Uma Rosa para Berlim: Sem ter para onde correr,6

Os tiros continuam e eu começo a chorar olhando para meu pai e minha mãe mortos. Me ajoelho e faço o sinal da cruz em respeito. Soluço de tanto chorar. Colo minha cabeça no peito de minha mãe e choro muito.

- Não vai ficar aí chorando não!- gritou Érika chegando e me levantando à força - tem soldados chegando aí e temos que fugir daqui!

- Aqui é a minha casa!- falo chorando - aqui é meu lar !

- Era!- disse Érika me erguendo à força - vai ter que ser forte, se quiser sobreviver! E temos que sair daqui agora !- e me puxa para a saída.

O quadro é de horror e olho para minha mãe sem vida e depois para o meu pai que está inerte com um tiro na testa. Choro e vem em minha mente o meu pai brincando comigo e minha mãe superprotetora e doce.

Escuto um barulho de veículo e volto para a realidade. Está chegando mais gente e corremos para o fundo da casa, nosso único refúgio. Passo pela porta da cozinha e, ao sair no quintal, vejo vizinhos curiosos olhando que se escondem ao nos verem armadas . Também correm pela chegada de um comboio com soldados bem armados que se espalham pela rua .

- Esqueçam que é noite e vamos trabalhar!- gritou um sargento forte.

Não há tempo para mais nada pois, parece que estão vindo para a casa com reforço total.Então corremos para a rua pois, os militares que ali se encontram acham que estamos na casa ainda. Corremos para a rua . Corremos para perto de uma casa fora da vista deles, casa velha de um judeu abandonada. Tudo escuro mas, é nosso único refugio. Aguardamos até que saem alguns soldados em disparada pela rua a minha procura.

Tudo está escuro. Meu cansaço é aparente e meus olhos querem fechar. Carla, por atirar bem, se coloca na entrada com a arma apontada para os soldados que mais se aproximam . Não atira! Apenas os mantêm na mira.

Há muito barulho de botas, seguidos de tiros. Barulho de avião e minha mente voa: um quarto branco, com uma porta e uma saida. Estou ficando louca ou vejo minha mãe e meu pai me recebendo.

- Desculpe-me filha- disse meu pai parando bem perto. Estou delirando.

-Agora tudo está bem, minha menina- disse minha mãe se aproximando e me abraçando junto com meu pai. Estou ficando louca ou o espírito deles vieram me ver ali. Ou será que fui baleada gravemente e morri ?

Então, parece que minha visão se aclara e vejo tudo e todos, no presente e no passado. Vejo que um capitão da SS entrou na casa de meus pais a minha procura. Vejo que retiram os corpos dali. Estão nos procurando.

O capitão procura por alguém e por mim em todos os cômodos não me achando pois, estou na casa abandonada toda escura e cheia de medo, frio e com sono. Esfrego meus olhos para ficar acordada e então vejo os militares se retirando. Aguardo por cerca de 1 hora e, ao perceber que tudo está em silêncio, me dirijo as espreita e com muito cuidado para minha casa, entrando seguida pelas três amigas . A luz está acesa . Érika dá uma olhadinha na rua vazia antes de entrar.

A casa está um verdadeiro túmulo e me arrepio com tudo isso. Corro para o meu quarto e pego roupas e jogo em um saco verde oliva. Pego um par de botas de cano alto e um par de botas cano normal. Pego as chaves que estão em meu bolso e leio o que está escrito no papel junto a chave COFRE.. Karoline está a meu lado e apenas me observa .Então corro para o quarto de meus pais e me arrepio toda. Então crio coragem e abro o cofre e vejo que há dinheiro o suficiente para algum tempo. Carla chega e ajuda a pegar o dinheiro. Agimos em silêncio para não chamar atenção de ninguém.Ouço tiros na rua. Saímos correndo do quarto e vamos pra a sala . Paramos e olhando pela janela , vemos pessoas se escondendo na velha casa e soldados cercando tudo. Ficamos atrás da janela vendo tudo e vejo que os soldados não perceberam a manobra do grupo. Aguardo um pouco e me dirijo para junto deles. Minhas amigas não vão. Preferem me dar cobertura. Entro na casa toda escura e ouço algum gemido. Ao perceberem que foram encontrados, vejo , embora escuro, que ficam apavorados. Ergo os braços mostrando que sou de paz .

- Fiquem tranquilos que também estou em fuga. Tem três amigas comigo.

- Como em fuga se você é uma schaffer Kohl?- perguntou uma moça loira e alta ao lado de um rapaz - Seu pai é membro da Gestapo ! E seus tios são militares? Está louca, Nina ?

Olho para a moça e a reconheço: parente de Klaus. Fico triste e falo :

- Ruth! - corro para abraçá-la - mataram Klaus e meus pais...

- Como assim, Nina? - perguntou Ruth assustada .

- Sempre tive admiração por Klaus e Rudolf não gostou disso.

-Como saiu ilesa? Se ele fez isso com Klaus...

-Tive que lutar muito. Minhas amigas me ajudaram e Matei vários deles e estou sendo procurada por isso. Minhas amigas me ajudaram muito.

-O que fará agora ?- perguntou Ruth me afagando - e suas amigas ?

- Estão escondidas ...- me viro e vou para fora e aceno para elas .

- Vamos fugir com vocês. - falo olhando para todos os lados.

- Nós tentaremos chegar na França.- disse Ruth se aproximando.

-Por quê fogem ? - perguntei olhando para Ruth.

- As coisas estão ficando esquisitas na Alemanha! Alguns desse grupo são ativistas políticos e podem ser presos. Outros são Judeus como eu e outros são párias da sociedade. Tentaremos a França .

- Poderão ter problemas por lá! Há uma certa beligerância entre nós e eles e a Alemanha está de olho na fronteira .

- Então para onde vamos.? - perguntou Ruth com ar sério.

- Holanda, talvez ! - falo vendo Érika chegar -essa é Érika! A que está vindo atrás é Karoline...a que vem por último é Carla!

- Como vamos ? - perguntou um rapaz ao lado dela - Não temos dinheiro para tal viagem. E a vida na Holanda me parece mais cara !

- Eu tenho- Falo mostrando um pacote - isso é o suficiente.

- E você emprestaria ele para as passagens? - perguntou Ruth estendendo a mão - não saberia como devolver esse dinheiro, amiga !

- À partir de agora nós dependeremos um do outro.- disse Érika olhando para todos - Temos que nos unir, sé quisermos sobreviver!

Ruth se aproxima e me dá um abraço bem forte. Depois olhando para todos os presentes - É madrugada e partiremos amanhã de manhã.

- Camilla Zonzini ?! - disse Karoline espantada vendo na claridade de uma

lâmpada, uma pequena mulher de uns 18 amos -o quê faz aqui ?

- Estamos começando a ser perseguidas em nome do puritanismo!

- Se conhecem? - perguntou Érika olhando a moça de 1,55 metro de altura e de cabelos castanhos claros. A pele amorenada .

- Trabalho! - sorri meio sem graça - trabalhava na noite!

Camila se aproxima da pequena e a abraça fortemente.

- Prazer em revê-la, Camilla!- e se abraçam fortemente.

-É melhor descansarmos para termos fôlego amanhã - disse um senhor.

E assim nos acomodamos na velha casa e montamos escala para ter sempre alguém vigilante. E eu fico chorando na calada da noite enquanto todos dormem. E Ruth afaga minha cabeça.