Se o meu nome fosse Duda

Os sábios do meu passado, presente e futuro seduzem-me frequentemente a parar com a procrastinação. Adiamento é estupidez - repetem insistentes repletos de espinho - amanhã você estará mais velha e mais cansada! E, mais uma vez anteontem, como ordinariamente, coleto toda a verdade contida nas severas reafirmações. Mas, é exatamente neste e naqueles momentos - enquanto reflito e me transformo - que me retorna a certeza de que só vale a pena serem lidas histórias antigas. Interferidas por centenas de milhares de vidas, que por este ou aquele motivo voltam a se repetir com novas ranhuras, sobre as quais insistentemente corro ao tentar removê-las deste LP de cérebro parte infantil parte adulto. E muitas de minhas recordações estão ligadas à um forte Ele e à uma forte Ela. Repletas de racionalidade e sentimento intercalantes. Tenho me repetido enquanto me transformo há gerações. E fica a questão fundamental: O que é eu?

Algo forte pulsa em mim. Algo tão forte quando minha própria vida. Sinto meu coração pulsar, e penso ''isto sou eu''. Percebo minha respiração entrar e sair, e reafirmo ser eu. Uma pontada no coração ou uma sensação qualquer, e mais uma vez ''eu sou isso''. Tudo o que está no campo do que eu sinto, faz parte de mim.

Mas por que sinto o que eu sinto?

Quando eu durmo, eu sonho, e de todo sonho, acordo. E quando acordo, racionalizo. Se a noite foi boa, desperto de bom humor. Nada externo ainda aconteceu e ainda sorrindo. Se a noite foi ruim, não fico bem. Nada externo aconteceu, e ainda estou estou de mal humor. Ora, como pode ser assim? Os pensamentos desenfreados, produto dos sonhos, mexem comigo. E podem ter surgido de qualquer substância a qual estive em contato em qualquer momento anterior. O subconsciente é enorme! Faz equações por si.

Como então posso controlar o produto dos meus sonhos?

Estou tão apaixonada! Acontece há mais de um ano agora. E esta paixão virou amor. Mas, este amor virou ódio e este ódio voltou a ser paixão. Como objeto tenho a mesma pessoa. Penso nela todos os dias pelo menos um pouco! Me sinto desgraçadamente doente! E, falar sobre isso, dizem os poetas, ajuda. E como disse anteriormente, toda história que vele a pena ser lida é muito antiga e cheia de repetições. Por bem, tenho um prato cheio e não cortarei os detalhes mais sórdidos.

Como toda sinapse que se prese, foi instantâneo. Entreguei-me ao delírio assim que o percebi. Ajo desta mesma forma à tudo o que me seduz. E pela carência, render-me a outro ser vivo, tão belo quanto aquele, era super coerente. E, ainda o é. Em nome da lei mente- matéria, abarrotada ainda de superficialidade, me apaixonei.

Quando algo assim acontece em nossa vida, deve-se tomar muito cuidado entretanto eu me assegurei de esquecer isto. A porta de sentido da minha visão estava tão entusiasmada! Por que não deixar-me levar um pouco?

Sendo o enredo da trama bom, fui correspondida. Éramos duas frutas mais ou menos delicadas, e ao cair, e tornamo-nos uma semente hibrida. Podendo brotar qualquer coisa.

Primeiro, viajamos, já que era importante decidir onde nascer. Naqueles lugares criou-se um ar de bem-aventurança. Não queríamos, de primeiro, formar raízes. Por ali, tocamos em tudo a fim de conhecer.

Depois tratamos de ver filmes, ouvir músicas e ler livros. Naquele ponto, começávamos inconscientemente e nos questionar, ''qual fruta é esta?''. Para terceiro, foi-se ver as plantas mais antigas. O parentesco. Afinal, parecia razoável saber o procedente. E por fim, deixamos a vida diária mostrar o caminho. Interferindo aqui e acolá.

Criou-se agora um produto. Uma relação. Baseada primeiro no produto de sonhos e ilusões criadas. E ao apegar-se a ele, formou-se a matéria hibrida da sementinha.

Ao desenvolvermo-nos meu ego começou a aparecer mais forte, querendo apontar para aquela direção ''mais ao sol''. E, a certeza que eu tinha, provinda do meu próprio instinto de sobrevivência, soava como ''a melhor ideia para direção''. E, como o ego não surge em uma casa só, ambas nossas partes intelectuais começaram a aparecer. Antes, éramos apenas sentimento. Ao passarmos pelo processo de troca de conhecimento em prol da sobrevivência, começamos a racionalizar ''isto é bom, isto não é bom. Funciona, não funciona, etc''.

