LIVRE ARBÍTRIO 12 FINAL
“CAMINHOS MISTERIOSOS”
“CAMINHOS MISTERIOSOS”
A vida voltou à rotina, até algum tempo depois houve cochichos e olhares enviesados, mas aos poucos ninguém mais falava no assunto. Mesmo porque o professor Hélio sabia como conquistar o pessoal e era respeitado tanto pelos professores seus colegas como por alunos dos dois sexos com as garotas sempre sonhando com o bonitão. Já tinham se passado dois meses e Jesuína que estava de licença na faculdade tomou a decisão de trancar sua matrícula sem consultar nem os avós nem o marido, simplesmente decidiu e fez! Nem Aldo nem a avó aprovaram. Hélio não deu opinião e ela apenas deu uma desculpa atestada por um médico moderninho de que estava com depressão pós-parto, mais uma das novidades que estava chegando ao país, “depressão”, veio em tempo para dondoquinhas que agora tinham como se expressar de maneira difícil e englobar na palavra algumas doses de fingimento, ”não como regra geral, claro! A doença existe e é séria, mas nem todos a desenvolve”.
O relacionamento esfriara devido às constantes grosserias de Jesuína, Hélio já estava de saco cheio, mas numa conversa com o tal médico perito na nova área criada pela medicina, achou que não tinha o direito de perder a calma com a esposa. Passou a tratá-la com uma atitude de indiferença, se ela queria sexo ele estava pronto, e fazia seu papel direito, mas sempre a deixando perceber que o fazia, mas não ficaria doente se faltasse.
Jesuína cuidava do bebê de maneira moderna, tinha uma babá, que fazia tudo, ela só dava carinho, tinha lavadeira, cozinheira. E tempo de sobra para fazer valer o adágio, “cabeça vazia oficina do diabo” Seus vizinhos mais próximos eram um casal com filho único, garoto Forte que aparentava mais idade do que tinha realmente, Tinha completado quinze anos e estava doido para provar suas virtudes masculinas com uma mulher de verdade. Vivia cobiçando a bela vizinha esposa do professor que percebendo, começou a provocá-lo deixando o garoto de miolo mole. Aos poucos ela o foi cativando, pedindo-lhe pequenos favores, coisas ridículas como trocar uma lâmpada que ela mesma retirava à boa e colocava uma queimada, apanhar uma fruta no pomar e aos poucos conseguindo deixar o garoto à vontade para achar que já era o rei da embolada e que a mulher estava apaixonada por ele.
Helio para ficar mais longe de casa começou a dar aulas durante o dia em outra cidade próxima e à noite chegava e ia direto para a faculdade habitual só chegando a casa onze horas, “às vezes mais”. Ela reclamava e ouvia dele que tinha que pagar as contas e iam assim levando à vida. Uma tarde Jesuína estava no pomar onde havia uma fresta no muro e ela sabia que o garoto passaria na calçada ao sair do colégio. Quando ele passou, ela o chamou e provocou - aposto como você não consegue pular este muro, ele no mesmo instante provou ser capaz, subiu e saltou ao outro lado e disse – ganhei a aposta o que vai me dar? - Eu, você me quer? - Quero agora respondeu ele, - então venha chamou Jesuína.
Ele a seguiu e se enfiaram para debaixo de um frondoso pé de carambolas onde ela; Quase fez o garoto ficar maluco de tesão. O rapazinho orientado por ela trabalhou até bem enquanto ela também muito excitada aproveitava para dar vazão aos instintos selvagens e numa volúpia ensandecida o beijava e dizia tudo que um homem gostaria de ouvir de uma mulher na hora do: “me mostre que você é tarada que lhe mostro como me comer”. Jesuína doida de desejo pelo garoto perdeu a noção do perigo e mandou-o ir à sua casa depois que escurecesse e as empregadas se fossem, ele foi à mesma noite e não parou mais.
Às vezes durante o dia ele dava um jeito de driblar as empregadas e se infiltrar pela janela no quarto de Jesuína para uma rapidinha, e à noite ele batia o ponto regularmente, estava vivendo o céu há uma semana e meia, mas quem disse que quando se é garoto a gente pega uma mulher e goza direito se ficar calado? Nana nina, tem-se que matar os colegas de inveja e contar até os mais sórdidos detalhes. Conta-se para o melhor amigo e pede segredo absoluto e sai com a certeza de seu amigo é um poço de fidelidade. Bem o amigo tem aquele outro grande amigo de confiança que fica sabendo com a mesma promessa de não contar, mas ele também tem um camarada do peito que não pode deixar de saber e daí a algumas horas já se formou uma turminha para vigiar as ações do sortudo e ver se ele esta mesmo falando a verdade.
