QUEBRANDO BARREIRAS - RESSURREIÇÃO - PARTE 12
I - RESSURREIÇÃO
Alguém está com problemas em algum lugar esta noite...
... O vento levou para longe todas as notícias de ontem...
Elton sorriu gostoso, balançando a cabeça.
- Sabia que eu também fui officeboy? Só que eu nunca fui muito feliz, mesmo trabalhado numa gravadora também, convivendo com gente que eu admirava e que sonhava ser um dia. Eu era o oposto de você...
- Você tinha seus motivos... Guy falou.
- É, eu tinha... mas as pessoas não têm culpa do que a gente sofre em casa. O problema é que... nem todo mundo tem facilidade de abrir um sorriso quando o coração aperta. Nunca fui muito bom nisso, a não ser no palco...
- É fácil sorrir quando você está fazendo o que gosta de fazer, não importa o que esteja acontecendo lá fora. Se a mente não tem com que se ocupar, a gente só pensa bobagem e é pior.
- É... isso quando a consciência também não atrapalha... Quando a gente se acusa de ter feito algo que lesou alguém de algum modo...
- Acontece comigo, às vezes, Guy disse, rindo.
- Sério? Já magoou alguém tão sério?
- Minha mãe! Se fizer algo em casa que a magoa e venho trabalhar sem pedir desculpas, o dia passa lento, estranho, devagar...
Elton sorriu, batendo com a caneta sobre a mesa devagar.
- É, as mães têm o péssimo costume de deixar a gente com a consciência pesada... mas pras mães é fácil pedir desculpas...
- Pra todo mundo deve ser... não é?
Elton ficou olhando para a janela e começou a brincar com o brinco na orelha direita. Pareceu estar longe em pensamento e Guy teve que acordá-lo:
- Estou te aborrecendo?
- Não! Não está, Guy. É que você diz cada coisa que parece que tenho dez anos a mesmo que você.
Clive Franks entrou na sala.
- Ah, eu sabia que ele estava aqui! Está todo mundo doido procurando por um tal de Guy Burtchett! Você o viu por aí, Elton?
Elton apenas sorriu, erguendo os ombros. Guy levantou-se da cadeira em que estava sentado como se fosse impulsionado por uma mola. Ia passando correndo por Clive que o segurou pelo braço.
- Calma! Ainda não decretaram a Terceira Guerra Mundial por sua causa, garoto! Assim você não chega aos dezoito!
- Guy! - chamou Elton.
O rapaz olhou para ele.
- Não trabalhe como se os problemas da Rocket fossem seus. Vai com calma!
- Eu quero aprender tudo que for possível! - falou o rapaz. - Um dia, posso chegar a ser seu braço direito! Não posso? Você chegou até aqui!
Elton ficou olhando para ele admirado. Clive tirou o boné da cabeça do rapaz e desmanchou seu cabelo.
- Altos sonhos, hein?! - zangou Clive. - Querendo tomar meu lugar, pivete! Dá o fora!
Elton levantou-se rindo e foi sentar-se na frente da mesa, cruzando os braços, enquanto Guy saia correndo da sala.
- O que é tão engraçado? - perguntou Clive. - Viu só o topete do galinho? Que minhocas você anda colocando na cabeça dele?
- Eu, nenhuma, mas ele me ajuda um bocado a realimentar as minhas minhocas mais divertidas! Eu gosto dele demais! Se tivesse um pouco mais de idade, seu pescoço estaria a prêmio aqui na Rocket...
- Ah, muito obrigado, amigo da onça!
- Falando sério agora, Clive, tive uma ideia ontem à tarde...
- Oba! Ideias! - disse o produtor sentando-se na cadeira de Elton.
Elton apoiou os dois braços na mesa.
- Vou colocar o Watford cantado comigo numa das canções do álbum.
- Jogando?! - brincou Clive, gozador, fingindo não ter entendido.
- Cantando, Clive, evidente! Não são a orquestra do Ray Connif, mas cantam bem em conjunto. De vez em quando ensaiamos alguma coisa de improviso lá no clube e fica muito legal!
Foi para a porta e saiu, deixando Clive sozinho.
- Ei! Aonde é que você vai?! - perguntou ele, indo atrás de Elton.
- Pro estúdio, eu penso melhor lá, disse Elton, sem parar de andar.
Foram para os estúdios de gravação e Elton ajeitou-se diante do Yamaha, começando a tocar a introdução de “Georgia”.
- Mas em qual canção? - perguntou Clive.
Elton não respondeu, só continuou tocando, olhando para ele, com um sorriso no rosto.
- “Georgia”!... - ponderou Clive.
- Tem todo um clima para um coral masculino... continuou Elton.
- É... Acho que depois de bem ensaiados pode até dar certo... concordou Clive, encostando-se no piano.
- Seria uma boa maneira de agradecer todo carinho que têm tido por mim e pela ajuda que têm me dado, falou Elton, continuando a tocar a canção.
Depois de alguns segundos ouvindo a canção que Elton tocava apenas, Clive perguntou:
- Posso te fazer uma pergunta indiscreta, Elton?
Elton apenas balançou a cabeça, consentido, sem parar de tocar.
- Como o Bernie te passou a letra de “Ego”?
Elton demorou uns segundos para responder, ainda sem parar de tocar, mas seu rosto ficou mais sério.
- Era material para o “Blue Moves”, como... “I cry at night”... Só que era tudo tão triste e pra baixo nesse material, embora muito bonito e inspirado, um dos materiais mais bonitos que Bernie já fez pra mim... que tive que deixar pra lá, porque o álbum já saiu duplo, dezoito músicas... Eu só tirei as duas...
Ele parou de tocar, levantou-se e afastou-se do piano colocando as mãos nos bolsos das calças largas. Voltou-se para Clive, sorrindo, e deu de ombros.
RESSURREIÇÃO – PARTE 12
CONTINUA...
BOM DIA!