QUEBRANDO BARREIRAS - RESSURREIÇÃO - PARTE 6

I - RESSURREIÇÃO

Alguém está com problemas em algum lugar esta noite...

... O vento levou para longe todas as notícias de ontem...

Elton fechou as mãos sobre o teclado, soltou um longo suspiro e olhou para ele, respondendo em um tom de voz baixo, pois não queria ser grosseiro com Gary. Foi uma promessa que tinha feito a ele antes de iniciarem aquela colaboração. Gary queria ajudá-lo, mas não seria rebaixado pelos maus humores de Elton.

- Por respeito a ele e... eu estava muito doido naquele dia. Nem pensei muito no que ela significava. Eu nunca penso no que as letras do Bernie dizem. Só faço as músicas pra elas como se isso fosse a coisa mais natural do mundo pra mim... É automático... instintivo...

- Fácil...

- Muito fácil.

- Sem bloqueios...

Elton ficou calado e levantou-se, foi até o painel e desligou o tape; depois, voltou-se para Gary e continuou em tom ainda mais grave.

- Meu bloqueio não é por causa de letras ou do Bernie ou suas, Gary. É por causa das minhas letras, porque eu não consigo compor nada que valha a pena. Não consigo escrever letras. E isso me frustra, me deixa... nervoso. Eu não tenho o dom pra isso, como ele tinha... ou aliás, tem.

Elton voltou a sentar-se ao piano e continuou.

- Nosso jeito de trabalhar é diferente. Você já fez as músicas quando eu coloco as letras... Não dá pra ter bloqueio. Você não gostaria de fazer a música se eu te desse uma letra minha?

- Eu gosto do que você escreve, gosto um bocado... O tipo de emoção que você me passa é diferente, mas... isso não significa que eu não tenha facilidade de compor em cima de suas letras como tinha com as dele.

- Desculpe, disse Gary. - Eu pensei que...

- Vamos esquecer um pouco Bernie Taupin, ok? Eu já tenho problemas demais, pra enfrentar mais este. Vocês não são rivais. Ninguém está aqui competindo com ninguém... entendeu. Quero seu apoio nessa ideia, ok?

- Não precisa nem pedir, falou Gary sorrindo.

- Eu sei que não, Elton continuou, dedilhando no teclado o início de “Ego”. - Eu vou gravar “Ego”, como vou gravar “I cry at night”, que ele também compôs pra mim, há um tempo atrás, mas elas não vão se misturar com meu trabalho com você. O álbum que vai ser gravado no final do mês que vem vai ter só Elton John e Gary Osborne. “Ego” vai ser um compacto.

- “I cry at night” como lado B?

- Não sei ainda. Ele está lá em Los Angeles e não tem me mandado nada...

- Não vai ter nada dele no álbum?

- Acho que não... Se o Bernie está zangadinho... pior pra ele. Esse álbum vai ser um chute no traseiro dele.

Elton bebeu o resto de vodca que havia no copo sobre o piano.

- Nisso eu penso depois com o Clive ou ele vê o que faz, não sei... disse ele pensativo, olhando a partitura sobre o piano e coçando a nuca.

Gary foi pegar a guitarra, que ele tocava também, além de cantar, e sentou-se na banqueta da bateria, dedilhando algumas notas a esmo.

- É verdade que você vai ao Rio de Janeiro em fevereiro? - perguntou meio que só para puxar conversa, já que o clima tinha ficado meio tenso.

- Acho que sim... respondeu Elton, acertando alguma nota na partitura.

- Vai te fazer bem, alguma coisa diferente assim.

- Espero... o cantor continuou, ainda distante.

Clive Franks e John Reid, o empresário de Elton, entraram no estúdio momentos depois.

- Que caras fúnebres! - exclamou Clive. - Gary, não anda sendo bom negócio ficar perto do Elton ultimamente. Ele é uma injeção de desânimo na veia de qualquer mortal.

- Só não consigo atingir você, falou Elton.

- Claro que não! Eu sou a estaca que te põe e mantém em pé! - brincou ele, animado, apoiando-se nos ombros de Elton com todo o peso do corpo, para acorda-lo.

- Muito nobre, Clive. Minha vida em suas mãos. John, vou mudar de empresário.

John franziu as sobrancelhas e colocou a valise sobre o sintetizador, dando um sorrisinho sem graça, mas sem dizer palavra. Foi sentar-se numa poltrona do outro lado do estúdio.

- Como vão indo as canções? - perguntou Clive, esfregando as mãos, animado, olhando a partitura por cima do ombro de Elton.

- Gozando de boa saúde. Acho que já dá pra começar a gravar o álbum, no final do mês que vem.

- Isso é ótimo! - disse o produtor, apanhando a partitura nas mãos.

- Tão perto da viagem ao Brasil? - John perguntou. - Você vai chegar lá...

- Cansado, Elton completou. - Mas é pra isso que eu vou pra lá, pra descansar e espero que você tenha providenciado o maior sigilo possível. Não quero ninguém atrás de mim todo o tempo que eu estiver lá.

- Eu fiz o possível, mas não sei se vai ser fácil pra você, passar despercebido num país onde fez e faz um sucesso enorme ainda hoje.

- Fazia!

- Você é que pensa! “Greatest Hits II” estourou lá, o “Here and There” também. “Skyline Pigeon” faz sucesso lá, até hoje! Você não está morto, meu caro, só está apagado, fechado para balanço. Sempre será Elton John, queira você ou não, descendo do avião no aeroporto internacional do Rio de Janeiro.

RESSURREIÇÃO – PARTE 6

CONTINUA...

BOA NOITE!

Velucy
Enviado por Velucy em 05/07/2019
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