O diário de Ana Capítulo XII

"No outro dia quando voltei para casa, meu coração estava disparado, queria ver Marcos toda hora que fosse, sentir novamente seu cheiro, seu toque.

E passaram-se dias e eu não avistei Marcos nem pela vidraça das janelas do meu quarto.

Até que passou exatamente três meses e engraçado, ele desapareceu eu comecei a passar muito mal, sentindo fortes dores no corpo, falta de apetite e muito enjoou, foi aí que mamãe me levou ao hospital, chegando lá

fui submetida a fazer vários exames, o resultado? Um choque, eu estava grávida.

Mamãe se lamentava e se perguntava, como isso foi acontecer? Ela me obrigou explicações, e eu não tive

saída, disse-lhe tudo, desde o meu primeiro encontro com Marcos. Chegamos em casa ela não contou nada a papai, ele iria se irritar muito, pensava ela. Até que não deu mais para esconder a barriga e foi um escândalo.

Quando Marcos descobriu que de fato eu estava grávida, se deu por dissimulado e perguntou-me se tinha certeza que o filho era dele. Meu chão desabou, e papai descobriu tudo e foi até a casa de Marcos para exigir as responsabilidades cabíveis, chegando na casa uma surpresa, quem estava lá era o dono, que disse ao meu pai que eles haviam se mudado dali no dia anterior sem dizer pra onde iriam, no caso Marcos e seus pais.

Depois disso meus pais me trancaram no quarto, e até que meu filho nascesse fui obrigada a ficar ali longe de tudo e de todos. Disseram a vizinhança que eu estaria fora por algum tempo para cuidar de uma tia que estava muito doente. Só quem sabia de minha existência além de meus pais era minha amiga Sofia, que com ajuda de mamãe vinha me visitar na ausência de papai.

Foram dias tortuosos pelo fato de saber que quando meu filho nascesse iria ser tirado de mim. Meu pai queria que eu abortasse, mas mamãe convenceu-o de que a criança não tinha culpa e por isso não consentiu tal altitude, concordou sim que a criança logo ao nascer iria para adoção.

Meus pais eram muito reservados e tradicionalistas.

Mas não entendo até hoje como não pude ficar com meu filho, isso é muito injusto com uma mãe, ser impedida de ficar com seu próprio filho.

Então eu gerei um menino lindo, meu filho, meu Deus, saiu de dentro de mim, fiquei anestesiada de emoção e dor, por saber que meu filho iria ser tirado de mim.

Naquele dia o amamentei e jurei para mim mesma que o encontraria em qualquer lugar do mundo, e coloquei uma correntinha em seu pescoço com um pingente de coração, era meu desde quando eu era bebezinha, nisso meus pais entraram no quarto dizendo que já era hora dele partir, meu coração entrou em choque e eu desmaiei, quando acordei meu filho já não estava mais comigo.

E meu pai entrou no quarto abriu a porta, deixou-a aberta e disse-me que eu estava livre.

Na verdade eu me sentia morta, depois desse dia não queria me alimentar, não dormia, só chorava o dia inteiro. Por várias vezes quis cometer suicídio, mas não tive coragem e também porque ainda tinha alguma esperança de que um dia encontraria meu filho.

Hoje será a última vez que escrevo no diário, eu não tenho mais forças para viver, e se tivesse algum pedido a fazer, gostaria de ver meu filho e pedir perdão, por não ter me esforçado o suficiente para ficar com ele."

Patrícia Onofre
Enviado por Patrícia Onofre em 13/01/2019
Reeditado em 04/08/2021
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