Comprovado o heroísmo do amigo, vem à inveja, até com algum deles achando que também tem direito de tentar e na maior cara de pau, se aproxima da vítima e faz seu apelo, - aí eu também quero o que você esta dando para o Nicanor! Escuta a resposta – você está doido menino, me respeite senão eu conto para meu marido o que você esta me propondo! Ele se afasta de cabeça baixa e vai pela rua remoendo o seu fracasso, vai caminhando e involuntariamente seus pés o levam à sala de certo professor.
Quando é recebido fala em tom confidencial: - Olhe professor o senhor é uma pessoa que todo mundo gosta, e eu sei que vou lhe causar uma mágoa, até pensei em não vir aqui, mas puxa vida, o senhor não merece ser tratado assim; A pausa é exatamente para receber a dose de coragem que lhe falta e ela vem! Tudo bem pode falar eu não vou me zangar contigo fique à vontade. E ele desembucha, - sua mulher esta lhe traindo com um amigo meu e os moleques da rua estão todos sabendo. E assim depois de tudo bem explicado ainda diz, se o senhor quiser provas eu trago uns amigos meus e eles comprovam.
O professor agradece, não vai dar aula e à noite resolve ir mais cedo para o doce aconchego do seu lar, antes para numa certa reentrância do muro da sua residência onde aguarda paciente por algum acontecimento. E acontece, uma figura juvenil de porte atlético se aproxima devagar, olhando para os lados, desconfiado e empurra a porta apenas encostada do lugar onde ele sabe que deveria estar talvez vendo televisão, à sua linda esposa. Aguarda alguns instantes, usa sua chave e entra pela porta da cozinha e pé, ante pé vai até seu armário, recolhe o revolver que ele sabe que ficara guardado ali desde a morte do pai de Jesuína. Tira os sapatos e em silêncio entra no quarto onde sua bela esposa e um jovem garanhão está num frenético embate resfolegando entre suspiros e ais de amor. Acende a luz, aponta o revolver para o casal de pombinhos assustados que começam a implorar para não serem mortos.
Ele com ar sério, diz: - Silêncio só fale se eu mandar e não façam nenhum movimento ou esta arma vai disparar todas as balas do tambor. Bem o garoto teve sua primeira broxada na vida, o seu amigo foi se encolhendo e já queria sair do casulo sozinho, mas um movimento qualquer e as coisas poderiam ficar piores do que estava, por isto ficou quietinho em cima de Jesuína que estava geladinha como uma lápide. Hélio caminhou até a cabeceira da cama pegou o telefone discou para o avô de Jesuína e pediu que ele viesse com a maior urgência até sua casa, a porta estava aberta era só ele entrar. Ficou vendo as lágrimas rolando dos olhos de Jesuína e sabia que eram de verdade.
Foi um desgosto muito grande para o velho senhor Aldo, mas respeitou e fez a neta respeitar a atitude do marido que só pediu o desquite imediato e exigiu a presença do Juiz e seu advogado que ainda foram premiados com a bela cena de sexo... “terminado”, mas ainda ao vivo. O advogado queria que Hélio fosse indenizado e o senhor Aldo aceitou tudo, desde que o caso não saísse dali. Quem recusou foi Hélio, que pediu apenas que o senhor Aldo arcasse com a despesa, “poucas”, do processo de desquite. E foi assim que Jesuína foi marcada para quando no dia de se deparar novamente com suas luzes, ele como um espírito se lembraria de que numa outra vida, ele como homem e se chamando José Pedro Aparecido tirara a vida de duas pessoas por que não soubera perdoar, e nesta vida nova ele cometeu o mesmo crime de que tinha acusado os dois seres que ele tinha matado. No entanto fora perdoado sem nenhum ato de vingança de quem teoricamente teria o direito de fazê-lo. Mas sua vida não acabava aí, ele ainda ficaria muito tempo encarnado como Jesuína e quem sabe aprenderia mais.
“FALTA JUÍZO”
Dois corpos se querendo
Em frenesi e louca paixão,
Olhos vendo e chorando
A maldade duma traição.
E um coração sangrando
Pronto para se arrebentar,
Mas uma vontade férrea
E coragem para perdoar.
Segue seu caminho em paz,
Com a consciência aliviada,
Um espirito puro e iluminado
Tirando as pedras da estrada.
Esperando o dia da partida
Onde ele vai saber os sinais,
Quem sabe possa descansar
E não tenha que voltar mais.