AMANDA VII - TEO, VELHO AMIGO IV - PARTE 1

I – TEO, VELHO AMIGO

Amanda pegou o marido pela mão e os dois foram ver as meninas novas.

A AR&MAR era o sonho de Amanda tornado realidade.

Quando se formou em Publicidade em noventa e três, já casada com Marco e com Letícia e Lupe com dois anos de idade, com a ajuda de Rita, adquiriu o prédio de uma antiga loja de departamentos no Morumbi e a transformou num espaço/escola para meninos e meninas que quisessem se tornar modelos fotográficos e de passarela. Ela dava prioridade a crianças da comunidade carente do Morumbi e de comunidades em toda a zona sul, mas recebia qualquer criança que tivesse o mínimo de talento ou vontade de se transformar numa estrela da publicidade de qualquer espécie, de qualquer bairro de São Paulo.

Quando Mariana, irmã de Marco, e os próprios filhos mostraram gostar da coisa e naturalmente acompanhavam Amanda e Marco para a agência, eles se transformaram no símbolo da AR&MAR. O slogan que a agência tinha, estava no outdoor na fachada do prédio.

O cartaz consistia em fotos ampliadas de Amanda e Marco na época em que eram modelos, de Mariana com cinco anos e das crianças ainda bebês em uma foto especialmente feita para esse painel. Na foto os dois, com seis meses, dentro de uma xícara enorme.

Marco até se esqueceu da manhã triste que tinha passado e, sentado ao lado de Bárbara, assistia Amanda orientar as meninas, ensinando-as a como se comportar com graça e elegância numa passarela. Cristina era uma menina negra de sete anos que parecia se destacar entre as demais.

Em determinado momento, Bárbara deu a ele o book da menina, enquanto Amanda determinava uma pausa para o descanso delas e todas se sentaram em colchonetes no chão para tomar um lanche.

Ele olhou todas as fotos e concordou com o gosto da mulher.

- Ela é ainda mais bonita pessoalmente, amor.

- Não falei? - disse Amanda, sorrindo, sentando ao lado dele. – Ela vai ser o rosto do comercial do Itaú. Espero que você não tenha mais que se preocupar.

- Jura?! Eu não aguentava mais discutir com o Heitor por causa disso.

- Já falei por telefone com o superintendente do Itaú. Ele fechou com a gente, está tudo resolvido. Mas disse que a última palavra tem que ser mesmo do Heitor. Disse que se ele não aceitasse a Cristina, podia cancelar o contrato.

Ele pegou a mão dela e a beijou.

- Obrigado. Ele já sabe disso?

- Vai saber na reunião que você vai ter com ele e a mãe da Cristina sabe também que a filha vai receber uma caderneta de poupança do banco, fora o cachê que vamos pagar.

- Ótimo, compensou a minha dor de cabeça.

Pouco antes das seis da tarde, os dois voltaram para casa e, quando o carro entrou e parou na garagem da casa da rua Recanto, Amanda perguntou, passando a mão pelo rosto de Marco:

- Você está bem?

Ele balançou a cabeça confirmando com um sorriso.

- Você não acha melhor tentar conversar com as crianças sobre...

- Não... Não, Amanda. Eu não quero mais falar sobre isso hoje.

- Tudo bem... Mas eu acho que você está errado.

De repente, ele viu pelo retrovisor do carro, outro carro estacionar atrás do dele e sorriu.

- Que é que esse cara está fazendo aqui a essa hora da tarde?

Teo saiu de seu carro e aproximou-se da janela do Escort.

- Vim jantar. Posso?

Marco saiu do carro e o abraçou forte.

- Que foi que aconteceu? A Cleo não deixou você entrar em casa, hoje?

- Claro que não. Senti saudade, calhorda? Não posso?

- É óbvio que pode, sempre. Você é que nunca mais apareceu. Não lembro de ter brigado com você. Só soube que você anda trabalhando demais no meu banco.

Amanda saiu do carro também e deu a volta para ir abraçá-lo.

- Como vai, amigo?

- E aí, minha linda? - ele disse, abraçando Amanda e beijando seu rosto. - Ué! Mas cadê a criançada dessa casa?

- Eles devem estar dormindo, falou Marco. – A Dalva faz os dois dormirem à tarde pra gente poder chegar sossegado e descansar antes de enfrentarmos as ferinhas. A Letícia é tranquila, mas o Lupe dá um baile.

- A quem será que ele puxou? Você era um mosca morta.

- Puxou ao avô, seo Antônio mesmo fala. Vamos entrar.

Eles entraram na casa. Dalva veio da cozinha e cumprimentou Teo.

- Como vai, Teo?

- Tudo bem e a senhora?

- A Cleo e o Arthur estão bem?

- Estão, obrigado.

Amanda colocou a bolsa sobre a estante e disse:

- Fique à vontade, Teo. Senta aí. Eu vou dar uma olhadinha nas crianças e tomar um banho pra ajudar a Dalva com o jantar depois.

- Ok, linda. Faz de conta que a casa é sua.

Amanda riu e afastou-se. Quando passou por Marco, segurou sua mão e lhe deu um longo beijo, indo para o interior da casa. Teo sentou-se e observou:

- É impressão minha ou ela está triste? Ela só não, vocês dois estão meio... apagadinhos. Estou enganado?

- Não... A gente está só meio cansado. O dia foi meio... estranho.

- Vim em má hora? Se vim, eu vou embora...

- Não! Você não vai, não. Parece que você adivinhou. Você tinha que vir hoje.

- Por quê?

Marco sentou ao lado dele e sorriu.

- Porque sim. Eu passei uns bons bocados com o gerente do Itaú da Capela do Socorro essa semana. Nada melhor do que reclamar com o gerente do Itaú de Santo Amaro. Estou certo?

- O Heitor é um cara legal até. O que foi que ele fez?

- O Itaú está fazendo uma campanha de poupança programada para pessoas de baixa renda, que tenham renda menor que mil reais por mês, não é?

- É, começou esse mês.

- Pois é. A AR&MAR ganhou a conta e a gente vai fazer o comercial dessa campanha.

- Legal, e qual foi o babado?

- A gente criou o comercial pra ser estrelado por uma criança, falando das vantagens da poupança e mostrou pro Heitor as fotos de várias crianças com quem a gente trabalha. Cada rostinho mais lindo que o outro. Mas ele não gostou de nenhuma delas. Dava até pra ter a impressão de que ele estava mesmo sendo do contra, queria encher o saco de nós dois. Até que ontem a Amanda descobriu uma garota de uma comunidade do Morumbi que ela adorou. E resolveu gravar o comercial com ela, pra mostrar pro gerente. Uma boneca. Se depender de nós, ela vai estrelar o comercial.

TEO, VELHO AMIGO

PARTE I

DEUS TENHA O CONTROLE DAS NOSSAS VIDAS

e depois dele... NÓS MESMOS.

Vamos fazer o que é certo e bom pra nós e para o próximo.

Velucy
Enviado por Velucy em 06/01/2019
Código do texto: T6544319
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