QUEBRANDO BARREIRAS - RESSURREIÇÃO - PARTE 8

I - RESSURREIÇÃO

Alguém está com problemas em algum lugar esta noite...

... O vento levou para longe todas as notícias de ontem...

Nos dias que se seguiram, Elton, Gary, Davey, Ray, Clive, Paul Buckmaster e Herbie Flowers, que havia sido convidado para participar do álbum, começaram a ensaiar. No final do mês de janeiro daquele mil novecentos e setenta e oito, iniciaram-se as gravações do novo álbum.

Dois dias antes de embarcar para o Rio de Janeiro, ele e os músicos passaram o tempo inteiro no estúdio, gravando algumas das faixas já prontas, dia e noite, praticamente sem descanso nenhum. Chegaram a varar uma noite de sábado para domingo, sem dormir.

Na madrugada de primeiro de fevereiro, ele dispensou os músicos e ficou sozinho no estúdio com Davey e Ray, que não quiseram ir embora sem antes falar com ele. Enquanto Ray tirava umas notas, sentado ao piano que Elton usara na gravação, este, deitado no sofá ali perto perguntou:

- Chega, Ray, vá descansar! Não aguento mais nem ouvir som nenhum de música. Já basta.

Ray sorriu displicente e parou, tomando um gole de água do copo sobre o piano. Davey, abraçado à guitarra, sentado num banquinho, só olhava para ele. Elton voltou os olhos para ele e disse:

- Uma libra pelos seus pensamentos...

Davey sorriu e falou, com voz cansada:

- Desta vez parece que sai, hein?

Elton esfregou o rosto e massageou a nuca, tentado relaxar. Virou-se de lado apoiando o rosto na mão, fechando os olhos, como se quisesse dormir ali. Davey continuou:

- Por que essa pressa de fazer tudo correndo, Elton? Por que esse desespero? Você está correndo atrás de quem, ou do quê?

- Sei lá... Elton falou, ainda de olhos fechados. - Eu devo isso a muita gente, Davey, embora saiba que vou receber críticas por voltar diferente. Esse álbum está muito diferente de tudo que eu já fiz.

- Isso é verdade! Não tem Bernie nele... falou Ray, mas não quer dizer que não esteja bem feito.

Elton fechou os olhos e sentiu os pelos do braço se eriçarem. Não disse nada.

- Para um pouco de pensar nos outros, cara.

- Não, Davey! Agora é que eu tenho que começar a pensar, e muito, nas pessoas que trabalham comigo e que compram meu trabalho, disse Elton, sentando-se no sofá. - Foi por não pensar que eu perdi tanta coisa... Foi por me colocar no centro do mundo como se ninguém existisse que acabei assim. O que acontece é que... não sei se vou continuar ouvindo quem fala mal de mim gratuitamente... e ficar calado... Eu sempre fui meio lerdo pra umas coisas e... acelerado demais pra outras. Nunca fiz nada pra me defender quando e como devia quando tinha que fazer isso. Ninguém me levava a sério... porque eu não me levava a sério. Não queria ferir ninguém. Não queria ferir as pessoas e acabei me machucando e machucando a quem não devia. Nigel... Dee... Agora eu tenho que fazer o contrário... ouvir quem realmente me ama, quem está a meu lado todo o tempo me dando a mão... mesmo quando eu, teimoso como sou, me recuso a aceitá-la...

Davey colocou a guitarra no suporte ali perto e foi sentar-se do lado dele.

- E o Bernie, Elton? Não tem mais volta? Seria maravilhoso e ele voltasse, com você pensando assim...

Os olhos de Elton brilharam, ficando mais redondos que de costume. Ele levantou-se e foi sentar-se ao piano, arrumando a boina na cabeça e ajeitando o cabelo curto sob ela.

- Eu preciso libertar por uns tempos meu cowboy, Davey, disse ele, encostando a cabeça na mão, apoiada no piano. - Ele precisa respirar... Saiu muito machucado disso tudo. E, mesmo que eu quisesse, não tenho coragem nem moral pra pedir nada a ele agora. Ele está zangado comigo... e com tudo a minha volta. Está cansado e triste... Precisa de um tempo e de férias... de mim. Contentem-se com “Ego”. Por algum tempo, vai ser a única coisa que vocês e o público que ama a gente vai ouvir de nós dois.

Começou a tocar a música sem a letra.

Os três ficaram em silêncio por algum tempo e Elton finalmente parou de tocar, olhou para os dois e falou:

- Vão pra casa, meninos. Já judiei demais de vocês. E Deus sabe que eu só faço isso com vocês, porque vocês deixam. Nenhum ser vivente deveria trabalhar tanto tempo sem pedir água nunca!

- A gente ama tocar, falou Davey, sorrindo triste.

- Tanto quanto você, concordou Ray, sério, como de costume.

Elton sentiu os olhos encherem de água e sorriu também, erguendo-se.

- Dêem o fora daqui, eu tenho que ir pra casa tomar um banho e me despedir dos velhos pra embarcar daqui a pouco da França! Vou estar chegando no Rio à tardinha, amanhã.

Davey e Ray apertaram a mão de Elton, levantaram-se, indo para a porta.

- Boa viagem!

- Obrigado! Bom descanso!

RESSURREIÇÃO – PARTE 8

CONTINUA...

BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 06/07/2019
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