AMANDA VI - E AGORA, JOSÉ? II - PARTE 2

II – E AGORA, JOSÉ?

Rita começou a contar desde o início tudo que havia acontecido em seu apartamento naquele março de oitenta e nove. Procurou não se esquecer de nenhum detalhe: de como Marco havia chegado ao apartamento, muito confuso e carente, do envolvimento dos dois, tão surpreendente, que ela mesma não tinha nem ideia que pudesse acontecer, do telefonema dado a Antônio, dizendo que Marco dormiria ali, do telefonema dele mesmo, José, que havia ligado para ela convidando para jantar fora e ela havia recusado.

Rita contou tudo sem nenhum constrangimento e José só ouviu, com a tranquilidade que lhe era peculiar, mas por dentro ele morria de ciúme. Apoiou os braços nos joelhos e ouviu tudo sem interromper.

- E foi isso, Rita terminou. – Foi uma única vez e nunca mais aconteceu. Eu te dou a minha palavra de que nunca mais aconteceu. O Marco ama sua filha demais, sempre amou. Foi pra protegê-la que ele me pediu ajuda. Você, como homem, deve entender a situação dele na época. A pressão que ele sofria vinda do pai, de você e dele mesmo não o permitiam agir de outra forma e ele procurou minha ajuda... e eu ajudei... pra proteger a Amanda.

José levantou-se e foi para perto da estante. Ficou olhando para a foto da filha no porta-retratos, pensativo.

- A Amanda sabe disso?

- Sabe.

- Desde quando?

- O Roni ameaçou contar pra ela dois meses depois do casamento deles e o Marco contou tudo. Ele foi chantageado também e não aguentou continuar escondendo dela. Contou tudo.

- E ela o perdoou...

- Eles estão casados até hoje, não estão?

- E por que ela não me disse nada?

- Pra não te magoar. Ela não sabia como você reagiria.

- Se ela foi capaz de perdoar o Marco, por que achou que eu não faria a mesma coisa?

- E você faria?

- Agora eu não sei mais... Se ele contou pra ela, foi corajoso a ponto de fazer isso, com o risco de se separar da minha filha... por que você não fez o mesmo?

José se voltou para ela e esperou.

- Por que você não me contou, Rita?

- Amor, eu... Isso não era mais importante pra mim. Eu não me arrependo de nada do que eu fiz e não achei que contar pra você fosse tão relevante...

- Não era relevante... Eu sempre soube que o Marco amava demais a Amanda de um jeito que... nem eu conseguia entender. O que ele fez... Contar isso pra ela... provou que isso era verdade. Mas o que você sentia de verdade por mim?

- Não sentia, eu sinto, José! Eu te amo!

Rita se aproximou dele e olhou em seus olhos.

- Você não pode desconfiar disso, não agora, não por isso!

Ela apoiou a cabeça em seu peito e o abraçou. José demorou uns segundos, mas a envolveu num abraço também, fechando os olhos.

- O que esse rapaz tem de tão grave contra você a ponto... de querer desestabilizar nossa família assim, Rita?

- Não é contra mim só e contra nossa família. Ele nunca teve o que a gente tem, juntos, e isso o deixa cheio e inveja e despeito. É só isso... Roni Lemos é só um garoto imaturo, José. Ele não mede os próprios atos.

- E por que você ainda o mantém na RR, depois de tudo que ele já fez?

Rita demorou um pouco a responder.

- Porque... eu sou empresária, José. Ele é um rosto conhecido e solicitado por muitos empresários com quem nós temos conta. Eu não posso simplesmente mandá-lo embora por motivos pessoais...

- Motivos pessoais... Seus motivos pessoais ou motivos pessoais da sua família? Se essa... Se esse segredinho que ele tem sobre você vaza pela nossa família... Você tem ideia do que pode acontecer?

- Tenho... mas isso não vai acontecer. Só quem sabe disso é o Marco, a Amanda, eu e... você agora.

- Eu fui o último a saber, das partes interessadas... se é que eu sou parte interessada. Eu sou só seu marido. Não devo ter tanta importância...

- Claro que tem, amor! Só que... eu pensei que isso já estivesse se esgotado quando a Amanda e o Marco se entenderam. Não pensei que ele fosse chegar a tanto!

- Mas chegou. Quem faz uma vez, não para tão fácil, se alguém não o parar antes e você deu todas as condições pra ele continuar. Você paga ele pra continuar olhando pra você e pro Marco e continuar maquinando a próxima investida.

- Não!

José se afastou dela e pegou a chave do carro sobre a estante.

- Aonde você vai?

- Vou correr um pouco... O dia está lindo demais pra ficar dentro de casa.

- E por que vai levar o carro?

Ele chegou perto da porta e com a mão na maçaneta, respondeu:

- Eu preciso pensar e quero ir pra longe daqui um pouco. Vou até o Ibirapuera, deixo o carro no estacionamento e vou correr um pouco por lá.

- Conversa comigo sobre isso primeiro, José. Não vamos ficar com esse assunto pendente assim?

- Não tem nada pendente ou melhor... esse assunto está pendente há dois anos, só eu estava por fora dele. Você tem que me dar o direito de digerir isso.

- Você tem todo direito... Só não esquece que eu te amo.

José não disse nada e saiu. Rita colocou as mãos no rosto e se sentou no sofá, recusando-se a começar a chorar. Ela não tinha como hábito se render a um problema, nem se dar como vencida, ainda mais quando já estava acostumada a lidar com ele e Roni já era problema antigo, com quem ela estava familiarizada. Levantou-se e foi tomar um banho rápido. Pegou a carta e o envelope que estavam ainda em cima da mesa e saiu em seguida.

E AGORA, JOSÉ?

PARTE II

UM NATAL DE GRATIDÃO... E PERDÃO... A TODOS!

CRIATIVIDADE!

OBRIGADA!

FELIZ NATAL!

Velucy
Enviado por Velucy em 25/12/2018
Código do texto: T6535002
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