CAPÍTULO 05
 
Sexta-feira. Marli adiava o máximo que podia o fim da felicidade do dia anterior. Não ficou presa nos momentos desagradáveis daquele dia. Voltou alegre para casa e não achou a faina pesada.

Chegando a sua casa, tomou suco de abacaxi e procurou logo o chuveiro. Sentada na calçada, ficou esperando Carlinhos passar a qualquer momento. Esperou um bom tempo e ele não passou. Voltou para ver a novela.

Seus pais saíram e ela ficou apenas com a irmã que puxou assunto.

— Hoje a tia Joana esteve aqui em casa.

— Sozinha? — perguntou Marli.

— Sim. Eu perguntei pelo José Roberto e pelo jeito ele te enrolou. Tia Joana disse ele está paquerando uma moça de lá mesmo.

Marli recebeu a informação surpresa. Um nó desceu-lhe pela garganta. Engoliu seco. Recompôs-se logo em seguida lembrando-se de Carlinhos.

O fim de semana chegou e um fato alegrou Marli. Seus pais irão passar o domingo na roça. Vão ficar as duas moças sozinhas. O irmão caçula também vai passear com os pais.

Sábado à noite, pracinha. Era a chance, a grande chance de Carlinhos. Só se Carlinhos não quisesse. Ela sabia que ele não tinha nenhum caso, a não ser que fosse muito secreto. Secreto demais. Ela ainda não tinha digerido bem o golpe dado pelo José Roberto.
Não foi difícil localizá-lo. Ele sempre fica no mesmo lugar com mais dois amigos. Marli sentiu uma tremedeira nas pernas quando ia passando perto dele. Controlou-se. Olhou para ele e sorriu. Sorriso correspondido. Era a senha. Deu mais uma volta para ver no que daria. Deu certo. Ele desacompanhou-se dos amigos e ficou só. Ela aproximou. Deram-se as mãos. Não precisou preocupar-se com Celina. Ela já estava preparada e soube o que fazer.

Daí a alguns instantes parecia existir um mundo único, exclusivo, para Carlinhos e Marli. Beijaram-se, abraçaram-se, beijaram-se, abraçaram-se...
Conversaram um pouco, coisas banais. O que de sincero tinham para revelar um para o outro, não era preciso ser dito. Estava tudo escrito nos olhos como propagandas em um outdoor.

As mãos pequenas de Carlinhos explorou cada detalhe do rosto de Marli e ela conteve-se só com os beijos e abraços. Não tentou nenhuma carícia mais ousada. Deixou a iniciativa para ele que em nada ousou. Talvez tenha sido pelo fato de estarem na pracinha. Foram embora juntos e a única coisa que Marli precisou dizer, pois não coube escrito em seus olhos, foi sobre a ausência dos pais em casa no dia seguinte. Isto é, no dia seguinte também.

Combinaram de se encontrar às duas as tarde, na casa dela.


Domingo, quando Marli acordou os pais já haviam saído. Espreguiçou-se na cama. A irmã havia se levantado. Abraçou o ursinho que ganhou da madrinha quando completou doze anos. Lembrou-se que daí a alguns dias completaria seus quinze.

Encostou o ursinho de pelúcia de lado. Descobriu-se e nem preocupou em vestir-se. Foi para o banheiro trajando o mesmo vestuário que passou a noite dormindo: Apenas uma calcinha creme e um sutiã branco que cobria o par redondo de seios, também brancos.

A irmã mais velha quando a viu, estranhou. Mas logo passado o primeiro impacto, achou normal o que às vezes também fazia.

Depois de escovar seus dentes, banhar o rosto e pentear os cabelos, voltou para o quarto. Colocou a bermuda laranja de cotton e uma camiseta amarela com um surfista fazendo uma acrobacia na estampa e o nome surf em letras vivas. Tomou o café da manhã comodamente e começou a ajudar a irmã nas tarefas cotidianas de uma cozinha que não conhece feriados e nem domingos. Por um bom tempo esqueceu o encontro à tarde.

Só quando estava almoçando é que se lembrou. Olhou para o velho relógio de parede e constatou que faltavam apenas uma hora e meia. Apressou as garfadas e não quis ajudar a irmã na lavagem das louças. Descansou esperando o tempo passar. Cochilou e acabou adormecendo.

Acordou. Foi à sala e dessa vez somente vinte minutos a separava de Carlinhos.

Depois de um banho caprichado e de perfumar-se com uma colônia de aroma agradável, estava pronta e distante apenas dois minutos do rapaz que chamaria pelo seu nome e ela abriria a porta. Diria um oi, uma boa tarde, um não sei lá o que. Diria alguma coisa que não fosse desagradável e cairia bem. Na hora saberia o que dizer. Essas coisas a gente não precisa ficar ensaiando. Não é teatro, ficção. É verdade, a doce verdade em alguns momentos da vida.

Os dois minutos passaram como se fosse dois dias. Agora era realíssima a voz lá fora que chamava por ela. Respondeu um oi que certamente Carlinhos não ouviu do outro lado da porta.

Porta aberta, aperto de mãos e um único sorriso estendido entre as duas bocas. Sentaram-se no sofá e seus olhos se encontraram. Encontraram-se também as mãos e os lábios.

Depois de alguns beijos, Marli sentiu a mão do rapaz, que deixou de acariciar única e exclusivamente o seu rosto, na carne do seu pescoço. A suavidade de suas mãos curvou em direção à nuca. Seus lábios deixaram os lábios dela e ela ficou esperando que ele beijasse sua região auricular. Como ele não a beijou na localidade esperada, ela é que bombardeou o pescoço dele com beijos e toques de língua fazendo o rapaz sentir uma descarga de hormônios dentro de si. Ele não retribuiu esse carinho, provocando certa frustração em Marli. Então ela se aproximou mais dele e jogou-se toda sobre os seu corpo. Os dois quedaram, indo de encontro a uma almofada no canto do sofá.

Como num facho de lua cortando a escuridão, veio à memória de Marli o que dizem a respeito dos peitos peludos. Cautelou-se antes de tomar mais uma iniciativa. Mas havia um forte desejo pedindo para sair de dentro do seu coração. Enfiou suas mãos sob as listras largas nas cores azul e branca alternadas da camisa do rapaz. Seus dedos começaram a passear sobre a relva de pelos negros. Pensava ela consigo:

— Se ele quiser tocar nos meus seios, deixou ou não?Se minha irmã nos flagrar numa carícia mais íntima, o que eu vou falar?

Mas não, ele não quis tocar nos seios dela. Ficou contente só com os beijos e ela no fundo não fazia questão de tal carícia.

Cinco horas da tarde despediram-se em mais um beijo longo e ele foi embora. À noite ela não saiu. Resolveu descansar.

links:
CAPÍTULO 01

CAPÍTULO 06
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 20/05/2019
Reeditado em 29/06/2020
Código do texto: T6652177
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.