CARTA RASGADA parte I e parte II
APÓS MILHARES DE PESSOAS PEDINDO (na verdade ninguém pediu, só eu mesmo que quero repostar kkkk) DECIDI REPOSTAR MINHA PRIMEIRA SÉRIE *CARTA RASGADA*. Peço a compreensão dos que lerão porque postarei dois capítulos em cada texto (só posso postar 3 por dia) é um pouquinho longo e muitos erros de grafia e tempo verbal surgirão no longo do texto. Eu estava iniciando minha escrita e como estou sem tempo de editar postarei assim mesmo.
Grato pela compreensão.
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CARTA RASGADA
CARTA RASGADA
Durante muito tempo fiquei desempregado só fazendo bicos lá e cá. Mas eu precisava de algo mais estável, que me desse uma garantia melhor de vida (ou pelo menos que eu tivesse a certeza de que não seria mandado embora no primeiro semestre desse ano de 2019, já que eu estava pensando em viajar). Então decidi prestar o concurso público para carteiro. Tome estudo, cara nos livros e horas lendo coisas que não me interessavam, mas pelo menos eu iria aprender coisas novas. A prova seria no final de outubro de 2018. O resultado só chegaria em dezembro. Janeiro seriam as convocações.
Eu sempre fui um cara muito introvertido. Não gosto muito de sair de casa. Pra mim o serviço ideal seria longe de gente. Eu mal conhecia o nome das minhas ruas, e só as chamava pelos apelidos numéricos que os vizinhos davam. “Rua 6”, “Rua 12”, “Rua das Crianças próxima à 15”, etc. Era de poucos amigos, gostava de filmes, livros, jogos online e volta e meia eu escrevia uns poemas. Maluco não é? Mas é minha vida. Nunca dei muita sorte no amor. Namorei só umas 3 vezes, sendo as 2 últimas pra casar, mas durou pouco tempo. O primeiro namoro foi 1 ano. O segundo chegamos a quase noivar em 2 anos. O terceiro já tínhamos marcado até a data de casamento, mas por um desentendimento com algo que até hoje eu não sei, terminamos. Aliás, ela que terminou. Então decidi ficar uns anos “de boa”.
Nunca mais eu tive notícia da minha ex. Não que eu quisesse, mas a curiosidade do antigo relacionamento sempre é grande. Pra saber se já está com outro, se melhor ou pior que eu. A única coisa que eu sei é que ela se mudou e foi morar em outro lugar de São Paulo. Não sou muito adepto a redes sociais, então excluí meu Facebook depois que terminamos. Agora só o whatsapp que utilizo. Eu já não conversava direito com as amigas dela enquanto éramos um casal, ao terminar então aí que me distanciei de vez.
Fui fazer o concurso. Aguardei o resultado. Só tinha 10 vagas. Milagrosamente (ou não) passei! Fiquei em undécimo lugar, mas houve uma desistência de um candidato que não detalharam quem, então a vaga foi minha! Foi uma festa. O problema é que eu agora teria que largar minha vida de sedentário para começar a distribuir correspondência dos outros faça sol ou frio. Ao iniciar nesse novo trampo, me deram uma bolsa e me colocaram numa região bem distante da minha localidade. Dois ônibus até o ponto final de cada um, um trem e mais um ônibus. Uma viagem literalmente.
Comecei a ir de casa em casa entregando as correspondências. Conferia nome, endereço, numero da casa, se o envelope estava em bom estado. Perfeito. Almocei. Voltei a trabalhar. Cheguei na rua Dr. Francisco Filho e era uma rua bem estreita, mas de casas bem arrumadas esteticamente. Não ricas, mas muito belas por sinal. Quando fui conferir uma carta para entregar no endereço... tomei um susto...
Continua...
Eu fui ler o que estava escrito no endereço, até que vi o nome dela: Ana Santos Ferdinando. Nunca imaginava encontrar ela de novo. E agora, além disso, descubro onde ela mora. Isso não me parecia bom porque as lembranças viriam na minha mente como um turbilhão, e trabalhar no final daquele dia depois disso não seria nada fácil. Eu teria que prestar atenção mais do que de costume. E desastrado como sou, com certeza eu confundiria os endereços e números das casas vizinhas e suas correspondências. Infelizmente sofro de uma coisa muito cruel: curiosidade. Eu quis ver sobre o que a carta tratava no envelope. Ela me parecia uma correspondência simples. Decidi (por que eu fiz isso?) saber quem ou de onde era o remetente. Estava escrito:
Rodrigo Silveira Chagas
Rua Sebastião Laudelino Morais, 28ª, Jardim José Mauro
São Paulo - SP
CEP 03812-090
Minhas reações foram diversas. Quem era Rodrigo? Que rua era essa? Onde ficava esse CEP? A minha sorte é que a rua não era muito movimentada, então eu pude ler com cuidado e ficar travado na porta da casa dela por uns 2 minutos. Acabei não fazendo nada. Entreguei a bendita carta e continuei trabalhando. Só que com o coração na mão, é claro.
