QUEBRANDO BARREIRAS - CAMALEÃO - PARTE 7
II - CAMALEÃO
But you’ve created your own ghosts,
(Mas você criou seus próprios fantasmas,)
…And the need you have is most...
(... E a necessidade que você tem é maior...)
Than more to hide it
(...do que possa esconder...)
“Chameleon” – do álbum duplo Blue Moves, lançado em 1976
As notícias se espalharam rapidamente. Elton John teria sido internado às pressas em um hospital em Londres e o porta-voz da Rocket Records tratou de encobrir os fatos que explicavam realmente a situação. Para todos os efeitos, Elton teria sido vítima de um mal súbito.
Os jornais espalharam que ele tinha tido fortes dores no peito quando deu entrada no hospital e não demorou muito para que dissessem até que ele teria sofrido uma parada cardíaca após um transplante (!)
Ao chegar a Londres, Bernie foi direto para Woodside, a mansão Londrina do cantor, pois sabia que no hospital seria impossível ter qualquer contato com Elton ou com quem quer que fosse. A imprensa cercava o hospital como urubus rondando carniça.
A mansão não estava menos cercada. Os repórteres rodearam o carro do letrista ao chegar à frente do portão principal, como se ele soubesse muito mais que o resto do mundo.
Bernie nem abriu o vidro do carro, até que o portão fosse aberto e os seguranças de Elton impedissem os repórteres de entrarem na casa. Ao chegar diante da porta principal, ele saiu do carro, abriu a porta para Toni e entraram rapidamente, seguros e aliviados.
Só Fred estava dentro da casa para atender os telefonemas de amigos que queriam avidamente saber de Elton. O decorador o recebeu, calmo como sempre, mas ainda tenso.
- Que bom te ver de novo, Bernie. Como está? - perguntou ele, apertando a mão do letrista.
- Tudo bem, Fred, e você?
- Podia estar melhor...
- Que loucura é essa? Que aconteceu com ele?
Fred olhou para Toni e Bernie percebeu que não tinha apresentado os dois.
- Ah, desculpe... Essa é Toni Russo, minha mulher... Toni, esse é Fred Farebrother, o padrasto do Elton.
Sorrindo, Fred apertou a mão da moça, depois os convidou a sentar. Bernie olhou em volta e respirou fundo.
- Tinha quase me esquecido como isso aqui é grande!...
Sentou-se ao lado de Toni no sofá e olhou para Fred, esperando as explicações.
- Foi mesmo enfarte como os jornais estão dizendo? - Bernie quis saber.
- O pessoal da gravadora tinha que falar alguma coisa pra eles, para deixá-los em paz...
- Mas...? – perguntou Bernie, pedindo mais explicações.
Fred apertava uma mão na outra, nervoso...
- Ele... foi encontrado no quarto inconsciente com... um vidro inteiro de soníferos vazio... ao lado da cama.
Bernie encostou os braços nos joelhos, passando as mãos pela testa. Depois, levantou-se e foi para perto da janela, olhando para fora para o imenso jardim, com a mão sobre a boca.
- Por muito pouco ele não acordava mais... continuou Fred. - A dose foi muito grande. Sheila levou um susto enorme.
- Quem o encontrou? - Toni perguntou.
- Eu... por sorte, se tivesse sido ela, teria morrido do coração!
- E onde ela está?
- No hospital, com ele.
- E cadê todo mundo, perguntou Bernie, voltando-se. - Por que você está sozinho? Não veio ninguém pra cá? Cadê o John?
- Está com ela também. Está muito recente ainda, isso aconteceu de madrugada. Muita gente ainda não sabe.
- Mas a imprensa já sabe... o letrista falou irônico. - Bando de... Já teve alguma notícia do hospital?
- Já, quando Sheila ligou pra cá da última vez, eles já tinham conseguido colocá-lo fora de perigo, graças a Deus. Ele já está consciente.
Bernie voltou a sentar-se e perguntou:
- Fred, eu já conheço o histórico de vida do Elton... mas ouso perguntar... O que foi dessa vez? Quer dizer, tomar um vidro inteiro de sonífero não quer dizer necessariamente que a pessoa estivesse querendo desesperadamente dormir. É o que eu estou pensando?
Fred suspirou fundo e respondeu, com a voz meio sumida:
- É o que tudo indica...
Bernie encostou-se no sofá e deixou os braços caírem sobre as pernas, fechando os olhos. A campainha tocou ao mesmo tempo em que o telefone.
- Atenda ao telefone, disse Bernie. - Eu abro a porta.
Fred foi atender ao telefone e Bernie foi abrir a porta para John Reid, que entrou, meio pálido e com a expressão cansada. Apertou a mão de Bernie.
- Poxa, que bom que você veio...
- Vim logo depois que você ligou. Como ele está?
- Bem, acho. Eu o deixei acordado quando saí de lá...
O empresário foi sentar-se no sofá.
- John, essa é Toni Russo, minha mulher... John Reid, empresário do Elton.
John apertou a mão da moça com um sorriso que ela retribuiu.
- Que foi desta vez?
- Não sei... Ele não abriu a boca até agora, não falou nem com a mãe...
- Um soco no nariz abriria a boca dele... disse Bernie, tranquilamente.
- Bernie! - exclamou Toni.
- Acho que, de certa forma, eu concordo com você, disse John. – Tive vontade de fazer isso... Mas preciso conversar com ele primeiro pra tirar minhas conclusões. A gente não está na pele dele e nos últimos tempos as coisas não têm sido fáceis...
- É, ficaria mais fácil no inferno, que era pra onde ele iria!
- Não sabemos o que foi ainda, Bernie...
- E o que pode ter sido, John? Tomar um vidro inteiro de sonífero! Que nome você dá pra uma ação maluca dessas? Eu já vivi essa história, meu caro! Eu já vi esse filme em 75, caramba, e você também! Ele se jogou na piscina com a barriga cheia de comprimidos pra dormir dizendo que queria se matar!
O letrista saiu da sala zangado e foi para o salão de festas da mansão, uma sala ampla, com vários quadros renascentistas nas paredes, muitos vasos e obras de arte por todo o recinto, foi para perto da lareira e acendeu um cigarro.
Fred voltou para perto de Toni e John, depois de atender ao telefone.
- Olá, John! Estava atendendo um telefonema. Parece que gente da Inglaterra inteira está ligando pra cá... Como é que ele está?
- Está fora de perigo. Em choque, mas fora de perigo...
Toni os deixou conversando e foi atrás de Bernie. Dificilmente via o marido daquele jeito. Ele geralmente era muito calmo e centrado, mas havia saído do sério naquele momento. Aquilo a preocupou.
Bernie estava parado no meio do salão. Ele olhava para o enorme quadro de Patrick Proktor pintado a óleo, sobre a lareira. O quadro era todo azul e tinha vários jovens que conversavam tranquilamente, deitados na grama do que parecia ser uma praça.
Ela o envolveu na cintura por trás e o beijou no rosto. Depois ficou olhando para o quadro, abraçada nele, e percebeu que já conhecia aquela pintura.
CAMALEÃO – PARTE 7
TO BE CONTINUED... (CONTINUA...)
OBRIGADA E BOM DIA!