Foi criado o momento decisivo onde tudo acontece. O florescimento. Ou, a morte da flor. Uso três palavras chaves para esclarece-lo. Sentimento, razão e ego. Sendo respectivamente: energia masculina (ativa) e energia feminina (passiva) e matéria.

Tudo o que nasce, nasce por alguma razão e todos os seres são potencialmente ativos e passivos. E assim, éramos nós. Possuindo uma sementinha provinda da união afetiva, criada pelos apegos sensoriais do passado. Isto é, energia-prima. Feminina. Começa-se então o desenvolvimento. E bate luz. E bate sol. E bate vida. Quer-se desenvolver-se. Existe a vontade. E bate mais luz. Mais sol. Mais vida. Tudo o que entra em contato começa a fazer parte da planta. Ou melhor, do corpo. Ou ainda, do novo ego híbrido. E batem dias. E batem noites. E batem-se conceitos. ''Isto serve, isto não serve.'' E a mente deste ego começa a racionalizar. ''Isto quero, isto não quero.''

No momento em que isso acontece, é importante ter uma ideia em mente: Porque, em primeiro lugar, escolhi essa outra fruta para me metamorfosear?

''Ah, pois seriamos felizes juntas'', ''Ah, porque seriamos lindas juntas'',''Ah, porque ela me lembra alguém a quem eu amo muito...''

Pois bem! Lembre-se do motivo pois agora será o momento de doar-se para que o florescimento ocorra da maneira desejada.

O segredo da planta saudável é o quanto de cada substância necessária que existe nela. As mais altas e belas árvores das mais extensas florestas estão propensas ao clima natural de cada país onde nascem. As plantinhas que vivem em apartamentos e casas estão propensas ao cuidado dos donos. Além disso, todo reino de plantas, estão propensos (e já foi provado) a sensações. Plantas sentem! Dito isso, sabe-se que além do alimento, a vida da planta depende dela sentir-se bem. Agora, o sistema neurológico da planta é muito menor e mais lento que o dos seres humanos.

Eu queria mesmo, unir-me para que eu pudesse ter, no final das contas uma morte tranquila. Ou, um fim de semana tranquilo... Viver sozinha nesse mundo enorme, muitas vezes, deixou-me aflita. Não estar só passa uma certa segurança... e ter companhia é uma distração fantástica. Mas, para tanto, do que eu abriria mão?

''Eu falo do lugar mais ao sol, o lugar mais ao sol...

Ora, mas é possível que ambos fiquemos no sol. Sente-se.

Está bem''.

E e noite vem trazendo nuvens.

''Eu falo sobre o corredor de vento

Ora, pode ficar com o corredor para você

Está bem...''

Eu sou repleta de egoísmos. Egoísmos esses, criados em algum momento do passado, que por alguma razão intelectual pautada na sobrevivência, ainda não dissipou. Mas, não só isso. Tem uma parte em mim que cala e acolhe a mudança. E que sabe, pela ação da impermanência que NADA existe SOZINHO. Sou parte ego (racional) e parte do todo (sentimental). Sou portanto um produto do que penso e racionalizo por meio do contato sensorial direto. Sou pensamento. E matéria em transformação.

As ideias em relação à essa matéria que sou, contidas no pensamento, é que sugerem o que sinto. Dor, prazer, emoção, etc. Algo entra em contato com essa matéria, o pensamento entra em ação e cria uma sensação no corpo. E o ego identifica, como sendo bom ou ruim.

Não posso controlar meus sonhos, mas sim, meus pensamentos em relação a eles. Ao adquirir o conhecimento de que sonhos são ondas que vem do passado e não necessariamente me servem mais. Ondas que vem para ir embora. Portanto, sempre que eu estiver desperta, usarei meus cinco sentidos para usufruir do momento presente. Não me deixarei levar pelo sentimento de apego ao passado ou futuro, sendo esses, abstrações.

A união com todos os seres não é uma escolha. Todos somos frutos híbridos em potencial. O que muda é como encaramos essa relação com o todo. Toda fruta tem a mesma essência e muita água. E durante o ciclo da vida, damos e recebemos incessantemente, a verdade contida em nós mesmos.

Se meu nome fosse Duda, seria do composto Maria Eduarda!

betarzi
Enviado por betarzi em 28/01/2019
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