Volto pra casa depois de várias conduções e ao descer do ponto e atravessar a avenida quase um carro me pega. Não deu nem pra ver que carro era. Senti vontade de xingar, mas o cansaço era tanto que deixei pra lá. Aliás, ele nem iria ouvir o xingamento belo que preparei para ele. Entro em casa. Tomo banho. Quase nada de novo. Janto. Amanha outro dia. Fico mexendo no celular até tarde da noite e nada do sono vir. A emoção foi muita, mas eu não sabia o que fazer. Então fui olhar algumas das minhas poesias que eu tinha escrito pra ela que estavam salvas no meu celular no bloco de notas.
Havia várias. Muitas mesmo. Eu nem sei de onde me vinha tanta inspiração, só sei que namorar, noivar e fazer planos para casar cada vez me deixava mais inspirado. Desde quando terminamos eu parei de escrever. Nem uma linha a mais foi acrescentada a poema nenhum. Então fui ler alguns do tempo do namoro. Achei um por nome de A ESMERALDA. Comecei a ler:
“A joia mais cara
Tão nobre e tão rara
Assim me encara
As esmeraldas do seu olhar.”
Eu viajava tinha hora. Ela nem os olhos verdes tinha, mas era um castanho inconfundível. Essa eu escrevi brincando como se ela tivesse olhos assim. Mas ao mesmo tempo em que não era verde esse olhar, todavia como me hipnotizava aquela forma dela me olhar. Seja com raiva, tristeza, dúvida, amor, desejo... Seja como for. Seu olhar é algo único pra mim. Quer dizer... foi. E mesmo essas poesias que continham ficção ou brincadeiras sobre detalhes físicos dela, elas de uma forma ou de outra acabaram mexendo comigo, de modo que eu fui ler outras. Achei uma por nome de VENTO QUE PASSA NO JARDIM. Essa era bem melosa:
“Assobios, sussurros
Eu ouço um ser me falar
Não o vejo, só o sinto
Seriam fantasmas no ar?
Já tão tarde, tudo escuro
Vejo apenas meu jardim florir
E o vento trouxe a notícia
Que você não está plantada aqui.
De que vale um jardim tão colorido
Se a flor principal é ausente?
O vento soprou em meu jardim
Pra trazer o seu cheiro pra mim
Ele sussurra-me assim:
Guarde sempre essa flor em sua mente.”
Agora lendo e relendo esses textos, vou tentando descobrir uma coisa: como foi que a gente terminou? O que diabos aconteceu para que algo tão profundo, assim do nada, terminasse sem um motivo corretamente explicável? Era tão simples. Mas ela sequer me falou direito o motivo. Aff... mais uma noite tendo que me entupir de jogos para ver se esqueço ela. Lá perto das 3 da madrugada pego no sono.
Acordo, pego minhas coisas e vou pro trabalho. Me designaram para uma outra localidade. Continuo trabalhando. Carta aqui... carta ali. Essa vida de sedentário no ano passado me quebrou, mas estou aos poucos me acostumando. Almoço. Enquanto estava tranquilo, me lembrei dela. Que ódio! Por que eu passei naquela rua? Deus só pode estar brincando comigo. Volto para o trabalho. Eu estava já no fim do expediente, me deparo com um carro semelhante ao carro do pai dela. Lembro como se fosse hoje: Jetta prata, quatro portas. Enquanto estou passando, o carro, com os vidros fumês todos fechados vai em direção a uma rua que dava em um hospital. Por incrível que pareça aquele carro parecia muito com um que quase me atropelou recentemente...
Continua...
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A noite quando cheguei em casa, fiz a mesma coisa de sempre. E dessa vez repeti a dose de ler alguns poemas meus. Eu lembro que quando namorávamos eu sempre escrevia ele no bloco de notas e passava a limpo pra ela numa folha de papel de caderno mesmo. Ela recebeu várias poesias minhas. Mania de quem está apaixonado se sentir um escritor premiado. Achei um por nome NAS SUAS MÃOS:
“Nossas almas se ligaram
Nossas mãos isso confirmam
Nosso olhar se equilibra
Nossas mãos isso confirmam
Nosso corpo se imantou
Nossas mãos isso confirmam
Nada mais é meu
Nada mais é seu
Nossas mãos isso já uniram.”
Até que li outro por nome “E Se...” dando a entender se um dia terminasse nosso relacionamento. Comecei a ler. Terminei com lágrimas nos olhos:
“Qual seria o motivo fútil
Pra tal vínculo comprometer?
Que comportamento, mas que inútil
Me afastaria de você?
É a falta de dinheiro muro
Para entre nós se intrometer?
Ou será um olhar meio escuro
Que o mau humor veio trazer?
A doença, por mais incurável
Não será capaz de deslocar
Meu amor por ti, que é insuperável
Nem a morte poderá o findar
Mas se um dia nós nos separarmos
E eu nunca mais poder te ver
Lembre que as poesias que criamos
Eu as deixarei para você.”
