elton resolveu voltar aos palcos que o fizeram astro: os Estados Unidos da América.
Uma pequena turnê pela América foi marcada e ele instalou-se em sua mansão californiana em Beverly Hills, perto de Bernie.
O público americano estranhou a volta do cantor. Depois de quase três anos sem excursionar pelas terras do Tio Sam, ele realmente estava mudado. Havia engordado um pouco e isso surgiu como comentário nas colunas de jornais que ainda faziam questão de tocar na ferida da revelação de Elton sobre sua homossexualidade. Todos estranharam sua aparência e seu modo de ser em palco, bem mais comedido e sério. O entusiasmo dos grandes espetáculos do início da década de setenta já não existia mais, como se Elton tivesse se transformado em outro artista.
Os comentários e as críticas irritaram o cantor que não achava justo que isso fosse a coisa mais importante de sua vida a ser posta em colunas de revistas ou de ser comentada por seja lá quem fosse.
- Ninguém parou pra perguntar se eu estou feliz como estou! - disse ele, entrando na mansão com John e Clive, depois de uma coletiva com a imprensa. Estava bastante irritado.
- Calma, homem! Você não vai começar a ligar pra isso novamente, vai? - perguntou John. - Você engordou um pouquinho desde a última vez em que se apresentou aqui... Já faz uns anos...
- Mas nunca tive cintura de formiga para estranharem tanto, droga! - falou ele, tirando o cachecol do pescoço e jogando-o sobre o sofá. - Se eu estivesse magro e infeliz, tenho certeza de que ninguém me perguntaria se eu estou com algum problema e se preciso de ajuda.
- E você não tem, agora; portanto, não arrume um! - falou Clive. - Você tem um show em três dias e gravação em duas semanas, lembra? Relaxa!
- Claro que lembro. A gordura ainda não afetou meu cérebro! - declarou ele, desabotoando o casaco e tirando-o.
Clive sorriu, sentando numa poltrona.
- De volta à carga!... disse baixinho.
- O quê?
- Nada, só pensando alto demais...
- Bebe alguma coisa, Franks? - John perguntou, indo para o bar.
- Não, mas o seu amigo aí deve estar precisando.
- Elton, sente-se e relaxe. Crítica é crítica, imprensa é imprensa e ninguém vai tirar você da berlinda tão cedo mais. Não, depois de todas as coisas que você tem realizado nesses últimos meses.
- Antes eu tivesse ficado onde estava. Devia continuar trancado em casa... na minha terra!
- Isola, cara! - disse Clive, batendo na madeira do braço do sofá. Nem pensar nisso de novo!
O telefone tocou. Elton foi atender.
- Não atende, não! Pode ser algum repórter, falou John, correndo até o telefone, mas Elton chegou antes.
- Se for um repórter, eu tenho meia dúzia de palavrões novos que aprendi na Rússia. Alô!
- Bem vindo à América! Que bicho te mordeu dessa vez?
- Quem é? - perguntou ele, não reconhecendo a voz de imediato.
- O vendedor de seguros contra roubo de paciência. Está interessado?
- Bernie?
- Não, Richard Nixon! Que aconteceu? Por que você está tão azedo? Aquela entrevistazinha já deu pra apertar seu calo, amigo?
- Como é que você sabe?
- Aqui na Califórnia existe um aparelho fantástico chamado televisão e eu tenho um de 32 polegadas. Te vi no noticiário, oras bolas!
- De onde você está ligando, de casa?
- Eu moro nesse país, sabia?
- Por que não veio me ver antes, merdinha? Estou aqui há uma semana!
- Pelo mesmo motivo que você, merda mor. E não me xinga. Aprendi a devolver!
Elton riu.
- Eu não vim a passeio. Estou em turnê!
- Eu sei. Estou gostando de ver. Europa, Israel, Rússia... Logo, logo, John vai estar fazendo contatos de primeiro grau com marcianos por sua causa.
- Estou me beliscando até agora, garoto. Vem pra cá pra gente abrir uma garrafa de vodca e...
- Negativo. Eu que liguei pra convidar. Vem pra cá você.
- Não dá. John e Clive estão aqui comigo também.
- Ótimo! Traga os dois! John sabe o endereço. Você sabe que eu estou em San Fernando, não sabe?
- Sei... Tá bom, até já.
Elton colocou o telefone no gancho e olhou para John e Clive, com cara de criança travessa.
- Vamos?
DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO – PARTE 5
CONTINUA...
DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCA SUA FÉ!
OBRIGADA E BOM DIA!