O que me irrita é que realmente tinha uma penca delas na casa dela. Ah velho! Homem é besta.
Fui trabalhar. Ao chegar ao meu posto, me designaram novamente a região onde ficava a rua Dr. Francisco Filho, a rua em que Ana morava. Lá vou eu. E meu coração apertava quanto mais perto eu chegava dessa rua. Algo me dizia que coisa boa não iria acontecer. Estou lá entregando as correspondências, até chegar em sua porta. Carta de quem? Rodrigo Silveira Chagas. Eu olhei e falei: “Não é possível! Quem é esse gota serena?”. Deixei a carta lá. Voltei preocupado. Quem será esse homem? Será algum colega de pós-graduação? Será um amigo? Será um parente distante? Uma instituição de caridade? Ou será que... Não, acho que isso não. Impossível. Aquela menina era retraída demais para terminar um relacionamento e dentro de 6 meses engatar outro. Ela só namorou duas vezes na vida. Então de todas as possibilidades, essa eu descartei.
Descartei uma ova! Cheguei em casa com a cabeça com mais minhoca que horta. Banho. Janta. Computador. Poesias. Achei uma por nome de “A porta”:
“Meu coração rangeu
Quando você passou
Minha porta de sentimentos estava trancada
Sem óleo na fechadura ou verniz na madeira.
A imagem da entrada do meu coração não era a mais convidativa.
Eu nunca fui muito bom com visitas
Sempre tirei o tapete de boas vindas quando eu entrava.
Mas você...
Você não tirou o tapete... me trouxe um
Novo
E agora começava a trocar a fechadura da porta
Não precisou forçar ou arrombar
Você só tocou na maçaneta
Com seu jeito doce e único
E a porta se abriu.
O mais lindo de tudo isso
É que hoje sou alguém diferente
Porém a porta do meu coração continua fechada
A diferença é que você está dentro dele
E eu joguei a chave fora.”
Do nada comecei a ouvir uns barulhos de gato miando alto. Quando vou ver (mania minha de deixar a janela aberta) tinha um gato dentro do meu quarto. Se me assustei? Magina!
Após tirar o dito cujo de lá, fiquei me perguntando de onde surgiu esse intruso. Intruso? Intruso? Isso! Agora me veio na cabeça a maldita comparação. Desse gato com o desconhecido Rodrigo Silveira. Até o nome eu achava meio fresco. Fui dormir.
Noutro dia, me designaram para outra região, próxima onde eu estava da casa da Ana, mas ela não tinha nada pra receber, nem sua família, porém entrei na rua do hospital depois do almoço porque eu tinha que fazer uma entrega lá dentro do hospital. Eu nem sabia o que era e pra quem era. Estava tudo lacrado e eu sequer vi o nome no canhoto.
Ao chegar a recepção, falei que tinha uma encomenda para o doutor...
(Nesse momento, imagine as mais lindas e funestas sensações que eu tive ao ler o bendito nome do cara que era médico de um hospital particular conceituado daquela cidade.)
- Moço, qual o nome do doutor?
- Ah! Desculpa moça. Eeehhh... Dr. Rodrigo Silv... veira Cha... Cha...
- Opa! Boa tarde! Recepcionista, me chamaram aqui porque disseram que deixei o farol do carro ligado. Vou no estacionamento e já volto. – Esse que acabou de descer o elevador e falar com a jovem recepcionista era o dito cujo Rodrigo Silveira Chagas. Alto, atlético, mas não sarado. Cabelos pretos lisos com uma pequena queda na sobrancelha e... malditos e desgracentos olhos verdes e o sorriso perfeito.
- Moço, o médico que desceu é o Dr. Rodrigo.
- Ah sim. Eu posso deixar aqui? Tenho que ir trabalhar...
- Mas moço, o dr. Não precisa assinar o canhoto?
- Canhoto? Que canho... Ah, sim. O canhoto. Já ia me esquecendo.
- Se quiser, passa lá perto do estacionamento. Fica ao lado do ambulatório
- Ok, né. (Estudos apontam que eu estava com receio do que eu iria ver)
Fui até o estacionamento. Ele estava no celular... conversava alto e ria. Tinha cara de quem não sabia o que era comer um pão com ovo de manhã, mas viciado em academia. Então, como eu já estava atrasado e não gostei de ver quem era aquele elemento que enviava já duas cartas para minha ex, fui até ele:
- Moço... quer dizer! Doutor Rodrigo, correto?
- Oh amigo, me perdoe. – desligou o celular e foi falar comigo. Tinha tantos carros que eu nem sabia qual era o dele. – Eu estava esperando isso faz dias. Muito obrigado. Onde assino?
Dei papel, ele assinou.
Me despedi. Ele foi colocar no carro. Então quando ele apertou a chave do carro para destravar, ao meu lado se abre as travas de um Jetta prata quatro portas...
Continua...